Aécio diz ao Supremo que provas contra ele são ilícitas

Defesa afirma que gravações de Joesley foram orientadas por procurador sem autorização da Justiça

Mario Cesar Carvalho
São Paulo

Em sua primeira manifestação ao Supremo sobre a acusação de que recebeu propina de R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista no ano passado, a defesa do senador Aécio Neves (PSDB-MG) diz que ele foi vítima de uma armadilha da Procuradoria-Geral da República, que as provas apresentadas contra ele são ilícitas e que seus acusadores omitiram informações.

O advogado de Aécio, Alberto Zacharias Toron, afirma na peça apresentada ao Supremo nesta quinta (22) que os R$ 2 milhões mencionados na conversa gravada por Joesley foram um empréstimo pessoal ao senador.

Senador Aécio Neves (PSDB-MG) durante sessão ao do plenário do Senado - Mateus Bonomi/Folhapress

Ainda segundo a defesa, a conversa gravada pelo empresário com a irmã de Aécio, Andrea Neves, tratava da venda de um apartamento no Rio, pertencente à família do senador, e não de suborno.

"O que houve foi uma oferta de venda de um imóvel e a realização de empréstimo pessoal. Nada além disso. Inexiste vantagem indevida no caso concreto. Inexiste corrupção", aponta a defesa.

Nesse inquérito, Aécio é acusado de ter recebido R$ 2 milhões de propina de Joesley e de ter tentado barrar as apurações da Lava Jato por meio de articulações para anistiar o caixa dois nas campanhas eleitorais e tentando indicar delegados da Polícia Federal dóceis aos tucanos.

Parte dos R$ 2 milhões foram entregues em malas a um primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros, que foi um dos coordenadores da campanha presidencial do tucano em 2014.

A entrega do dinheiro em espécie, segundo a defesa, foi uma exigência de Joesley.

PROVAS ILÍCITAS

A Procuradoria apresentou como principal prova contra o senador uma gravação feita por Joesley na qual Aécio fala que precisa de R$ 2 milhões para pagar a sua defesa na Lava Jato. O então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão de Aécio, negada pelo Supremo. A irmã de Aécio, Andrea Neves, foi presa e depois solta.

São essas gravações que Toron classifica de ilícitas. Segundo ele, elas são ilegais porque fazem parte de uma ação orientada pelo procurador Marcello Miller, que atuou na força-tarefa da Lava Jato e posteriormente foi contratado pelo escritório que atuava na defesa de Joesley, o Trench Rossi Watanabe.
Esse tipo de ação, de acordo com o advogado, requer autorização judicial, o que não ocorreu com Aécio.

"Há indícios veementes e concretos de que membros do Ministério Público Federal —com ciência e anuência da Procuradoria Geral da República— orientaram e atuaram na produção das 'provas' utilizadas na delação dos executivos da J&F, inclusive e, muito especialmente, na gravação", diz Toron.

Há outro problema legal na delação que Joesley acabou firmando com a Procuradoria, que posteriormente foi rompida por conta de omissões, afirma a defesa de Aécio. Toda colaboração tem de ser espontânea; quando o Ministério Público provoca uma delação, ela se torna nula porque o princípio da espontaneidade foi violado.

Toron diz ainda que a Procuradoria omitiu uma conversa em que Joesley e a irmã de Aécio combinam um encontro no Rio para visitar o apartamento que estava à venda, avaliado em R$ 40 milhões.

A defesa apresenta ainda declarações de dois empresários (Pedro Moreira Salles e Robson Andrade) de que Andrea os procurou para oferecer o apartamento que pertence à mãe de Aécio.

O advogado do senador aponta ainda que não há nenhum ato do senador que seja uma contrapartida aos R$ 2 milhões, essencial para caracterizar o crime de corrupção passiva.

Toron afirma também que a acusação incorre em interpretações "economicamente sem sentido e carentes de qualquer lógica". Na denúncia apresentada, além dos R$ 2 milhões, a Procuradoria acusa Aécio de ter recebido R$ 60 milhões em vantagens indevidas para garantir vantagens fiscais de R$ 24 milhões ao grupo J&F, que nunca foram obtidas.

Os R$ 60 milhões, de acordo com a defesa, foram doações oficiais a Aécio. Já os benefícios eram referentes a ICMS, um imposto estadual que não faz parte das atribuições de um senador.

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