Risco é o novato ser 'inocente útil', diz conselheiro de novos políticos

Marcos Vinícius de Campos dirige a Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade)

Joelmir Tavares
São Paulo

Desde 2012 na função de diretor-executivo da Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), o advogado Marcos Vinícius de Campos, 56, virou conselheiro de novatos no mundo político.

Pela entidade —criada em 2012 por Guilherme Leal, fundador da Natura e candidato a vice de Marina Silva (Rede) em 2010— passaram fundadores de grupos como o Agora!, o Acredito e o Brasil 21.

Entrevista com o diretor-executivo da Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade) Marcos Vinícius de Campos - Eduardo Anizelli/Folhapress

Para Campos, os pré-candidatos dos movimentos que pregam renovação precisam tomar cuidado para não se tornarem "inocentes úteis" nas mãos dos partidos, isto é, serem usados para ajudar a eleger "os mesmos de sempre".

Folha - Que fatores estão envolvidos nas candidaturas dos movimentos de renovação?

Marcos V. de Campos - Na Raps a gente sempre fala para a pessoa não ser inocente útil. Isso acontece quando a pessoa quer participar de uma eleição e não tem noção de quantos votos precisa, não tem trabalho acumulado. Aí ela consegue 10 mil votos com os amigos dela, não tem chance de ganhar, mas os votos dela vão ajudar a eleger alguém que pode ser um bandido.

O risco é ser usado para atingir o quociente partidário?

Sim. Numa eleição proporcional para o Parlamento, a maior dificuldade dos partidos hoje é montar chapa. Eles não têm gente e precisam ter candidatos que venham e contribuam para isso. Fazem contas para ter gente que leve os candidatos mais competitivos. Então ficam aí fazendo essa conversa de "estamos abertos aos movimentos".

E como daria para driblar isso?

Nosso conselho é: para uma eleição proporcional você precisa estar preparado com anos de antecedência e ter potencial de atingir pelo menos metade do quociente eleitoral [patamar mínimo necessário para se eleger com votação própria]. Com isso, está disputando para valer uma vaga. Mas não é fácil.

Quais as dificuldades?

Essa juventude que quer entrar não vai ter dinheiro público, não vai ter tempo de TV. As legendas vão destinar a verba dos fundos públicos para quem já tem mandato. A lógica que preside esse processo não é a de renovação, de dar oportunidade que novos quadros entrem na política. É uma lógica de atração para que haja uma soma para as estruturas que já estão lá.

Como são essas estruturas?

Hoje a forma como se recrutam os candidatos é mediada pelas regras do patrimonialismo, do clientelismo.

Os movimentos de renovação querem se reenergizar na sociedade, e as pessoas se sentem confortáveis de estar neles porque veem que ali elas têm liberdade. Por que não se faz esse movimento de mobilização dentro dos partidos? Essa é uma pergunta que a gente tem que enfrentar. Por que as legendas não são espaços atraentes, amigáveis? Porque elas são estruturadas para manter o status quo.

Mesmo assim, o sr. acredita no ideal de renovação?

Você acha que algum partido quer que os movimentos se filiem para os membros tomarem a vaga de algum dos parlamentares que estão lá? Acreditar nisso seria de uma inocência quase perturbadora. Não é assim que funciona.

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