Banqueiro diz à PF que embolsou dinheiro destinado a Romero Jucá

Crédito: Pedro Ladeira/Folhapress BRASILIA, DF, BRASIL, 23-05-2016, 12h00: O ministro do Desenvolvimento Romero Jucá durante coletiva de imprensa para falar sobre as denúncias de que teria agido para travar investigações da Lava Jato, na sede do ministério. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
Romero Jucá, senador pelo MDB-RR

RUBENS VALENTE
REYNALDO TUROLLO JR.
DE BRASÍLIA

O banqueiro José Augusto Ferreira dos Santos, ex-controlador do Banco BVA, contou em depoimento à Polícia Federal que se apossou de R$ 2,5 milhões enviados pela Andrade Gutierrez ao senador Romero Jucá (MDB-RR) como suposta propina. O parlamentar é líder do governo Temer na Casa e preside a sigla.

Investigadores suspeitam que o banqueiro queira eximir o senador do recebimento de vantagem indevida. Santos, que não é delator, depôs em dezembro no inquérito que tramita no STF para investigar o senador, depois que dois delatores da Andrade disseram que ele foi o intermediário de propina paga a Jucá em torno de obras de hidrelétricas do rio Madeira, em Rondônia.

O banqueiro confirmou que a Andrade o procurou porque queria fazer pagamentos à campanha eleitoral de Jucá em 2010 sem que o nome da empreiteira aparecesse. Segundo sua expressão, a empreiteira precisava "valer-se de terceiros".

O banqueiro disse que indicou duas empresas para receber os valores, a Cia Ibatiba de Consultores, controlada por ele, e a Probank Consultores, controlada por um sócio. Ele reconheceu que os contratos "de consultoria" assinados entre as duas empresas e a Andrade eram fictícios, "serviriam apenas para justificar o fluxo financeiro necessário às doações, ou seja, não teriam a efetiva prestação de serviços".

Os registros contábeis da Andrade, periciados pelo Instituto Nacional de Criminalística da PF, indicaram um pagamento de R$ 1,1 milhão para a Probank, em março de 2010, e dois pagamentos no valor total de R$ 1,4 milhão para a Ibatiba, em agosto e setembro do mesmo ano, época da campanha eleitoral.

Contudo, o banqueiro afirmou que o dinheiro, diferentemente do combinado por ele com a Andrade, não foi remetido para Jucá, e sim usado de três formas: "distribuição entre os sócios das empresas, sobretudo ao próprio declarante [Santos]", "investimentos diversos", os quais ele não detalhou, e compra de debêntures da holding BVA Empreendimentos, pertencente ao próprio Santos.

A PF então indagou se alguém o procurou para saber o destino do dinheiro. Santos respondeu que não. "Os valores permaneceram na esfera de disponibilidade das empresas vinculadas ao declarante [Santos], sem qualquer reclamação por parte da Andrade Gutierrez ou de Romero Jucá", disse o banqueiro.

DELATORES

A versão apresentada por Santos confirma diversos pontos do acordo de delação fechado por dois executivos da Andrade, o ex-diretor de energia Flávio David Barra e o ex-presidente na América Latina Rogério Nora de Sá.

Seis meses antes do depoimento do banqueiro, Barra já havia dito à PF que o pagamento ocorreu por meio da Probank e da Ibatiba e que o acerto foi feito com Santos.

Os delatores disseram à PF que a Andrade tinha uma parceria com a empreiteira Odebrecht para construção de usinas hidrelétricas em Rondônia e por volta de 2009 foram informados pelos parceiros de que havia "compromissos políticos" em torno do projeto. Deveriam ser pagos R$ 120 milhões a políticos e partidos diversos, como PMDB, PT e PSDB.

A parte destinada a Jucá seria de R$ 4 milhões, segundo Barra. Ex-executivos da Andrade que "tinham contato direto" com o senador, segundo o delator, foram orientados por Jucá a procurar o dono do BVA para tratar do pagamento.

Barra disse que a princípio o banqueiro sugeriu uma operação financeira que previa um investimento no BVA, "do qual poderia ser retirado um percentual que seria repassado para o senador", como "rentabilidade", uma ação "de forma dissimulada, com baixo risco de identificação da transação". Barra, contudo, disse que não aceitou esse caminho.

Num segundo encontro, segundo o delator, foi acertado o pagamento, por meio de "contratos simulados" às duas empresas indicadas por Santos. Barra não soube dizer à PF como Santos direcionou o dinheiro para a campanha de Jucá, mas nunca recebeu reclamações do senador sobre os valores.

A Justiça decretou a falência do BVA em 2014.

OUTRO LADO

O senador Romero Jucá afirmou à Polícia Federal que "nunca solicitou ou orientou" o ex-controlador do Banco BVA, José Augusto Ferreira dos Santos, a fazer contratos com a Andrade Gutierrez nem foi beneficiado por recursos ilícitos.

Jucá disse ainda que "não conhece, nunca ouviu falar ou tem qualquer relação com as empresas Ibatiba ou Probank" e que "nunca autorizou ou orientou" o banqueiro a abrir ou gerenciar aplicações em seu nome ou em seu benefício. Procurada pela Folha, a assessoria de Jucá disse que ele não se manifestará.

À PF ele confirmou que conhece Santos, "banqueiro que transitou bastante em Brasília" e com ele tratava de temas da economia nacional. Certa vez Santos sugeriu a Jucá "a criação de um fundo de investimento a ser constituído com precatórios". Jucá disse que já recebeu Santos em seu gabinete para tratar desses assuntos, "em mais de uma ocasião, não se recordando de datas".

Procurado pela Folha, o banqueiro não foi localizado. Uma pessoa que atendeu o telefone em sua casa disse que ele estava em viagem, sem prazo de retorno.

Em seu depoimento, o banqueiro disse que conhecia Jucá e "outros parlamentares", que participou de reuniões "institucionais" no gabinete dele na condição de representante de uma associação de bancos do Rio.

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