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Antipetista declarado, reverendo anglicano dá tom político a missas

Aldo Quintão, de SP, defende Doria ou Henrique Meirelles para assumir a Presidência

Anna Virginia Balloussier
São Paulo

Que belo dia foi 24 de janeiro, diz Aldo Quintão, 55. "Ganhei um presentaço!", celebra o ex-católico apostólico romano que há 20 janeiros, também num dia 24, foi ordenado reverendo da Igreja Anglicana.


O motivo de comemoração é duplo. A condenação de Lula por três juízes de segunda instância, e com uma pena dois anos e meio maior do que a estabelecida por Sergio Moro, foi um "baita de um 3 a 0".

"Não tenho o direito de ficar calado quando o país está indo para o brejo", afirma ele, que se diz orgulhoso por ser "o único religioso a ter coragem de subir no caminhão para derrubar o PT".

Refere-se a atos "coxinhas" em 2016, de quem pedia o impeachment de Dilma Rousseff. Num deles, discursou de camisa amarela no trio elétrico do Vem pra Rua, ao lado de Rogério Chequer, então líder do movimento e hoje pré-candidato ao governo paulista. Disse então que desejava ir a Brasília para dar um recado à petista: "Dilma, vim lhe dizer que o povo de São Paulo quer que você vá... se benzer!".

Dois anos depois, na Catedral Anglicana de São Paulo, admite entre risadinhas que usou um nada gratuito trocadilho. "O povo não fala benzer coisa nenhuma...", diz, elipsando o palavrão.

Outra manifestação política: vender camisas onde se lia "Eu MORO de amor pelo Brasil", em desagravo ao juiz.

O tom político dá voltagem às suas missas, assistidas por pessoas como Kim Kataguiri, líder do MBL, e a atriz Gabriela Duarte.

Por participar de manifestações, também Quintão sofreu nas mãos de petistas, segundo o próprio. "Um deputado [do partido] colocava o dedo na minha cara e falava: 'Você é golpista, você é burguês'. Quase me linchou".

Outros amigos, diz, são os tucanos João Doria e Geraldo Alckmin. Hoje tido como provável candidato ao governo de São Paulo, o prefeito seria seu predileto para ocupar o Palácio do Planalto em 2019.

Sem Doria no páreo, o ministro Henrique Meirelles tem o seu apreço, e Deus o livre de ter que escolher entre Lula, o "populista" Jair Bolsonaro e o "verborrágico" Ciro Gomes (mas, dos três, Bolsonaro seria um mal menor, afirma).

Com o governador de São Paulo diz ter uma amizade há 30 anos. Só não está certo se Alckmin seria a melhor aposta eleitoral. "Acho que a gente precisa de mentalidade nova, e ele é provinciano."

Ao contrário dele, um ex-frade que deixou de seguir o Vaticano por "crer em algo mais flexível", como conta no livro "A Graça de Deus", com piadas baseadas em passagens bíblicas.

Entre os casais que Quintão abençoa estão alguns formados por gays. Ele já foi chamado de "bicha louca" por posar com um All-Star rosa para a foto de uma reportagem.

Casado com a psicóloga Ana Paula, 50, e pai do vendedor de seguros Leonardo, 28, tem também na família o cão Theodoro, 2, um Lulu da Pomerânia que na internet é definido como "bichinho fofo".

Na terça-feira (30), o reverendo conversou com a Folha em seu escritório, adornado por fotos com celebridades, de Michel Teló a Hebe Camargo. Usava tênis da mesma marca (verde com cadarço preto) mais jeans e um blazer sobre a blusa de colarinho de padre fundada em 1534, a Igreja Anglicana carrega várias simbologias do Vaticano, com o qual rompeu na esteira da Reforma Protestante.

VAIDADE SADIA

Vaidade não é tabu para o brasiliense filho de mineiros (uma faxineira e um sapateiro), que na infância "cortava rodelinha de banana, igual hóstia", e se valia de Ki-suco de uva como vinho.

Pelo WhatsApp, enviou vídeos fazendo slackline (equilibrar-se sobre uma corda) e boxe, exercícios pontuados por trilha eletrônica e a legenda: "Se gostar e se cuidar é uma vaidade sadia".

Numa parede da igreja, recortes das várias aparições na mídia, de Jô Soares a Silvio Santos. A socialite Val Marchiori o entrevistou para o programa de Raul Gil e elogiou o reverendo que "adora sapatos, tem até um da Prada, hello!".Não só, diz ele à reportagem. "Também faço manicure e pedicure, pilates, botox e pinto o cabelo de castanho claro, para não ficar preto graúna."

Cristãos que criticam a busca pela beleza, para o reverendo, se apegam a "uma frase machista do apóstolo Paulo, quando diz que as mulheres que se embelezam são causa do pecado". Seria o mesmo que defender, hoje, que as que saem de "barriga de fora estão pedindo para ser estupradas".

Numa missa recente, Quintão citou o manifesto francês que apontou uma "caça às bruxas" à liberdade sexual. As signatárias —a atriz Catherine Deneuve entre elas— viram excesso no denuncismo contra homens acusados de assédio. Quintão defende um meio termo entre as feministas que criticaram o texto e a demanda ali expressa. "Palhaçada", diz, é imaginar que o homem não pode dizer que quer levar "uma mulher para a cama". "Vai levar para onde, então?"

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