Será muito difícil que candidato 'puramente reacionário' vença, diz FHC

Ele ainda questionou o fato de Bolsonaro ser associado a uma imagem de 'liberal'

Isabel Fleck
São Paulo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse nesta terça-feira (27), ao comentar a candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), ser “muito difícil” que alguém que se apresente como “puramente reacionário” vença a eleição presidencial no Brasil.
 
Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - Avener Prado - 8.fev.2018/Folhapress
Ele ainda questionou o fato de Bolsonaro ser associado a uma imagem de “liberal” após escolher o economista Paulo Guedes para montar ser programa econômico.
 
“É muito difícil que alguém que se apresente como puramente reacionário —que não é liberal, é reacionário— ganhe”, disse FHC, durante seminário organizado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” na capital paulista. “Mas em política nada é impossível”, completou.
 
Segundo o ex-presidente, Bolsonaro “simboliza o autoritarismo em função do medo que tem aqui” e “aparece como uma força de quem quer ordem”, mas não tem “pensamento de liberal”. “Não sei se até tem pensamento”, afirmou. “Eu acho que seria bom ter um ingrediente liberal.”
 
Para o tucano, no entanto, “quem for candidato do mercado vai perder” a disputa, “porque é simbolizado como se fosse dos ricos”. “Tem que ser um candidato que as pessoas sintam que a vida deles vai estar mais segura e que eles vão ter mais oportunidades”, afirmou.
 
Questionado várias vezes sobre a candidatura do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para o Planalto, FHC disse que o companheiro de partido “tem chance de ganhar”. 
 
 
“Eu digo chance porque estou fazendo uma análise. Depende de como se desempenhe —nós não podemos escapar disso”, disse.
 
“Numa sociedade de massas como a nossa, com uma mídia com essa diversidade que tem e com a paixão que tem por destruir —o que é normal—, você tem que parar em pé na corda bamba. Não é pra qualquer um. Quem já passou por isso tem mais chance de sobreviver.”
 
Para o ex-presidente, a escolha do ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida para a coordenação econômica da campanha de Alckmin foi “positiva” para “despertar confiança” nos eleitores de que o tucano será capaz de levar adiante reformas necessárias.

FHC falou ainda sobre a candidatura de Ciro Gomes (PDT): “um rapaz impetuoso”, que “tem presença”, mas “muda de opinião e não tem rumo definido”. 

Segundo o ex-presidente, “não é um bom sinal” suas várias mudanças de partido nos últimos anos —saiu do PSDB em 1996 para o PPS, mas já tinha passado antes pelo PDS (Partido Democrático Social, extinto em 1993) e o então PMDB. Também passou pelo PSB e ajudou a fundar o Pros.

“O Ciro saiu muito dos partidos, não sei em que partido ele está agora. Ele é instável, a meu ver, do ponto de vista político”, afirmou FHC.

MILITARES

Ao ser questionado sobre a decisão do presidente Michel Temer de, após deslocar o ministro Raul Jungmann para o recém-criado Ministério de Segurança Pública, deixar à frente da Defesa um militar —o general Joaquim Silva e Luna , FHC disse que, "simbolicamente" seria melhor que fosse um civil.

"No passado, colocar um civil no Ministério da Defesa era um símbolo de que o governo civil prevalece. Hoje já não tem o mesmo significado que teve naquela época", disse. "Simbolicamente, se fosse um civil, seria melhor. Mas do ponto de eficiência, talvez esse militar tenha a eficiência necessária." 

Ele, contudo, destacou que o governo estava "encurralado" e "tinha que fazer alguma coisa" em relação à segurança. 

"Sobretudo os governos que não são fortes acabam apelando para militares", disse, citando o exemplo do governo de Salvador Allende, no Chile (1970-1973). "Porque, quando começa a faltar crença nos partidos civis, apela-se para uma instituição que tem hierarquia."

SUPREMO

No mesmo evento, o ex-ministro da Defesa e ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim fez críticas a quem “precisa do tribunal para fazer biografia” e ao fato de a corte ter virado “um órgão de soma de vontades individuais”. 

Para ele, é claro que há “dois tipos de indicação” ao STF: “Aqueles que tiveram relação direta com o presidente que indicou em consequência de sua biografia e outros que não tinham biografia antes de chegar à corte”. “Quando chegam ao STF, os que não tinham biografia passam a diferir na corte para construir sua biografia”, disse.

“O Supremo tem que ser um órgão plenário e não um órgão de soma de vontades individuais —e o que está acontecendo agora é uma soma não só de vontades, mas de conflitos individuais.” 

O ex-ministro do STF Eros Grau também criticou o “grande espetáculo televisivo” de “decisões monocráticas” que o Supremo se tornou. “O Supremo, que era um órgão colegiado pela sua natureza, acabou se transformando num tribunal monocrático, de quarta ou quinta instância.”

 
 

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