Família imperial se divide em disputa pelo direito ao "trono" brasileiro
Quando dom João desembarcou no Brasil, em 1808, todo o prestígio da família real foi emprestado ao país. O então príncipe regente nem poderia imaginar que, 200 anos depois, sua linhagem se engalfinharia em uma disputa por um trono inexistente --que existiria somente com o retorno da monarquia.
A briga familiar começou cedo. Para desgosto da princesa Isabel, d. Pedro de Alcântara de Orleans e Bragança, o primogênito de seus três filhos, renunciou, em 1908, ao trono brasileiro para se casar com a condessa Isabel Dobrzensky, considerada de nobreza menor.
"Ele assinou um documento em cartório abrindo mão do direito em favor do irmão d. Luís de Orleans e Bragança", diz o historiador Milton Teixeira.
Hoje é de d. Luiz Gastão de Orleans e Bragança, 69, --neto de d. Luís-- o título de Chefe da Casa Imperial Brasileira, o que faz dele o herdeiro da coroa.
Tudo estaria resolvido se d. Pedro Gastão, filho de d. Pedro Alcântara, não decidisse questionar a validade da renúncia do pai depois de sua morte. Para ele, a decisão paterna não se estenderia aos filhos, o que o faria dele o verdadeiro Chefe da Casa Imperial.
A picuinha dividiu a família. O ramo de Petrópolis ficou ao lado de d. Pedro Gastão, enquanto os familiares que vivem na cidade de Vassouras é partidária d. Luiz.
Essa rivalidade teve uma trégua em dezembro de 2007 com a morte de d. Pedro Gastão, aos 94 anos. Se a disputa continuar, d. Pedro Carlos de Orleans e Bragança e Bourbon, 62, poderia reivindicar direito ao trono brasileiro como filho de d. Pedro Gastão.
Príncipe republicano
Longe da briga está o "monarquista republicano" d. João de Orleans e Bragança, 53, neto de d. Pedro de Alcântara. "Sou republicano como as monarquias européias, que defendem ideais como imprensa livre, parlamento e democracia."
Ele vive entre o Rio de Janeiro e Paraty, onde tem uma pousada arrendada. "Sou fotógrafo e trabalho na área de imobiliária turística em Paraty."
Dom João acompanha o racha familiar lembrando de outra polêmica. É que d. Luiz é membro da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição Família e Propriedade). "Esse fato impede que d. Luiz assuma o trono porque um monarca precisa ser apartidário, e a TFP defende ideologias políticas radicais", afirma d. João. "Nos países em que há monarquia parlamentarista, essa determinação é constitucional", diz.
Para D. Luiz, essa discussão é coisa do passado. "No Brasil inteiro eu sou reconhecido como chefe da Casa e herdeiro dinástico. Esse é um problema familiar que eu preferia não comentar", diz.
Com o herdeiro oficial sendo questionado e seu principal opositor morto, a disputa pelo trono virtual só ficou mais melancólica. "É uma briga meio burra porque não existe trono nenhum. E eles nem podem ser chamados de príncipes", diz o historiador.
Ele explica que são príncipes apenas os filhos e netos de rei. "No Brasil qualquer bebê com Bragança no nome é chamado de príncipe", conclui Teixeira.
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