MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO

Partido de pouca expressão nacional, o PSL vive momentos de destaque inédito em sua trajetória de duas décadas.

No dia 5, a sigla anunciou que "receberia Jair Bolsonaro e sua pré-candidatura à Presidência da República".

A palavra "filiação" não consta no termo divulgado à imprensa, mas o presidente do PSL, o deputado federal Luciano Bivar (PE), diz à Folha que, "tão certo como dois e dois são quatro", o pré-candidato, hoje no PSC, migrará para seu partido em março.

Crédito: Diego Nigroi/JC Imagem O deputado federal Luciano Bivar, presidente do PSL, durante coletiva que anunciou união com Bolsonaro para a eleição
O deputado federal Luciano Bivar, presidente do PSL, durante coletiva que anunciou união com Bolsonaro para a eleição

O acordo com o segundo colocado na corrida presidencial até o momento, segundo pesquisas do Datafolha, lançou luz sobre a sigla nanica, mas também provocou uma cisão: o movimento Livres rompeu uma união de quase dois anos com o PSL, que tinha como objetivo refundar o partido com nova liderança.

Para os líderes do grupo, Bolsonaro representa o extremo oposto dos valores liberais, tanto em termos econômicos quanto comportamentais, que deveriam nortear a nova fase do partido.

O próprio filho de Bivar, Sérgio, conselheiro do Livres, disse à Folha que sairia do PSL.

"Eu não sei [se Sérgio] vai sair. É uma opção dele", comenta Bivar. "Mas todos os que estão no PSL têm que apoiar Bolsonaro para presidente. Todos, sem exceção."

Para o presidente do PSL, as críticas do Livres são preconceituosas. "Foi um absurdo. A maior parte do partido foi favorável à união. Ter preconceito contra uma pessoa é fundamentalismo. Eu lamento."

Bolsonaro representa, diz Bivar, os princípios fundadores do partido: a economia de mercado, as liberdades individuais, a livre expressão de ideias, a autonomia das instituições, o Estado de Direito.

"Não vejo nada no comportamento dele que contradiga a ideologia liberal, na área econômica ou social. É um liberal ao aceitar que cada um faça suas escolhas. Jamais faríamos como o PT, por exemplo, que apoia Cuba, onde homossexuais iam para o paredão."

Patrimônio multiplicado

Bivar minimiza declarações do pré-candidato que contrariam essa imagem, como o elogio coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos principais símbolos da repressão durante a ditadura militar, durante votação do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara, em 2016.

"Pela família e inocência das crianças que o PT nunca respeitou, contra o comunismo, o Foro de São Paulo e em memória do coronel Brilhante Ustra, o meu voto é sim", declarou na ocasião.

"Não se deve rotular Bolsonaro por isso", diz Bivar. "Não foi um erro. Cada um tem suas convicções. Não sei se o Ustra foi um torturador ou não. Muitas vezes criam-se factoides e toma-se aquilo como verdadeiro."

Segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, na gestão de Ustra o DOI-CODI de São Paulo foi responsável pela morte ou desaparecimento de ao menos 45 presos políticos.

Bivar também não vê contradição em um suposto liberal fazer elogios a uma ditadura.

"É preciso entender que naquele período [na ditadura] estávamos diante de uma situação muito delicada. A ameaça comunista era muito grande. Então o povo clamou pelos militares", diz.

"Eu faço alguns elogios ao regime militar também. Toda a infraestrutura do Brasil foi feita no governo militar. Foi um regime de transição, e os próprios militares devolveram o poder de forma absolutamente espontânea. Reconhecer isso não torna ninguém menos liberal."

Sobre o fato de Bolsonaro ser réu Supremo Tribunal Federal, sob acusação de incitação ao estupro, avalia que as falas dele tiveram seu sentido deturpado. Em discurso no plenário da Câmara, em 2014, Bolsonaro disse que só não estupraria a colega Maria do Rosário (PT-RS), ex-ministra de Direitos Humanos, porque ela "não merecia".

"Ele nunca falou que iria estuprar a deputada. Nunca fez nenhuma incitação. Agora, se querem deturpar, paciência. Não faz sentido nenhum o acusarem."

"Além disso, como é que pode um cara ser processado por uma declaração dada na tribuna do Congresso, um direito legítimo e constitucional de você expressar suas opiniões? Essas coisas não podem existir no Estado de Direito."

Segundo Bivar, Bolsonaro foi atraído pelo discurso transparente e probo do PSL.

"Se alguém no PSL pensa que vai se locupletar no futuro com uma eventual vitória de Bolsonaro, é melhor procurar outro partido. Ninguém se juntará a nós por achar que poderá participar do poder por participar."

Ele define o presidenciável como um homem bem intencionado e puro, que "fala o que sente, o que vem da alma". "Essa é a grande diferença. Não é um político que fica em cima do muro. A imprensa terá uma surpresa muito grande e positiva com relação ao comportamento que vamos apresentar."

POLÊMICA NO FUTEBOL

Luciano Bivar foi eleito para a Câmara Federal pela primeira vez em 1998. Iniciou seu segundo mandato, como suplente, em julho do ano passado. Candidato a presidente em 2006, sempre pelo PSL, recebeu 0,06% dos votos.

Além da política, tem longa atuação como dirigente esportivo. Foi quatro vezes presidente do Sport Club do Recife.

Em maio de 2013, foi suspenso do posto por 180 dias, pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva, após ter declarado que pagou a um lobista para "empurrar" um jogador do Sport, Leomar, para a seleção brasileira em 2001.

Na ocasião, Bivar disse que a decisão foi absurda. "Eu fiz marketing. Então a 9ine, do Ronaldinho, também deveria ser suspensa. É uma empresa de marketing", declarou.

Em dezembro de 2013 se afastou do comando do clube para se dedicar à campanha eleitoral do ano seguinte.

Na eleição deste ano pretende se reeleger deputado federal.

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