Irmão de PC Farias reafirma inocência de ex-seguranças e crítica delegados
O ex-deputado federal Augusto Farias, irmão de Paulo César Farias, reafirmou diante do juiz que os quatro ex-seguranças acusados de envolvimento na morte do empresário e da namorada dele são inocentes.
No depoimento, ele também voltou a dizer que dois delegados tentaram "negociar" seu indiciamento.
Terceira pessoa a ser ouvida nesta terça-feira (7), Augusto foi repreendido pelo juiz Maurício Breda ao defender os ex-seguranças Adeildo dos Santos, Reinaldo de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva, neste segundo dia de julgamento.
"Eu não estou perguntando ao senhor sobre a inocência dos réus. Eles têm advogado. Peço que o senhor responda às perguntas", disse Breda.
A defesa dos réus está sendo financiada por Augusto. Um dos ex-seguranças, Reinaldo, ainda trabalha para Augusto Farias.
Para a Promotoria, os policiais militares que faziam a segurança de PC Farias foram no mínimo omissos por não impedirem a morte do ex-tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor de Mello.
PC Farias e Suzana Marcolino, namorada dele, foram encontrados mortos no quarto do casal, na casa de praia, em 23 de junho de 1996.
DELEGADOS
Diante do juiz, Augusto Farias repetiu a acusação feita ontem a jornalistas contra Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade, dois dos delegados que atuaram no inquérito.
"Em certo momento eles disseram 'nós temos uma fórmula de não pedir o seu indiciamento'", afirmou Augusto. "'Você entrega os seguranças e nós não pediremos o seu indiciamento'", disse o ex-deputado.
Ele diz ter negado o acordo e os delegados indiciaram Augusto como suposto mandante do crime. Como tinha foro privilegiado à época por ser deputado, o inquérito foi parar no STF (Supremo Tribunal Federal) e foi arquivado por falta de provas, em 2002.
Augusto Farias disse acreditar que seu indiciamento teve motivação política, já que seria candidato a prefeito de Maceió naquele ano.
"Como é que eles iam pedir o meu indiciamento sem ter uma prova sequer contra mim?", questionou o ex-deputado.
Lessa disse à Folha que tem um "pacto" com Andrade para não comentar mais o assunto.
CRÍTICAS
Augusto Farias fez críticas a Elma Farias, ex-mulher de PC Farias, morta em 1994, e a irmã dela, Eônia Pereira Bezerra.
Em 1999, Eônia prestou um depoimento sigiloso à Polícia Civil e ao Ministério Público de Alagoas que reforçava a suspeita policial de que Augusto teria participação nas mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino.
Durante o julgamento, Augusto chegou a se referir a Eônia como "psicopata", mas depois pediu para retirar o termo.
"Ela herdou o ódio que a irmã tinha de mim", disse Augusto Farias.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
INVESTIGAÇÃO
Durante o depoimento ao juiz, Augusto também disse que após o crime soube que PC Farias contratou um detetive para investigar uma suposta traição de Suzana Marcolino em São Paulo.
Na fase do inquérito do caso, especulava-se que fora Augusto quem havia contratado um investigador para seguir a namorada do irmão na capital paulista, porque queria comprovar a PC a suposta traição. Ele não aprovava o relacionamento de PC Farias e Suzana.
O ex-deputado afirmou que o irmão morreu sabendo que a namorada o traia com um dentista. No julgamento nesta terça (7), Augusto disse que não havia dito antes que fora PC quem contratara o detetive porque não havia sido questionado a respeito.
Augusto Farias também admitiu ser dono da empresa de segurança Tigre Vigilância, o que negou por muito tempo.
AMEAÇAS
A advogada Milane Maia de Souza Valente, ex-namorada de Augusto, já prestou depoimento.
Ela disse que não viu os seguranças acusados de envolvimento na morte de Farias durante o jantar na casa de praia do empresário. Ela ainda acusou o ex-namorado de patrocinar a defesa dos réus e disse já ter sido ameaçada por telefone.
1º DIA
Na segunda-feira, primeiro dia de julgamento, prestaram depoimento Leonino Carvalho, caseiro da casa de praia, e Genival da Silva França, que trabalhava como garçom no local.
Leonino disse ter recebido ordens do ex-sargento da PM e ex-chefe da segurança de PC Farias, Flávio Almeida, para queimar o colchão onde os corpos foram encontrados, o que acabou alterando a cena do crime.
Genival disse que Almeida deu a ordem após autorização do primeiro delegado do caso, Cícero Torres.
Torres foi afastado do caso depois que o laudo utilizado por ele para embasar a tese de crime passional foi invalidado.
A Promotoria descarta a tese de que Suzana tenha matado PC e depois se suicidado, como é sustentado pela defesa dos réus. A acusação afirma que o caso foi um crime de mando, mas nunca chegou a um mandante nem às possíveis motivações.
O CASO
Segundo a Promotoria, a morte de PC foi investigada como "queima de arquivo", pois ele era acusado de sonegação de impostos e enriquecimento ilícito e poderia revelar outros envolvidos.
O promotor Marcos Mousinho diz que a tese de que Suzana havia matado PC e depois se suicidado foi descartada pelos peritos.
O Ministério Público afirma que o caso foi um crime de mando, mas nunca chegou a uma conclusão sobre o mandante.
O advogado dos ex-seguranças, José Fragoso Cavalcanti, diz que provará no júri que Suzana matou PC Farias e se matou. Cavalcanti também defendeu Augusto Farias. (DANIEL CARVALHO)
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