JOELMIR TAVARES
CATIA SEABRA
DE SÃO PAULO

Ao confirmar sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto, o ex-presidente Lula disse em reunião das lideranças nacionais do PT nesta quinta-feira (25) que a campanha presidencial do partido tem que seguir mesmo que aconteça uma "coisa indesejável".

No dia anterior, o petista teve sua condenação no caso do tríplex confirmada por unanimidade no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), o que pode torná-lo inelegível.

"Espero que essa candidatura não dependa do Lula", afirmou o ex-presidente. "Essa candidatura só tem sentido se vocês forem capazes de fazê-la mesmo que aconteça uma coisa indesejável. É colocar o povo brasileiro em movimento."

"E nós temos uma arma poderosa. É cobrar deles [Judiciário], todo santo dia, que eles apresentem uma prova de qual foi o crime que eu cometi", seguiu Lula, que acusou os juízes do TRF-4 de formarem um "cartel" em seu julgamento.

O desembargador Leandro Paulsen, revisor do processo de Lula no tribunal, mencionou em seu voto que a prisão do ex-presidente poderá ser pedida assim que forem julgados os embargos de sua defesa. É o que determina a súmula 122 do tribunal: "Encerrada a jurisdição criminal de segundo grau, deve ter início a execução da pena imposta ao réu, independentemente da eventual interposição de recurso especial ou extraordinário".

O rigor da sentença encurtou o cronograma projetado pelo PT para brigar pelo registro do nome de Lula na disputa pelo Planalto, mas o partido reitera a intenção de seguir com a candidatura dele.

"Nós não estamos jogando sozinhos no campo", afirmou o petista no evento. "Nós temos outros candidatos, e as pessoas que me julgaram ainda têm a caneta com tinta e certamente vão tentar criar obstáculo para evitar que o Lula continue andando pelo país falando mal deles."

A presidente nacional da sigla, senadora Gleisi Hoffmann (PR), voltou a negar no encontro que o PT trabalhe com a possibilidade de um plano B.

"Lula é o nosso candidato às eleições de 2018", confirmou ela no palco, antes de colocar em votação a candidatura do ex-presidente, aprovada por aclamação pelo auditório reunido na sede nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), na região central de São Paulo.

"O dom Pedro criou o Dia do Fico e eu vou dizer o 'dia do aceito'. Eu aceito a indicação de pré-candidato pelo partido", afirmou Lula.

Em outro momento, enquanto criticava a Operação Lava Jato, disse que "certamente o PT não ia querer ter como candidato alguém que tivesse roubado".

JESUS CRISTO

O ex-presidente disse ainda que a candidatura não é uma tentativa de se proteger das ações judiciais e que sua maior defesa é sua inocência.

Lula falou que às vezes tem a impressão de que as investigações contra ele são "a maior injustiça cometida na humanidade".

"Não é verdade", prosseguiu. "Jesus Cristo foi condenado à morte sem dizer uma palavra, recém-nascido. E se o José não corre ele tinha sido morto. [...] Era a tentativa de julgar alguém que vinha para fazer alguma coisa boa."

Para gargalhadas da plateia na convenção, arrematou: "E olha que não tinha empreiteira naquele tempo, não tinha Lava Jato".

"Eu sei que amanhã a imprensa vai dizer: 'Lula se compara a Cristo'. Longe disso. Mas eu tô apenas querendo relembrar a vocês. Não vai ser uma tarefa fácil. Esse partido passou um monte de tempo gritando que não ia ter golpe e teve golpe."

Para o ex-presidente, o PT é "vítima de uma trama premeditada" a partir "de um pacto entre Poder Judiciário, a mídia e as instituições outras do Estado brasileiro que constroem uma versão".

"E eles encontraram uma coisa que detona qualquer político: corrupção. Corrupção é uma desgraça. Mesmo os amigos da gente, quando a gente é denunciado, num primeiro momento, até a gente provar que não é, as pessoas falam: 'E se for?'."

"Não é uma coisa simples você andar na rua e alguém gritar que você é ladrão. Isso é o que mais coloca a minha honra acima da pele, porque eu aceito me chamar até de corintiano, mas não posso aceitar que um canalha qualquer nesse país me chame de ladrão."

CARTEL

Ao se defender, o pré-candidato disse ainda ser vítima de um "cartel" dos juízes do TRF-4 que confirmaram a sentença de primeira instância aplicada pelo juiz Sergio Moro e aumentaram a pena.

"Um cidadão ficou seis meses com o processo, o outro teve seis dias, e o outro nem tinha pegado para ler. E eles construíram um cartel para dar uma sentença unânime para evitar o tal embargo infringente. Eles formaram um cartel para tomar uma decisão com o pretexto de apressar a possibilidade de evitar que o PT tenha o Lula como candidato a presidente da República ou de evitar que a gente volte a ganhar as eleições."

"Somente ontem [quarta] eu compreendi o que era um cartel. Dava até para mandar para o Cade [órgão do governo que investiga a formação de cartéis]", disse ele.

O discurso, de 35 minutos, foi recheado de ataques à Lava Jato e de frases em que o petista diz estar de consciência tranquila após a sentença dos magistrados.

"Eles sabem que o que eu estou falando é verdade", disse o petista, acrescentando que estaria pedindo desculpas aos integrantes do partido se tivesse cometido algum crime.

"Toda vez que qualquer instância do Poder Judiciário julgar as coisas com base nos autos do processo, respeitando a Constituição, eu serei o mais respeitador das decisões do Poder Judiciário", afirmou o pré-candidato.

"Este ser humano simpático que está falando com vocês não tem razão, não tem nenhuma razão, para respeitar a decisão de ontem. Porque, quando as pessoas se comportam como juízes, eu sempre respeitei. Mas, quando as pessoas se comportam como se fossem dirigentes de partido político, contando inverdades a respeito da pessoa, não citando sequer a razão pela qual tem um processo, lamento que eu não posso respeitar."

E emendou: "Se eu respeitar essa decisão, eu perderei o respeito da minha neta de seis meses, do meu neto de quatro, do meu neto de oito, da minha filha, do meu filho e perderei o respeito de vocês. E eu não vou perder o respeito de vocês".

ALIANÇA

Após reunião fechada com o ex-presidente, o comando do PT divulgou uma resolução em que determina formação de ampla aliança. O documento não restringe partidos aos quais se aliar.

A nota prega "aprofundar o diálogo e manter a unidade com partidos e forças sociais, buscando formar ampla e sólida aliança, com todos que se coloquem de acordo com o programa de governo que estamos construindo e apresentaremos ao país".

Segundo petistas, Lula acompanhou a redação da nota, que afirma que o ex-presidente é vítima de "violência judicial".

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