Em áudio, Cristiane Brasil  pressiona servidores por votos

Obtido pelo Fantástico, gravação é de 2014, quando ela concorria a Câmara

São Paulo

Uma reportagem do "Fantástico", da TV Globo, deste domingo (4) mostrou o áudio de uma reunião comandada pela deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ), em que ela pressiona servidores da prefeitura do Rio de Janeiro a buscar votos para sua campanha eleitoral. A parlamentar teve a posse como ministra do Trabalho suspensa por decisões judiciais. 

A gravação foi feita em 2014, quando Cristiane Brasil era vereadora licenciada da capital fluminense e comandava a Secretaria Especial do Envelhecimento Saudável e da Qualidade de Vida da prefeitura carioca. Ela se dirige aos subordinados ameaçando que, caso ela não fosse eleita, eles perderiam seus empregos. "Eu só tenho um jeito de manter o emprego de vocês. É me elegendo", diz.

Cristiane passa aos funcionários a quantidade de eleitores que precisa para conseguir uma vaga na Câmara dos Deputados. "Se eu perder a eleição de deputada federal... eu preciso de 70 mil votos, eu fiz quase 30 (mil votos). Agora são 70 mil. No dia seguinte eu perco a secretaria. No outro dia vocês perdem o emprego", diz. "Só tem importância na política quem tem mandato. Só tem mandato quem tem voto. Só tem voto quem tem pessoas como vocês que estão na ponta ajudando a gente a pedir e propagar o voto. Do contrário não funciona."

Ela orienta seus subordinados na secretaria a usar o cargo para fazer campanha. "Eu preciso de uma coisa que está na mão de vocês agora, que é a credibilidade junto ao idoso, é a amizade que eles têm com vocês, é o carinho que eles têm com vocês no dia a dia", diz. E também pede que sejam cabos eleitorais dentro da própria família. "Se cada um, no âmbito familiar, me trouxer 30 fidelizados... 'Pô, tu é minha mãe, se tu não votar nela, eu perco o emprego'. Olha que poder de convencimento essa frase tem. Pro marido: 'meu querido, vai querer pagar minhas calcinhas? Então me ajude'".

A deputada tenta amedrontar os servidores. "Se amanhã vocês ficarem desempregados, como é que vai ser a vida de vocês? Vai ficar um pouquinho mais complicado (sic), não é?", diz. Cristiane Brasil diz que o motivo do encontro é apenas "para a gente situar vocês de coisas que não estão no dia a dia de vocês e que vocês precisam entender para ajudar a gente", afirma.

Cristiane também pede votos para o deputado estadual fluminense Marcus Vinícius (PTB), que tentava a reeleição. Marcus Vinícius estava na reunião e também se dirigiu aos servidores. "O que a gente pede hoje? Acho que a Cris já falou o que tinha que falar. Nós temos mais de dois mil funcionários. Se cada um de vocês conseguir 30 votos, 50 votos, já quase atingiu o objetivo. Vai chegar a 150 mil votos", disse o deputado.

O "Fantástico" submeteu o material à análise de um perito que confirmou a autenticidade da gravação e atestou que não havia edições no áudio. A reportagem diz que cerca de 50 servidores públicos e prestadores de serviço da pasta foram chamados para o encontro.

Os dois foram eleitos em 2014. Cristiane Brasil teve mais de 80 mil votos para deputada federal e Marcus Vinícius se reelegeu com 39 mil votos para a Assembleia fluminense. O jornal "O Estado de S. Paulo" revelou que Cristiane e Marcus são alvos de um inquérito policial, acusados de associação ao tráfico. Eles são suspeitos de terem pago para traficantes para poder fazer campanha no bairro de Cavalcanti, na zona norte carioca, durante a eleição de 2010. Cristiane apoiava Marcus Vinícius na sua primeira eleição para a Assembleia.

OUTRO LADO

O deputado Marcus Vinícius disse para o "Fantástico" que, "em 2010, já prestou esclarecimentos sobre o caso" e que "os fatos narrados nessa denúncia anônima não foram comprovados". Sobre o áudio revelado pelo programa, Marcus Vinícius afirma que "desconhece a gravação e que não pode se manifestar sobre o suposto material".

A assessoria de Cristiane Brasil diz que ela "não foi ouvida no inquérito e nega veementemente que teve contato com criminosos". Sobre a gravação, afirma que "embora não tenha obtido acesso ao conteúdo do áudio, e desconhecer em quais circunstâncias foi gravado, a deputada jamais infringiu qualquer norma ética ou jurídica relacionada às eleições".

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