Protestos foram produzidos e segmentados, afirma Jaques Wagner
Após reunião com a presidente Dilma Rousseff, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, disse que as manifestações de domingo (13) foram "expressivas", mas fez questão de ressalvar que tiveram público segmentado e que, em parte, foram produzidas por entidades empresariais e comerciais.
O ministro lembrou que a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e a rede de restaurante Habib's fizeram questão de fazer convocações para o protesto em São Paulo, que tornou-se a maior manifestação política da história da capital paulista. Segundo ele, diferente das Diretas Já, os protestos de domingo não foram espontâneos.
"Sem desmerecer a manifestação, mas não me venha falar em espontaneidade. Nunca tivemos um protesto tão produzido, pelo menos no grande centro de São Paulo", disse. "Foi uma manifestação grande, mas foi segmentada", acrescentou o ministro, citando pesquisa Datafolha segundo a qual o público do protesto na capital paulista teve em sua maioria perfil de alta renda.
O petista reconheceu, no entanto, que o poder de mobilização das manifestações "dá mais responsabilidade para quem está na condução do país" e observou que o clima político só vai melhorar para a presidente quando "mudar o humor" das pessoas em relação à economia.
"Não tem outro caminho. O bom ou mau humor das pessoas tem a ver com o bom ou mau humor da economia", disse.
Segundo ele, o governo federal terá de atacar em duas frentes. Na política, intensificando as articulações políticas com os partidos da base aliada para evitar a aprovação do pedido de abertura de impeachment da presidente. E na economia, buscando uma recuperação, mas adiantou que não há mágica a ser feita nesta área.
O petista ressaltou que as duas frentes serão conduzidas pela equipe econômica: dar fôlego aos Estados para investir com a renegociação das dívidas estaduais e tentar liberar recursos para obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Em reunião de coordenação política, nesta segunda-feira (14), a presidente pediu aos ministros que acelerem também o anúncio de iniciativas da pasta, como o Minha Casa, Minha Vida 3, em uma tentativa de impor uma agenda positiva diante do agravamento da crise política.
PERIGO
Durante a entrevista à imprensa, concedida para fazer um balanço dos protestos de domingo, o ministro reconheceu que "não dá para banalizar" o instrumento democrático do impeachment.
"A gente está arriscando a democracia", afirmou, dizendo que "impeachment não é remédio nem para arrumar a economia nem para tirar uma presidente por causa de impopularidade".
Segundo ele, o fato de dirigentes de oposição terem sido hostilizados no protesto preocupa o governo federal e "acende a luz amarela" para toda classe política. Em sua avaliação, a negação da política é "altamente perigosa" e pode gerar a "criminalização da política".
"Pelo andar da carruagem, nós estamos nos preparando para um salvador da pátria. Como não acredito nele, acho que estamos nos preparando para a criminalização da política", disse.
Para ele, "o rei da festa" foi o juiz Sergio Moro, o qual, segundo o petista, "está quase chegando a seu objetivo que é criminalizar a política". Depois, tentou corrigir a afirmação, dizendo que a criminalização é "consequência" do processo.
LULA
O ministro disse que a possibilidade de entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo federal é "concreta" e "real". Ele ponderou, contudo, que a decisão depende apenas do petista.
"Se Lula vier, ele vai seguramente cuidar do que mais conhece, que é política", disse. "Vai depender da cabeça dele (decisão), mas todo mundo quer que ele venha", acrescentou.
Segundo o ministro, antes de tomar uma decisão, o petista aguarda decisão da Justiça de São Paulo sobre pedido de prisão preventiva apresentado pelo Ministério Público. O objetivo é não passar a impressão de que ele aceitaria o cargo para ter foro privilegiado.
"Ele não vai fugir da Justiça de São Paulo. É claro que não é interessante essa motivação. Ele prefere ficar com sua história", disse.
O ministro disse ainda que "tem gente babando sangue" na busca de atingir o petista. "O Lula virou um troféu", afirmou, acrescentando que ele não fez nada além do que outros ex-presidentes fazem, que é defender as empresas nacionais no exterior.
Questionado sobre a possibilidade de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), buscar acelerar o rito do impeachment, Wagner aproveitou para criticar o peemedebista.
"Ele deve estar com pressa para ver se sai de cena", disse, acrescentando que "tudo o que ele quer" é fazer com que a presidente "vá antes dele".
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