Crise no RS racha a base de governador antes da eleição

Crédito: Luiz Chaves/Divulgação O candidato ao governo do Rio Grande do Sul José Ivo Sartori (PMDB) vota neste domingo (26) em Caxias do Sul (RS)
José Ivo Sartori, do PMDB, governador do Rio Grande do Sul

ANA LUIZA ALBUQUERQUE
DE CURITIBA

A nove meses das eleições, as pré-candidaturas ao governo estadual começam a ser desenhadas no Rio Grande do Sul. A solução para a forte crise fiscal do Estado deve ser a principal bandeira levantada pelos partidos.

É o caso, pelo menos, do MDB de José Ivo Sartori, que deve tentar a reeleição, e do PSDB e do PP, partidos que compuseram a base do governo, mas que agora ensaiam candidaturas próprias.

A disputa da reeleição ainda não foi confirmada pelo governador, mas é desejada pela legenda. O deputado federal Alceu Moreira, presidente estadual do partido, afirma que "100% do PMDB quer que ele seja candidato" e que não há a possibilidade de o partido não ser cabeça de chapa.

Entre os tucanos, o pré-candidato é o presidente estadual Eduardo Leite, ex-prefeito de Pelotas. O deputado estadual Lucas Redecker afirma que o PSDB tem mantido conversas com PP, PTB, PPS, PR, PV e PSB. No caso do PTB, diz que as negociações estão "avançadas", ainda que o partido também já tenha pré-candidato –o delegado Ranolfo Vieira Júnior.

O PSDB anunciou em dezembro a saída da base do governo Sartori. "Se minha missão for essa [candidatura], vamos lá", diz Leite.

O nome do PP para 2018, por enquanto, é o do deputado federal Luis Carlos Heinze, conhecido por integrar a bancada ruralista. Um dos maiores partidos da base, o PP decidiu lançar candidatura própria após mais de 90% da legenda se manifestar a favor da decisão.

Os três projetos giram em torno de fundamentos liberais, como a redução da máquina pública, o corte de gastos e a renegociação da dívida com a União.

Até a formalização das candidaturas, no meio do ano, o cenário ainda pode mudar. Ainda assim, integrantes das legendas dizem que tudo indica que, ao menos no primeiro turno, esses três partidos serão concorrentes.

Na oposição, com outras propostas para solucionar a crise, legendas como o PT (Miguel Rossetto) e o PSOL (Roberto Robaina) também definiram pré-candidatos. O PDT escolheu Jairo Jorge, ex-prefeito de Canoas.

O xadrez eleitoral sugere que Sartori terá dois desafios: convencer a população de que o ajuste fiscal é a melhor medida para equilibrar as contas e enfrentar concorrentes de peso, com projetos parecidos. O Rio Grande do Sul é um dos Estados mais afetados pela crise e é o único que não reelegeu um governador desde que a reeleição passou a ser permitida, em 1998.

O presidente estadual do MDB diz que os antigos aliados vão perceber que candidaturas próprias "são menores do que a causa estadual".

"Foi muito sacrifício, muitos projetos impopulares, para neste momento fracionar e correr o risco de perder para um projeto populista."

Segundo o deputado, a pulverização da centro-direita, por uma "questão matemática", pode facilitar que um partido de esquerda volte ao poder. O petista Tarso Genro assumiu o Estado em 2011 e é acusado por adversários de piorar a situação fiscal.

O discurso do MDB será de que Sartori precisou lançar mão de medidas duras para equilibrar as finanças e que, agora, o Rio Grande do Sul tem a possibilidade de ser "altamente competitivo".

Assim como no plano nacional, os emedebistas do Estado têm encontrado dificuldade em aprovar medidas de austeridade no Legislativo. Em função da crise, os salários dos servidores vêm sendo parcelados há dois anos, o que desgasta a eventual candidatura governista.

Moreira diz que em março ou abril "a folha estará em dia". "Vai mostrar para os servidores que o remédio foi amargo, mas que acabamos com a doença."

Eduardo Leite diz considerar que o MDB falhou ao se encurralar na pauta fiscal e se dedicar "unicamente ao ajuste de contas".

Segundo ele, o governo Sartori não tocou em pontos fundamentais que não dependem de recursos, como reduzir a burocracia estatal e criar uma "estratégia de desenvolvimento".

DÉFICIT

A Assembleia do Rio Grande do Sul aprovou há um mês o projeto do Orçamento de 2018, que estima deficit de R$ 6,9 bilhões no Estado. Representantes do governo estadual e federal têm se reunido para elaborar o ingresso do Rio Grande do Sul no regime de recuperação fiscal, que prevê ajuda. O Estado deve R$ 58 bilhões ao governo federal.

O regime estabelece a suspensão do pagamento da dívida com a União por três anos, exigindo como contrapartida medidas para equilibrar as finanças, como privatizações e congelamento de salários.

O governo anunciou venda de 49% das ações do Banrisul, o banco do Estado.

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