EDOARDO GHIROTTO
WÁLTER NUNES
ENVIADOS A SÃO BERNARDO DO CAMPO (SP)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preferiu não acompanhar a íntegra do julgamento do recurso no TRF-4 que aumentou a sua condenação para 12 anos e um mês de prisão no caso relacionado ao tríplex em Guarujá (SP).

Lula deixou de assistir à sessão antes da conclusão do primeiro voto, proferido pouco antes das 14h pelo juiz federal João Pedro Gebran Neto. Aproveitou a ocasião para conversar com amigos.

O petista decidiu passar o dia na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, seu berço político. A organização da entidade esperava que Lula chegasse ao local antes do início do julgamento, mas o ex-presidente só apareceu no sindicato às 10h08.

Lula foi para o prédio em uma comitiva que partiu de sua casa. Ele estava com Luiz Marinho, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Roberto Teixeira, seu compadre e advogado, e Wagner Santana, presidente do sindicato.

O veículo preto em que Lula estava entrou pela garagem do subsolo para evitar o contato com a imprensa. No prédio, o ex-presidente ficou o tempo todo no segundo andar, que teve as janelas e varandas protegidas por panos azuis e vermelhos para impedir que fossem feitas imagens do petista.

Por volta das 11h, Lula foi para o auditório, no terceiro andar, para discursar para aproximadamente 500 militantes. Vestido com uma camiseta vermelha simples, sem estampas, ele contou piadas e tirou foto abraçado com petistas.

Aos simpatizantes, Lula disse que estava "extremamente tranquilo" e que não tinha cometido nenhum crime. Também manifestou confiança de que seria absolvido por unanimidade."Se vai acontecer ou não, eu não sei, mas essa é a única coisa certa e justa que poderia acontecer."

Apesar de tentar demonstrar otimismo, Lula procurou apontar para o futuro em caso de condenação "Se não acontecer [a absolvição], temos muito tempo pela frente para mostrar os equívocos e as mentiras contadas contra o PT e o Lula nesses últimos anos", afirmou.

No palco estavam os governadores petistas do Acre, Tião Viana, de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e do Piauí, Wellington Dias. O ex-chanceler Celso Amorim e o senador Humberto Costa, de Pernambuco, também ficaram ao lado de Lula.

Por várias vezes o petista atacou a oposição e as elites. "Eles quebraram o Brasil várias vezes. Toda vez que a situação está difícil, eles dizem para descer [focar] na [reforma da] Previdência."

"Esse país tem uma doença grave e que se chama PT [para a oposição]. Disseram que tudo ia melhorar se tirassem a Dilma [Rousseff, ex-presidente] e o PT. E agora vocês estão acordando da anestesia. Estão descobrindo que eles não fizeram uma cirurgia para melhorar. Eles estão vendendo parte do nosso corpo", afirmou o petista, ao discursar contra as privatizações.

Antes de sair do palco, Lula disse esperar que um "um dia alguém voltará e transformará esse país em motivo de orgulho". E deu um aviso. "Só no dia em que morrer eu vou parar de lutar pela democracia."

Depois do discurso, Lula voltou para o segundo andar para almoçar com correligionários. A refeição foi carne com champignon, arroz, feijão e macarrão japonês (bifum). Comeu longe da televisão e sem prestar atenção aos argumentos de Gebran Neto, que votou pelo aumento da pena do petista para 12 anos e um mês.

Os petistas começaram a deixar a sede do sindicato a partir das 15h30. O ex-governador da Bahia Jaques Wagner puxou a fila. Irritado, ele afirmou que a condenação não mudaria os planos do partido de lançar a candidatura de Lula à presidência. Wagner é cotado como uma segunda opção caso o ex-presidente fique inelegível.

Lula foi embora pouco antes das 16h. De acordo com a sua assessoria, ele seguiria para a praça da República, em São Paulo, onde é esperado por manifestantes em sua defesa.

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