Análise: Globo pautou sua cobertura pelo equilíbrio, ou talvez medo
Vinte e cinco anos depois, ao que parece, o debate na TV Globo foi novamente um dos pontos de inflexão na intenção de voto -quando o candidato do PT, antes Luiz Inácio Lula da Silva, agora Dilma Rousseff, parou de crescer, revertendo a tendência.
Mais de metade dos eleitores teriam visto o programa na sexta-feira (24), inclusive a pergunta inicial de Aécio Neves (PSDB) para Dilma, sobre a capa da revista "Veja" com a denúncia de que Lula e ela sabiam dos desvios na Petrobras.
Não que a Globo possa ser creditada, desta vez. Pelo contrário, a capa saiu via internet na noite da quinta-feira (23), e a emissora atravessou a sexta, no telejornal da tarde e depois no "Jornal Nacional", sem tocar no assunto, olimpicamente.
O programa eleitoral de Dilma, no início da tarde de sexta, já havia levado ao ar uma resposta desproporcional -aliás, em contraste com o de Aécio, que só foi tocar na denúncia à noite e com relativa brevidade.
Apesar da descontrolada reação da propaganda petista e com os sites jornalísticos em peso abordando a denúncia, inclusive os mais favoráveis ao governo, para questioná-la, o "Jornal Nacional" se manteve irremovível.
O que mudou de vez o quadro, inclusive para a Globo e o "JN", foi o que aconteceu, não no debate, mas durante sua transmissão, com a pichação das paredes da Abril, que edita a revista, por um grupo de militantes.
E o tom da cobertura não poderia ter sido mais agressivo. A partir do telejornal da tarde de sábado, a maior rede do país -ainda que com uma fração da audiência que detinha em 1989- passou a ecoar a denúncia.
O que foi descrito seguidamente como ataque à editora por um grupo "que apoia a reeleição de Dilma" serviu então de sustentação para reproduzir afinal a denúncia, tanto visualmente como em narração de uma repórter:
"Segundo a 'Veja', durante interrogatório na Polícia Federal, o doleiro Alberto Youssef, perguntado sobre o nível de comprometimento de autoridades no esquema de corrupção na Petrobras, afirmou que o Planalto sabia de tudo. 'Mas quem no Planalto?', perguntou o delegado. 'Lula e Dilma', respondeu."
Na escalada de manchetes do "JN", Patrícia Poeta leu, sobre imagens das pichações: "Depois da publicação de uma reportagem sobre corrupção na Petrobras, um grupo de 200 pessoas ataca o prédio da Editora Abril".
Mas a Globo mudou e não só na audiência. A manchete evitou citar Dilma e, antes de chegar à denúncia da revista, mais para o final do telejornal, deu longas reportagens simpáticas à presidente e ao adversário, do cotidiano de campanha.
E não, desta vez, como aliás se tornou regra para a emissora devido à repercussão dos desvios de 1989, não houve edição do debate, nem no programa da tarde, nem no da noite, para evitar maiores transtornos.
Sua palavra-guia na cobertura foi equilíbrio -ou talvez medo.
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