Movimentos contornam Facebook em novas estratégias digitais

MBL, Nas Ruas e Vem pra Rua redistribuem esforços para outras plataformas

Isabel Fleck
São Paulo

Grupos que desde 2013 tiveram mobilização política impulsionada pelo Facebook começam a traçar estratégias para o ano eleitoral que diminuem o peso dessa rede social, após alterações no seu algoritmo.

O movimento é uma reação à perda de alcance que as recentes mudanças na rede social trouxeram para os grupos.

Logo do Facebook; mudança no algoritmo diminuiu alcance de páginas de movimentos no Brasil
Logo do Facebook; mudança no algoritmo diminuiu alcance de páginas de movimentos no Brasil - 20.nov.2017 / AFP

O Nas Ruas viu seu alcance encolher de 33 milhões de pessoas por semana, há um ano —quando a página tinha 450 mil curtidas—, para 6 milhões no último mês, mesmo com 160 mil curtidas a mais.

Em janeiro, o Facebook passou a privilegiar conteúdos de interação pessoal em detrimento dos produzidos por páginas de grupos e empresas jornalísticas. 

Movimento que cresceu na defesa do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o Nas Ruas afirma que o impacto já foi sentido nas mobilizações. 

"A gente percebeu o reflexo nas manifestações de 24 de janeiro [julgamento do ex-presidente Lula]. Não conseguimos muita gente justamente porque o Facebook não deu amplitude de divulgação", diz Carla Zambelli, líder do movimento. “Nos comentários depois da manifestação, muita gente falou que, se soubesse, teria ido.”

O grupo decidiu agora redistribuir os esforços de publicação, reforçando a atuação no Twitter, Instagram e YouTube. 

Mudança semelhante ocorreu com o MBL (Movimento Brasil Livre) e o Vem pra Rua, também protagonistas da defesa do afastamento de Dilma, e o Livres, grupo liberal.

"Isso fez com que a gente tomasse uma medida que deveria ter tomado há algum tempo: fazer uma transferência para outras redes para não depender exclusivamente de nenhuma", afirma o líder do MBL Kim Kataguiri. 

'TUBARÃO NO AQUÁRIO'

À exceção da Frente Brasil Popular, que reúne grupos de esquerda, todos os movimentos consultados pela reportagem afirmam que sempre tiveram o Facebook como principal ferramenta de divulgação —até agora.

“Todos nós estávamos um pouco mais presos ao Facebook por ter sido mais simples, por ser a maneira mais fácil de comunicar, e aí você se acomoda”, diz Adelaide Oliveira, coordenadora nacional do Vem pra Rua. 

“Essa mudança no Facebook meio que jogou um tubarão no aquário e a gente vai ter que se mexer e usar outros caminhos.”

No caso do MBL, que tem 2,6 milhões de curtidas no Facebook, foi preciso aumentar entre 20% e 30% o número de postagens desde a mudança para manter o alcance semanal de 40 milhões de pessoas, segundo Kataguiri.

A ideia agora é passar a ter uma maior atuação no Youtube e no Twitter. “A meta é que a gente tenha o mesmo alcance do Facebook nas outras redes ou até mais antes das eleições”, diz.

No Youtube, o grupo já vem intensificando o trabalho com transmissões ao vivo, como no dia do julgamento do ex-presidente Lula no TRF-4, no fim de janeiro. 

Segundo o líder do MBL, o retorno é até melhor: enquanto no Facebook as postagens alcançam no máximo 2% do número de pessoas que curtem a página, no Youtube, por causa das notificações enviadas pela plataforma, entre 60% e 70% dos 200 mil inscritos assistem a cada um dos vídeos postados.

A estratégia do Nas Ruas também envolve mais o Youtube, com a orientação de colocar todos os vídeos produzidos também nesta plataforma — onde eles têm 15 mil seguidores, contra os 636 mil do Facebook.

A meta inclui ainda usar mais o Twitter e o Instagram, ferramentas que o grupo admite não conhecer bem. “Estamos procurando voluntários que entendam [dos dois], porque nosso caixa é muito baixo para contratar uma agência”, diz Zambelli.

O Vem pra Rua afirma ter "reagido rápido" para tentar manter as 40 milhões de visualizações mensais, com maior número de postagens no Facebook e mais vídeos, mas reconhece que é preciso "voltar o foco para outras mídias". 

“A gente já está chamando ações através do Twitter. Em pleno Natal, conseguimos chegar ao trending topics mundial, o que foi bastante relevante numa mídia que a gente não usava tanto.”

O diretor de comunicação do Livres, Mano Ferreira, afirma que o grupo percebeu, com a diminuição no alcance, que era hora de tirar o Facebook do papel de "nave-mãe", ao redor da qual "orbitavam" os perfis do grupo nas outras redes.

"A ideia é tentar fazer um trabalho mais ou menos igualitário de esforço, reforçando a atuação no Twitter, Instagram e YouTube e vendo os retornos para o movimento." 

WHATSAPP

Para a Frente Brasil Popular, que tem 156 mil curtidas em sua página no Facebook, a rede já perdia para o WhatsApp como ferramenta de divulgação. 

“A gente sempre teve a ideia de que a métrica do Facebook não tem que influenciar tanto a nossa estratégia de comunicação”, diz Ana Flávia Marx, uma das responsáveis pela comunicação do grupo.

Segundo ela, como o público-alvo da frente são as 60 entidades que fazem parte dela, o WhatsApp funciona melhor para o envio de informações e a troca de dados.

“Temos agora, por exemplo, o Voz Popular, um programa de áudio de até três minutos que enviamos pelo WhatsApp”, exemplifica.

Com a mudança no Facebook, o Whatsapp também deve se tornar ainda mais importante para os demais movimentos.

O Nas Ruas tem feito um esforço para cadastrar mais pessoas em suas listas. “A gente vai passar a mandar sempre a postagem mais importante do dia [nas outras redes] por WhatsApp”, diz Zambelli.

O MBL tem preparado vídeo mais curtos, de dois minutos no máximo, mirando o WhatsApp. “Estamos fazendo com uma qualidade menor, que também possa baixar em celulares com pouco pacote de internet e alcançar o maior número de pessoas possível”, diz Kataguiri.

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