PT 'inaugura' viaduto em SP com nome de Marisa Letícia

Ato foi marcado por homenagens, defesa de Lula e críticas a Doria

Géssica Brandino
São Paulo

O diretório do PT em São Paulo promoveu na manhã deste sábado (3) um ato popular para inaugurar o viaduto Dona Marisa Letícia, que liga a Estrada do M'Boi Mirim à avenida Luiz Gushiken, na zona sul de São Paulo. A inauguração oficial no início de janeiro foi cancelada pelo prefeito João Doria.

No carro de som, discursaram vereadores, deputados estaduais e lideranças do PT, como Luiz Marinho, Rui Falcão, Eduardo Suplicy e os ex-ministros Alexandre Padilha e Eleonora Menicucci.

A ex-ministra das mulheres na gestão Dilma relembrou a história da mulher de Lula e soltou o grito "Marisa, presente!", entoado pelos militantes, ativistas sociais e políticos no local. Também houve falas de apoio à candidatura de Lula à Presidência e contra a decisão do judiciário de confirmar a condenação do ex-presidente no caso do tríplex em Guarujá.

 
Militantes do PT vestidos de lilás e vermelho e de braços levantados diante da placa azul "viaduto Dona Marisa Letícia"
Ato do PT em homenagem a ex-primeira-dama Marisa Leticia inaugura simbolicamente na zona sul da cidade de São Paulo - Diego Padgurschi /Folhapress

O vereador Suplicy também falou do companheirismo de Marisa e do apoio dado por ela aos metalúrgicos presos durante as greves em São Bernardo, no ABC. Já o presidente estadual do PT, Luiz Marinho afirmou que foi a ex-primeira-dama que costurou a primeira bandeira do partido.

Militantes e moradores de bairros da região se concentraram num canteiro ao lado da obra. Segundo a organização do evento, cerca de 500 pessoas participaram do ato. A dona de casa Tereza Oliveira, 57, moradora do jardim Horizonte Azul saiu de casa às 8h e pegou dois ônibus para chegar ao local. Ela disse que Marisa merecia a homenagem. "Achei perfeito. Ela foi uma mulher lutadora, decente e que sempre honrou os direitos dela".

Marisa morreu há um ano, aos 66 anos, após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral). O ex-ministro Alexandre Padilha fez um discurso duro e afirmou "a dona Marisa Letícia não morreu: ela foi assassinada pela intolerância que toma conta desse país".

Padilha atribuiu à piora do quadro clínico da ex-primeira-dama ao que chamou de "perseguição" a Lula e aos filhos do casal e declarou "deixem em paz essa família". O ex-ministro da saúde também criticou a postura dos médicos de Marisa, que divulgaram informações sigilosas sobre a paciente na época.

PLACA

Sob gritos de "olê, olê, olá, Lula... Lula" e "Marisa, presente", petistas descerraram uma placa feita pela própria militância do partido para substituir a oficial, vandalizada no início de janeiro e retirada para reforma pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Segundo o diretório do PT, não há informação sobre quando a placa original será instalada novamente.

O prefeito João Doria foi criticado de forma unânime pelos presentes por ter se recusado a inaugurar a obra. "Se fosse um prefeito democrático e não um agente do ódio instalado nesse país, ele viria aqui pessoalmente para a inauguração. Deixo aqui meu repúdio e protesto contra a postura arrogante, preconceituosa e, acima de tudo, odiosa", afirmou o presidente estadual do PT, Luiz Marinho.

O projeto que deu o nome de Marisa à obra foi sancionado pelo prefeito interino Milton Leite (DEM) na última semana do ano, quando Doria e o vice-prefeito Bruno Covas estavam em viagem. Vereadores presentes no ato falaram que além da mulher de Lula, Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também foi homenageada pelo legislativo.

De autoria do vereador Reis (PT), o projeto inicialmente previa a adoção do nome para o prolongamento da Avenida Chucri  Zaindan até a rua Laguna, mas não houve acordo com as bancadas de outros partidos. O local foi nomeado de Cecília Lottenberg.

A poucos metros do ato, o pintor Carlos Damasceno, 60, o morador antigo do jardim Figueira Grande, também disse achou a homenagem "bacana", que há apoio na região, mas que alguns queriam que o viaduto fosse nomeado com alguma referência ao bairro, como a estrada M'Boi Mirim. "Colocaram o nome dela e arrancaram a placa", conta. O pintor chamou a atitude de Doria de "palhaçada".

Chaveiro no jardim São Luiz, Arcanjo Pereira Neto, 73, acompanhava dentro do comércio o ato de inauguração. "Eu achei uma coisa muito errada, porque têm muitos moradores antigos que mereciam ter o nome no viaduto e colocaram o nome de uma pessoa que nunca foi nada, só mulher do Lula". O morador concordou com a atitude de Doria.

Além do ato desta manhã, uma missa em memória de Marisa Letícia será celebrada às 19h, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo. Encerrado o período de luto, Lula e os filhos decidiram doar os pertences de Dona Marisa.

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