MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO
LUCAS VETTORAZZO
DO RIO
ALEXANDRE ELMI
ESPECIAL PARA A FOLHA EM PORTO ALEGRE

O movimento Vem pra Rua promoveu ato na av. Paulista, na tarde desta terça-feira (23), em defesa da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Lula já foi condenado pelo juiz Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão. Caso a sentença seja confirmada nesta quarta-feira (24) pelo TRF-4, em Porto Alegre, o petista ficará inelegível, segundo a Lei da Ficha Limpa.

Segundo a Polícia Militar, cerca de mil pessoas participaram do ato em São Paulo, na esquina entre a av. Paulista e a rua Ministro Rocha de Azevedo. Muitas delas portavam bandeiras do Brasil e faixas contra Lula e homenagens a Moro.

Havia também membros do partido Novo.

Bonecos pixulecos e bandeiras eram vendidos por preços entre R$ 5 e R$ 20.

"Por que tá todo mundo com esse sorriso?", perguntou Adelaide de Oliveira, porta-voz do movimento. "Amanhã será um dia histórico. Lula na cadeia", gritou em cima de um carro de som.

"Quero mandar um recado: a Justiça precisa ser para todos. Somos brasileiros. Defendemos essa bandeira que nunca será vermelha."

Além de Lula e do PT, o presidente Michel Temer e o ministro do STF Gilmar Mendes também foram alvos de críticas.

"Não adianta prender corrupto se depois o Gilmar manda soltar", queixou-se aos gritos um dos participantes.

"Bem lembrado. Ele solta todo mundo, parece Lacto Purga", respondeu a porta-voz do movimento.

Do alto do caminhão de som, os organizadores entoaram músicas contra Lula. "Nem Atibaia, nem Guarujá, é em Curitiba que o Lula vai morar", era uma delas.

Moro foi homenageado com músicas e palmas inúmeras vezes.

Os organizadores leram ainda uma mensagem enviada pelo advogado Miguel Reale Jr., um dos autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma e ex-ministro do governo FHC.

O texto defendia a sentença de Moro e culminava com a frase: "Justiça sim, PT jamais."

O ato transcorreu sem incidentes.

PORTO ALEGRE

No mesmo ponto da capital gaúcha que recebeu os defensores do impeachment ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, o movimento Vem pra Rua reuniu no início da noite desta terça-feira (23/1) um pequeno mas animado grupo favorável à condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A expectativa dos organizadores, que estimaram em cerca de 300 o número de manifestantes em uma das esquinas do Parque Moinhos de Vento, o Parcão, é que os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) confirmem a condenação e ampliem a sentença aplicada pelo juiz federal Sérgio Moro em primeira instância.

O cenário da manifestação combinou faixas com dizeres contra o PT e Lula, camisas verdes, amarelas e da Seleção. Também foram empunhados os bonecos do ex-presidente vestido como um presidiário, o pixuleco. A reação dos motoristas que passaram pelo local foi buzinar, criando um clima de comemoração futebolística. Dos carros, eram proferidas palavras de apoio e também de contestação.

Uma faixa com uma charge do Lula como se fosse um sapo, sendo cozido em um caldeirão e com um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), dominava o cenário do protesto. Nela, os manifestantes também escreveram "vai mentindo, vai fugindo, tua hora vai chegar". O Vem pra Rua recebeu 34 faixas de outros pontos do Brasil, que foram colocadas no local da manifestação.

No início do protesto, por volta dos 18h, uma garoa arrefeceu o ímpeto dos participantes. O clima de animação instalou-se apenas com a chegada da Banda Loka Liberal, grupo de músicos que cantam letras críticas ao petismo, a partir de paródias de canções de torcidas de futebol. "O Lula tem mais dinheiro que o povo inteiro", dizia um dos refrãos.

Conforme uma das organizadoras do ato, Iria Cabrera, empresária, 58 anos, o protesto foi espontâneo, organizado a partir do Facebook. Tanto não havia previsão de um continente expressivo que não foi requisita a interdição de ruas ou o policiamento adicional. A Brigada Militar (BM) informou que nenhuma ocorrência foi registrada no local até as 19h45.

Iria negou que o movimento contra a corrupção tenha sumido das ruas depois de conquistar o afastamento de Dilma em 2016. Reiterou que os protestos seguiram contra o presidente Michel Temer e contra a corrupção. Ela condenou o uso político do julgamento por parte do PT: "é uma forma de fazer de conta que não existe um crime de verdade. É uma narrativa que não é real. O Lula é apenas um criminoso comum que está em julgamento".

O Vem pra Rua se anuncia como um movimento suprapartidário criado no final de 2014 com o objetivo de mobilizar a sociedade brasileira no combate à corrupção. Em 2015, liderou a organização de protestos a favor do impeachment de Dilma em 240 cidades brasileiras, conforme o site do movimento.

Apesar da alegada independência partidária, foram vistas camisetas laranjas do partido Novo entre os manifestantes. A vereadora Comandante Nádia (PMDB) também estava presente. Enrolada em uma bandeira do Brasil, criticou o uso político que o PT está fazendo do julgamento e defendeu a ampliação das condenações por corrupção. "De todos os partidos, inclusive do meu. Não tenho político de estimação", disse Nadia.

No outro lado de uma das ruas que contorna a praça, duas faixas pregaram a intervenção militar, uma delas sustentando que a chegada dos militares ao poder "não é opção, é a única solução". Segundo Cesar Campana, 58, militar aposentado e integrante do movimento Patriotas do Brasil, a prisão de Lula é o único ponto de consenso entre o movimento que defende os militares e o Vem pra Rua. "Não existe uma solução política para o país, devido ao aparelhamento dos nossos tribunais", afirmou Campana.

Depois de duas horas estacionados na esquina do Parcão, o grupo resolveu caminhar até o Hotel Sheraton, onde, segundo os organizadores do protesto, estariam hospedados integrantes do PT. Foram cerca de 13 minutos de caminhada pacífica, conduzida pelo ritmo do Banda Loka Liberal. Seguranças particulares ajudaram a manter os manifestantes em uma parte da via, evitando engarrafamentos.

Em frente ao hotel, o grupo continuou cantando as mesmas palavras de ordem. Os ataques pessoais a Lula continuaram: "Lula cachaceiro devolve o meu dinheiro". A polícia montou um cordão de isolamento com 10 policiais, para proteger a entrada do prédio contra a possibilidade de uma invasão.

Sob o clima de carnaval, ocorreu o único e breve discurso da noite. Iria pegou o microfone para atacar os dirigentes do PT: "O dirigentes do PT estão aqui, enquanto os apoiadores estão acampados". Às 20h30, os manifestantes encerraram o ato-relâmpago cantando o Hino Nacional.

Localizado em uma região nobre de Porto Alegre, o Parque Moinhos de Vento concentra os atos de combate à corrupção, com foco na crítica a políticos do PT. Em 2016, recebeu o Acampamento Sérgio Moro, em homenagem ao juiz federal, que reuniu em vigília manifestantes favoráveis ao impeachment. Também foi o epicentro dos protestos e passeatas a favor do afastamento da petista em 2016.

O ato promovido pelo Vem pra Rua é o primeiro programado para acontecer em Porto Alegre em apoio à hipótese de condenação do ex-presidente. Para esta quarta, o Movimento Brasil Livre (MBL) anuncia a organização do CarnaLula, a partir das 18h no mesmo ponto da capital gaúcha, distante 3,7 quilômetros da sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).

No evento criado no Facebook, do qual o líder do MBL Kim Kataguiri também é um dos organizadores, o movimento "convoca a população para a comemoração pelo início da libertação do Brasil", a partir da sentença contra Lula na segunda instância.

RIO

Manifestantes que pedem a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniram na noite desta terça-feira (23) na orla da praia de Copacabana, zona sul do Rio.

O protesto começou às 18h30. Manifestantes ocuparam uma das três pistas da avenida Atlântica, sentido Leme, do posto 5 da orla do bairro. Motoristas que passava eram instados a buzinar em apoio ao protesto.

A manifestação foi convocada pelo Vem Pra Rua, movimento que emergiu durante os protestos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Às 19h, com a chegada de um carro de som, todas as pistas foram fechadas para carros. Os únicos carros autorizado a passar pelo bloqueio eram os que participarão da carreata que irá acompanhar o ato, que seguirá em marcha a partir das 20h, segundo previsão dos organizadores, que ainda não estimaram o público no ato.

Um boneco Pixuleco foi inflado no canteiro central da avenida. Réplicas em menor escala do boneco inflável eram vendidas a R$ 15 e bandeiras do Brasil, a R$ 10.

Manifestantes aplaudiram quando um baner de tamanho real com a figura de Sérgio Moro foi carregado do carro de som.

O humorista Marcelo Madureira, uma das figuras de destaque dos movimentos de oposição a Lula, foi um dos primeiros a discursar.

Ele pediu a prisão de Lula "por um país mais justo", mas pediu também a prisão do atual presidente da República, Michel Temer, além dos senadores Fernando Collor, Renam Calheiros, Roméro Jucá e Jader Barbalho.

Segundo Madureira, "a nossa cadeia cabe muito mais gente". "A nossa cadeia há que abrir como um coração de mãe para abrigar apenados e limpar a política brasileira", disse.

O comediante destacou o que ele chamou de caráter democrático do movimento de oposição a Lula e o PT.

"Aqui tem gente que vota em [Jair] Bolsonaro. Tem gente que não. Tem quem vá votar no [Geraldo] Alckimin e tem quem não", disse ele. Parte dos manifestantes aplaudiu quando o nome do deputado e pré candidato Jair Bolsonaro (PSC-RJ) foi mencionado. As reações ao Alckimin foram tímidas.

O ato saiu em marcha por volta das 20h com o ibjetovo de percorrer toda a orla em direção ao Leme. No meio do percurso, contudo, deu a volta e ocupou as pistas no sentido oposto, segundo uma das organizadoras porque manifestantes já estariam cansados de caminhar nesta terça de forte calor no Rio.

A manifestação era encabeçada em sua maioria por moradores locais e pessoas de idade mais avançada.

Um carro de som guiava a manifestação e alguns carros de passeio acompanhavam o ato buzinando. Pessoas simpáticas ao protesto piscavam as luzes de seus apartamentos em sinal de apoio.

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