Descrição de chapéu Eleições 2018

Esquerda deve apontar saídas para crise e não focar só Lula, diz Manuela

Pré-candidata do PC do B ao Planalto critica 'ataques machistas' a Cristiane Brasil

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A pré-candidata à Presidência pelo PC do B, a deputada estadual Manuela D'Ávila (RS) - Pedro Ladeira - 18.nov.2017/Folhapress
Anna Virginia Balloussier
São Paulo
Se a esquerda quiser avançar nestas eleições, "deve trocar o pneu com carro andando, lembrando de "apontar saídas para a crise" em vez de centrar todos os esforços "no direito de Lula concorrer", diz a pré-candidata do PC do B à Presidência, Manuela D'Ávila, 36.

E não é só o campo progressista que perderia com a instabilidade da candidatura do ex-presidente, que periga cair na Lei da Ficha Limpa após ter a sentença decretada por Sergio Moro ampliada em dois anos e meio pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A ausência do nome mais bem colocado nas pesquisas "agravará a crise", afirma a deputada.

Ser oposição ao governo não faz com que D'Ávila compactue com o que julga serem "ataques machistas" contra a indicada de Michel Temer ao Ministério do Trabalho e colega na Câmara, Cristiane Brasil (PTB) ---que, em vídeo, aparece num barco envolta de amigos com torso nu. "A crítica não deve ser moral, por ser uma mulher em torno de dois ou três homens sarados."

Com sua condenação no TRF-4, a hipótese de Lula ser candidato até o fim é cada vez mais improvável. Qual o estrago para o campo da esquerda?
Lula é o principal líder popular do Brasil. Não creio que o impacto da instabilidade de sua candidatura se dê apenas na esquerda. Seja porque ele é o primeiro colocado em todos os cenários [da pesquisa Datafolha], seja porque, na nossa interpretação, é legítimo que possa disputar. A possibilidade de não figurar [no pleito] é antidemocrática não só por acharmos que ele foi julgado sem provas, mas também porque isso agravará a crise.

Antes especulava-se que, com Lula viável, o PC do B pudesse abrir mão de ter presidenciável. Algo muda?
Nossa pré-candidatura não tem relação com a hipótese de ele ser ou não candidato, mas com apontamentos de saídas para a crise.

Em entrevista ao jornal português "Avante", você diz que "os comunistas brasileiros não podem ficar reféns" de Lula estar ou não no páreo, que isso seria "fazer o jogo da direita".
O menino [o repórter] traduziu para o português de Portugal, não usei esse termo [reféns]. Isso dá uma alterada no conteúdo. Disse que a eleição tem que ser o debate de uma saída para crise. Se juntarmos todas as energias apenas na defesa de Lula... O que disse é que temos que trocar o pneu com carro andando, ou seja, defender o direito de Lula concorrer e apontar saídas para a crise.

O Datafolha mostra que, sem Lula no páreo, nomes de centro e direita dominam. É um baque para a esquerda?
Falta bastante para a eleição ainda. Outros cenários [que excluem o ex-presidente] são sem campanha intensa do próprio PT e de outros candidatos. É um registro do momento.

Pois neste registro do momento, Jair Bolsonaro lidera, e Luciano Huck, mesmo sem se dizer candidato, chega a empatar com um político estabelecido, Geraldo Alckmin. Que leitura fazer disso?
O povo busca saída para enfrentar a crise: 12 milhões de desempregados, violência crescente etc. Alguém que tente organizar uma força política em meio a incerteza e medo com o futuro, como é caso do Bolsonaro, segura bem. Mas, na hora do debate, qual vai ser sua proposta para segurança pública? Dizer que vai armar todo mundo é discurso de dono de fábrica de arma. Com Huck, tem essa vontade de as pessoas buscarem novidade.

Mas por que não buscá-la na esquerda?
Bolsonaro, Huck, Alckmin, todos estão aglutinados em torno do governo Temer. O que o povo sofrerá com as reformas [trabalhista e previdenciária] é o que essa turma defende. Apesar de disfarçar, são todos Temer, que só não foi no "Caldeirão do Huck", já girou toda a mídia brasileira...

A esquerda deve se pulverizar ou se unir para a eleição?
No final de fevereiro, devemos lançar um programa comum com PT, PSB, que por ora tem Joaquim Barbosa como possível candidato, o PDT de Ciro, o PC do B comigo... O ideal é que estejamos unidos programaticamente e que partidos escolham as táticas que julgarem melhor. Nós sempre achamos melhor a construção de frentes.

 

Testado no Datafolha, o ex-governador Jaques Wagner, um plano B do PT, tem 2%, e você, 3%. Seria mais estratégico se o PT abrisse mão de liderar uma chapa?
Não gosto de opinar sobre o partido dos outros.

Na esquerda, Ciro é o melhor posicionado (até 13%). Seria um bom nome para agregar o campo?
Ciro é grande amigo e candidato, mas hoje os partidos têm quatro candidaturas do nosso campo político.

Antes do julgamento de Lula, o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias, disse que não era hora para uma esquerda frouxa. Ela está?
Não sei a quem ele se referiu. O PC do B tem 97 anos de zero frouxidão.

Os atos pela queda de Dilma foram maiores em público.
Vi uma esquerda muito mobilizado e ativa. Problema é que o golpe foi muito bem articulado e intenso, não foi virtual moleza da esquerda. A gente não fez propaganda no "Jornal Nacional" [para chamar gente]...

Em vídeos no Facebook, você adota uma estratégia próxima a de youtubers. Tem um para "desmistificar" o capitalismo, outro sobre Temer no Silvio Santos...
Tenho 36 anos. Meu primeiro mandato foi aos 22 [como vereadora em Porto Alegre]. Na época, a RBS [filiada da Globo no Rio Grande do Sul] fez um giro pelo plenário para apontar mau comportamento. Outro vereador, por beber chimarrão, e eu porque usava Orkut como forma de prestar contas do meu mandato. Nunca fiz política sem redes. Hoje faço por diversas razões: por algoritmo, por capacidade de distribuição e por preço também, pois é muito barato produzir vídeo para internet.

Você defendeu Cristiane Brasil pelos "ataques machistas, por aparecer ao lado de caras sarados", que ela sofreu após ela publicar um vídeo em alto-mar para se defender de condenação trabalhista.
A gente precisa ser muito vigilante. Todos nós, em alguma instância, reproduzimos valores machistas. É muito natural que as pessoas confundam o absurdo que é uma candidata a ministra respondendo em tom jocoso críticas muito sérias. Mas a crítica não deve ser moral, por ser uma mulher em torno de dois ou três homens.

Como você, como pré-candidata, e o PC do B se posicionam sobre a crise na Venezuela?
Nós respeitamos não só a Venezuela, mas a autodeterminação de todos os povos. O Brasil tem um papel estratégico na construção da paz na América Latina e no mundo.

Mas Nicolás Maduro é ou não é ditador para vocês?
Defendo que o Itamaraty tenha postura de respeito à autodeterminação da Venezuela –e do Uruguai, dos EUA... Que busque sempre a paz para todos. [Por trás dos conflitos,] há senhores da guerra ganhando muito dinheiro com isso.

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