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20/11/2012 - 21h49

Cachoeira é protagonista de esquema de corrupção; saiba mais

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DE SÃO PAULO

O empresário Carlos Augusto Ramos, o Cachoeira, é o principal personagem de um esquema de corrupção que resultou na cassação de um senador e na criação de uma CPI no Congresso.

Cachoeira, 49, herdou de seu pai as atividades no jogo do bicho. Ainda criança, ele o ajudava a recolher as apostas em sua cidade natal, Anápolis (GO). O empresário ficou conhecido em 2004 após divulgação de vídeo que o flagrou oferecendo propina a Waldomiro Diniz, ex-assessor de José Dirceu. O caso foi o primeiro escândalo de corrupção do governo Lula.

Condenado por fraude, Cachoeira será solto após nove meses
Relator da CPI do Cachoeira pede indiciamento de Perillo

Evaristo Sá-22.mai.2012/France Presse
Carlinhos Cachoeira em depoimento na CPI
Carlinhos Cachoeira em depoimento na CPI

Ele voltou aos holofotes ao ser preso em fevereiro deste ano durante a operação Monte Carlo, da Polícia Federal --situação em que se encontra desde então. A operação desarticulou organização que explorava máquinas de caça-níqueis no Estado de Goiás. Entre os servidores públicos envolvidos estavam dois policiais federais, um policial rodoviário federal e um servidor da Justiça estadual goiana. Todos recebiam propina mensal ou semanal para trabalhar em prol da organização.

Três anos antes a PF já havia deflagrado a operação Vegas, que precedeu e baseou a Monte Carlo. Ela também investigava Cachoeira e resvalou em suas ligações com políticos com foro privilegiado. Já a Monte Carlo baseou uma terceira operação, a Saint Michel, cujo desdobramento resultou na condenação do empresário nesta terça-feira (20) a pena de cinco anos em regime semiaberto.

Segundo as investigações da PF e do Ministério Público, Cachoeira tinha pessoas de sua confiança em postos-chave dos governos de Goiás e do Distrito Federal, além de influência em órgãos federais, como a Anvisa.

Escutas telefônicas da PF mostraram ainda que o empresário tinha influência sobre políticos que defendiam os interesses de seu grupo no Congresso e nos governos estaduais. A relação que mais ganhou destaque foi a com Demóstenes Torres (GO). Então senador pelo DEM, ele foi expulso do partido e teve o cargo cassado.

As investigações sugeriram também que o grupo trabalhou para defender interesses da construtora Delta --que, por sua vez, repassava dinheiro para uma rede de empresas de fachada de Cachoeira que movimentavam milhões de reais. A Delta era até então a empresa que mais recebia verbas do Orçamento do Executivo federal desde 2007.

As investigações fizeram com que ela fosse declarada inidônea pelo governo, ou seja, não pode mais ser contratada por órgãos públicos. Por isso a construtora entrou com um pedido de recuperação judicial em agosto.

CPI

Na esteira das investigações, o Congresso decidiu em abril criar uma CPI para investigar a ligação de Cachoeira com políticos e empresas privadas.

O relator da CPI, o deputado Odair Cunha (PT-MG), deve entregar o relatório final amanhã (22). Ele pretende pedir o indiciamento do governador Marconi Perillo (PSDB-GO) por suas relações com Cachoeira.

Segundo integrantes da CPI com acesso ao texto preliminar, "há provas contundentes" de envolvimento, evidenciadas pela compra de uma casa do tucano por Cachoeira e por nomeações de aliados do empresário em Goiás.

O pedido de indiciamento cumpre um roteiro traçado pelo PT desde o início da CPI. À época, aliados de Perillo reclamaram que o tucano se transformara em alvo no ano do julgamento do mensalão por vingança. Ele sustenta que, em 2005, avisou o então presidente Lula sobre a compra de votos.

O relator também pedirá o indiciamento do deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) por sete crimes: lavagem de dinheiro, corrupção passiva, advocacia administrativa, tráfico de influência, formação de quadrilha, violação do sigilo funcional e crime contra a ordem tributária.

Outros dois governadores também estiveram envolvidos em denúncias relacionadas ao empresário e à Delta: Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Agnelo Queiroz (PT-DF). O relatório final da CPI não deverá citá-los. Porém, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) investiga Agnelo e Perillo desde agosto.

SOLTURA

Como resultado da operação Saint Michel, que investigou tentativas de fraudes no sistema de bilhetagem do transporte público do Distrito Federal, Cachoeira foi condenado nesta terça a cinco anos de prisão em regime semiaberto.

A juíza Ana Cláudia de Oliveira, da Quinta Vara Criminal, condenou o empresário a dois anos de reclusão por formação de quadrilha e a três anos por tráfico de influência, além de 50 dias multa.

Segundo o Código Penal, a pena em regime semiaberto deve ser cumprida em uma colônia penal, mas também permite que o condenado durma na colônia e trabalhe ou estude fora em cursos de segundo grau ou superior. Se não houver colônia onde o réu vive, ele pode migrar para o regime aberto. Nele o condenado teria de dormir em albergues --que também são raros e lotados no Brasil. Na prática, o condenado recebe a liberdade condicional: fica livre (mas sem direitos políticos ou possibilidade de viajar), tendo de se apresentar regularmente à Justiça.

Em outubro, Cachoeira já havia obtido um habeas corpus relativo à prisão preventiva pela operação Monte Carlo. O Tribunal Regional Federal deve julgar nesta semana um pedido da defesa para que ele espere pelo julgamento em liberdade.

A principal alegação da defesa do empresário é que os grampos telefônicos que baseiam as investigações são ilegais, pois envolvem políticos com foro privilegiado --só o STF poderia liberar as interceptações.

 

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