Prisão encerra eficácia política da delação, mas Temer segue acuado
Nelson Antoine/Folhapress | ||
Empresário Wesley Batista, do grupo J&F, é levado para audiência de custódia após ser preso |
A prisão de Wesley Batista coloca um prego no caixão da eficácia política da delação da JBS, independentemente do resultado da análise do Supremo Tribunal Federal sobre a validade de suas provas.
Ao ficar claro o que antes havia sido especulado, de que os irmãos Batista ganharam dinheiro ao manipular o mercado de câmbio e de ações com sua delação, a imagem geral da delação fica comprometida.
Em resumo, o caso pode e deve continuar sendo apurado, mas as já remotas chances de a Câmara autorizar uma investigação contra o presidente Michel Temer (PMDB) utilizando a falação do irmão de Wesley, Joesley, parecem destinadas ao arquivo.
Tudo o que o mundo político quer é ver a Lava Jato encurralada, e o desempenho final de Rodrigo Janot à frente da PGR (Procuradoria-Geral da República) lhe fez um grande favor. Na opinião pública, que nunca engolira os favores de Janot aos delatores, o caso abriu uma crise de credibilidade, mas não foi ainda aferida redução no apoio à operação em si —até porque Curitiba não é Brasília, para começar.
Temer só não pode ir celebrar numa churrascaria pelo motivo óbvio: o urubu representado pela JBS já foi substituído pelo animal ainda indeterminado da delação de Lúcio Funaro, além da incerteza em relação a Geddel Vieira Lima.
A essa altura, contudo, não há evidências de que o caso Funaro terá o impacto sem precedentes da delação da JBS: ação controlada incluindo filmagem da mala de dinheiro para assessor do presidente, o próprio Temer gravado no escurinho do Jaburu.
A hipótese de que ele tenha provas contra Temer também pode cair no limbo temporário porque, em tese, o presidente só poderia ser investigado por algo ocorrido no exercício do cargo —e o que transpareceu até aqui não sugere isso, salvo algum delito continuado.
Geddel, por sua vez, adiciona imprevisibilidade, já que entrou no Planalto como ministro apontado por Temer e é seu aliado íntimo há anos. Os milhões em caixas e malas são uma imagem forte, mas é preciso investigação para entender as correlações possíveis, fora que novamente estamos falando de um crime que teria ocorrido durante o governo Dilma Rousseff, na gestão de Geddel como vice na Caixa Econômica Federal.
Então ficamos assim, por ora. Temer segue apostando tudo o que pode na recuperação econômica, e tem inundado os meios de comunicação com sugestões de melhoria acima do esperado que precisarão se provar verdadeiras. Enquanto isso, a cerca do Planalto continuará a ser frequentada por aves de mau agouro diversas, e todos seguram a respiração para ver como irá proceder a sucessora de Janot, Raquel Dodge.
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