Quem mostrar energia sem gritaria terá chance em 2018, diz consultora

Joelmir Tavares
São Paulo

Olga Curado já usou seu treinamento à base de aikidô (arte marcial japonesa) com os petistas Lula e Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves.

Na eleição de 2018, dará o golpe de mestre o concorrente que transmitir moderação na fala e no gestual e exibir vigor, crê a consultora de imagem, experiente em ajudar candidatos a moldarem o discurso e a linguagem corporal.

Olga de camisa amarela e preta em frente a livros
Olga Curado, que treina políticos - Avener Prado

"Não vai ser ninguém que fale acima do tom. As pessoas não aguentam mais essa gritaria", afirma a jornalista, que há 15 anos auxilia políticos em campanha, pessoas convocadas para CPIs e executivos e empresas encalacrados em crises de imagem.

"Todo mundo encheu o saco de briga, ninguém quer radicalização", diz a goiana, que assessorou Dilma em 2010 e Aécio em 2014. "Desta vez vai ser alguém com um perfil conciliador. Não é à toa que estão todos [os pré-candidatos] agora falando isso."

Os requisitos de Olga já afastariam o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) de um resultado positivo na eleição do ano que vem. Bolsonaro foi atendido pela consultora em seu consultório, em São Paulo, há cerca de um ano. Por sigilo contratual, ela não fala sobre a clientela.

Vitalidade, outro atributo que a guru vê como determinante para conquistar o eleitor, exclui do páreo Marina Silva. "Não transmite isso, nem na voz nem na figura", diz Olga sobre a ex-senadora.

A energia é necessária, mas não deve significar "vitalidade agressiva", avalia. "Tem que ser uma pessoa serena, mas com coragem pessoal para colocar de um lado da mesa o radical do MST e do outro o mercado financeiro."

João Doria (PSDB), outro nome ventilado para o pleito, é "um habilidoso comunicador, com senso de oportunidade", afirma Olga. Mas, na opinião dela, falta ao prefeito de São Paulo capacidade empática. "Ainda não identifiquei nele habilidades humanas, no sentido da empatia."

Quem, então, reuniria as características capazes de conquistar o eleitor em 2018?

"Não consigo enxergar!", diz ela, rindo. "Não espero salvador da pátria. Então talvez esses que estão postos aí consigam demonstrar. Queremos não homens privados, mas homens públicos. Não sei onde estão, mas que tem, tem."

Sua esperança é que o eleitor gaste tempo para se informar e "ir além do discurso". Um dos benefícios da Operação Lava Jato, diz, foi "nos ensinar a ser menos crédulos e reverentes com os políticos".

O submundo escancarado pelas investigações deixou os eleitores escandalizados e será rejeitado nas urnas, acredita a jornalista. "Já tropecei com um bando que tinha um compromisso tão claro com a fruição do poder que passava muita segurança. O bandido pode conseguir ser muito convincente se ele não tem problema em ser bandido."

Nos meses que antecedem as campanhas, o telefone de Olga começa a tocar mais vezes. "Alguns [desesperados] vêm sim, mas para alguns talvez eu não tenha tempo, né? Porque você sabe que a agenda é complicada...", afirma, sorrindo de canto de boca.

NO CHÃO

O trabalho de Olga, que ela resume como "aprender a tomar decisão em tempos difíceis", se baseia na prática física "porque ninguém aprende com a cabeça, mas com o corpo e a experiência", diz.

Aplica golpes nos clientes e, contra o temor da queda, até os derruba no chão para demonstrar que é liberado falhar, dizer "não sei", "não posso", "quero consertar esse malfeito". O problema inicial da maioria, segundo ela, é "ter medo de ser humano".

Durante o atendimento, ao preparar o assessorado para dar entrevistas e encarar debates e interrogatórios, ensina a "entender a perspectiva do outro". Toda reação tem que ter delicadeza, pontua.

Mentir é algo que ela diz não ensinar, até porque fazer isso deixa o corpo fraco, flácido. "Ensino a pessoa a se preservar falando a verdade. Não precisa dizer tudo. Não fale contra você, deixe que isso os outros já fazem."

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