Em debate, nomes da esquerda defendem reformulação política
Fabio Braga/Folhapress | ||
Da esq. à dir., Tarso Genro (PT-RS), Fernando Canzian, Breno Altman e Vladimir Safatle |
Com o enfraquecimento do PT, forças políticas de esquerda precisam repensar o modo de atuação no país para além do partido, afirmaram participantes de um debate promovido pela Folha nesta segunda-feira (28), em São Paulo.
Dois dos três debatedores do encontro, que tinha o tema "Para onde vai a esquerda no Brasil?", defenderam a articulação política de uma frente de variados partidos desse espectro.
Um dos participantes, o ex-governador gaúcho Tarso Genro (PT), disse que o modelo tradicional dos partidos políticos está "falido" e não consegue mais atingir todos os campos de uma sociedade bastante fragmentada.
"A nossa proposta de esquerda daqui para adiante é compor uma frente política nova e fazer dessa frente política um instrumento de aglutinação, que dê estabilidade e governabilidade dentro da democracia."
Para o jornalista Breno Altman, responsável pelo site "Opera Mundi", o papel do PT como "síntese" da esquerda no país se esgotou, mas pode ser ainda a principal força de um frente política.
O professor de filosofia da USP Vladimir Safatle, que é colunista da Folha, mostrou discordância com a ideia e pregou uma urgente redefinição de discurso da esquerda no país.
"Dá muito a impressão de que nossa preocupação é eminentemente eleitoral, com a eleição daqui a dois anos. O trabalho de consolidação de um processo orgânico, a partir de um diagnóstico, da circulação de ideias, nem sequer começou. Isso sim é urgente."
Para ele, a esquerda vem deixando de lado o debate sobre a economia e trazendo para o centro de suas propostas temas "compensatórios", como direitos de minorias. "É a única transformação que nós podemos oferecer. Transformação no processo econômico não conseguimos mais oferecer."
O professor da USP citou a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e o plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia como exemplos de insatisfação generalizada com os rumos da economia globalizada.
"Ou a esquerda consegue operar nos extremos, criando uma contrabalança, ou quem vai capitalizar essa dinâmica é a extrema direita."
ESGOTAMENTO
Tarso, que ocupou quatro ministérios nos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que os governos petistas atingiram "o teto" a partir da queda do preço das commodities no mercado internacional e devido ao endividamento externo.
"Foi o limite econômico que levou ao limite político. [Também] a incapacidade desse partido de apresentar um projeto de acumulação interna e criar uma poupança pública capaz de gradativamente gerar o financiamento do Estado."
Satafle citou como um dos motivos da derrocada do PT a "gestão de coalizões esquizofrênicas" nos governos Lula e Dilma Rousseff, que se aliaram a partidos com visões conflitantes.
Para Altman, o PT não mexeu em seus governos em "estruturas" políticas e não conseguiu maioria no Congresso, o que limitou sua atuação e o ameaçava permanentemente.
"Buscavam-se mudanças sem rupturas, com o mínimo de conflito possível."
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