São Paulo

O ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PDT à Presidência da República, defendeu mudanças na maneira como as emissoras de televisão são organizadas no Brasil, mas afirmou que não irá propô-las se chegar ao Palácio do Planalto.

"A melhor forma de regulação da mídia é o controle remoto", disse Ciro, durante entrevista no 2º Encontro Folha de Jornalismo, nesta terça (20). "Quer mudar de canal? Muda de canal. Não precisa o governo regular."

Ciro manifestou apoio a duas ideias cujo debate considera atraente, "em tese": proibir a chamada propriedade cruzada de meios de comunicação e obrigar as emissoras de televisão a abrir espaço em sua programação para conteúdo produzido regionalmente.

O modelo brasileiro permite que um mesmo grupo econômico controle emissoras de televisão, rádio e jornais numa mesma região, o que não é permitido nos Estados Unidos e na Europa. "O mundo democrático inteiro proíbe", disse Ciro.

Os críticos do modelo brasileiro argumentam que impor restrições à propriedade cruzada serviria para estimular maior diversidade nos meios de comunicação e na produção de conteúdo audiovisual.

"A imprensa nacional é controlada por cinco famílias e uma igreja", afirmou Ciro, referindo-se provavelmente às famílias que controlam os grupos Folha, Globo e Estado, o SBT e a Bandeirantes, e à Igreja Universal do Reino de Deus, dos donos da Rede Record.

"Essas famílias têm ativos, ideologias, compromissos, valores", disse Ciro. "Se têm a nobilíssima função de informar o país, tem que ser plural."

O ex-ministro também defendeu o uso de financiamento público e verbas publicitárias do governo para estimular a produção regional e o desenvolvimento de fontes alternativas de conteúdo, como cooperativas de produtores culturais e jornalistas. 

Ele disse que, quando foi ministro da Integração Nacional, no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ouviu de um colega de ministério que era melhor não mudar os critérios de distribuição das verbas publicitárias do governo para não contrariar interesses da Globo.

"Deixa quieto que eu já falei com o João", disse o ministro, segundo Ciro, referindo-se ao empresário João Roberto Marinho, hoje presidente do conselho editorial do Grupo Globo. Questionado pela colunista da Folha Mônica Bergamo, Ciro não quis revelar o nome do colega de ministério.

Com o avanço da internet e das redes sociais, afirmou Ciro, o debate sobre tentativas de controle da mídia se tornou "estéril". "Hoje em dia você responde em tempo real no Facebook e imediatamente tem um contraponto", disse.

Ele comparou a informação que circula nas redes sociais a "penas jogadas na encruzilhada", e reclamou de reportagens publicadas sobre ele na Folha e na revista "Veja".

Em 1999, a Folha afirmou que Ciro omitiu parte dos seus rendimentos nas suas declarações de Imposto de Renda. Ele contestou a reportagem e teve seus esclarecimentos publicados na íntegra pelo jornal.

Em 2010, a "Veja" afirmou que Ciro e seu irmão, o ex-governador do Ceará Cid Gomes, participaram de desvios em prefeituras do Estado. Ciro disse que seus esclarecimentos nunca foram publicados e atacou a revista. "Não serve para nada. É uma ferramenta de calúnia, malversação da informação e gangsterismo", disse.

Procurada pela Folha, a direção da revista não quis se manifestar.

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