Em protesto por prisão no Paraná, Cabral se recusa a falar a Bretas

Ex-governador disse ser vítima de cerceamento de defesa ao ser mantido preso no Estado

Felipe Bächtold
Rio de Janeiro
O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB) se recusou a responder perguntas em um interrogatório para o juiz Marcelo Bretas, nesta terça-feira (27), e disse ser vítima de cerceamento de defesa ao ser mantido preso no Paraná.
O depoimento de Cabral ocorreria por videoconferência e abordaria uma denúncia de recebimento de propina paga pela Odebrecht no exterior por meio dos doleiros Renato e Marcelo Chebar.
 
Assim que Bretas abriu o depoimento, o ex-governador pediu a palavra e disse que "não há nenhum preso em Curitiba com 20 processos no Rio de Janeiro" e reclamou que está longe de sua família.
 
"Não tive com o meu advogado nenhum dia sequer aqui em Curitiba por essas razões, nenhuma reunião reservada com ele. Portanto, meu direito de defesa está prejudicado."
 
Cabral e seu advogado, Rodrigo Roca, dizem que não há como ter uma rotina de visitas para tratar da defesa no Paraná enquanto sua equipe tiver que cuidar de prazos de mais de 20 ações penais no Rio.
 

INTERFONE

Roca falou na audiência que o trabalho da defesa recebe "demanda em escala industrial" e que só pode conversar com o ex-governador por meio de interfone na cadeia paranaense.
 
Bretas questionou a defesa e o réu se as autoridades do Paraná negaram a visita em algum momento. "Vou entender a resposta como: não impediram, mas as circunstâncias fáticas dificultam um contato mais efetivo", disse então o juiz.
 
"Ratifico o desejo de responder aí [no Rio] esse processo ao senhor como réu, olho no olho", disse o ex-governador.
 
Cabral foi levado para o Complexo Médico Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, em janeiro.
 
A transferência ocorreu devido a suspeitas de que ele recebia regalias no sistema prisional do Rio. Ele está preso desde novembro de 2016.
 
O depoimento foi encerrado depois de sete minutos. A defesa já usou até a intervenção federal na segurança do Rio para tentar transferi-lo de volta ao Estado.
 
Também foram ouvidos na audiência outras cinco pessoas, que respondem a mesma ação penal.
 

OUTROS RÉUS

Também foram ouvidos na audiência outras cinco pessoas, que respondem à mesma ação penal.
 
Carlos Miranda, hoje delator, disse que cuidava de pagamentos de empresas para a organização de Cabral e que os volumes de dinheiro cresceram tanto na época em que o emedebista esteve no governo que foi preciso pedir auxílio para os irmãos Chebar, que gerenciaram os recursos fora do país.
 
Miranda disse que Cabral ficou "muito assustado" quando, já preso, acompanhou os desdobramentos da fase Eficiência da Lava Jato do Rio, deflagrada em consequência da delação dos Chebar.
 
O delator também falou sobre descoberta da mais recente fase da operação, a Jabuti, que prendeu o presidente da Fecomércio-RJ, Orlando Diniz, na sexta-feira (23). Miranda afirmou que sua mãe e mulher foram contratadas do Sesc-Senac por Diniz, a mando de Cabral, sem nunca comparecer para trabalhar. "Foi uma forma que tinha de [Diniz] apoiar o Sérgio", falou.
 
Outro delator a prestar depoimento durante a tarde, Renato Chebar estimou em US$ 126 milhões o total de recursos no exterior que Cabral e seus aliados Miranda e Wilson Carlos (ex-secretário estadual) chegaram a manter fora do país.
 
O delator disse ter entregue dinheiro vivo ao ex-governador fora do país para bancar gastos pessoais, em Londres e Nova York. 
 
"Não tinha estrutura para tomar conta daquilo tudo", falou. A saída, disse, foi procurar auxílio dos operadores Vinicius Claret e Claudio Barbosa, também alvos da Lava Jato do Rio.
Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.