O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (21) que o presidente Michel Temer (MDB) usa a intervenção federal no Rio de Janeiro para "se cacifar" na eleição deste ano.
"Não sei se vocês perceberam a sacada do Temer. […] Ele está pensando com isso em se cacifar pra ser presidente da República na eleição de 2018", disse Lula, ressaltando que a pauta da segurança tem apoio da população enquanto a reforma da Previdência não tinha.
"Ele estava tentando acabar com a Previdência, mas pesquisas mostravam que 90% do povo era contra. […] O que ele fez? Ele inventa a questão da segurança, tira a reforma da Previdência e faz uma intervenção no Rio de Janeiro, que tem 90% de apelo", disse Lula.
O petista discursou durante visita ao acampamento Maria da Conceição, do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em Itatiaiuçu (MG), a 60 km de Belo Horizonte. Lula estava acompanhado do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), e de deputados e dirigentes petistas.
Lula disse que Temer "quer pegar os votos" do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), presidenciável ligado às causas de segurança. “Tem um público para a bobagem neste país.”
"Eles estão querendo mudar a pauta. […] Jogaram na nossa cabeça pra todo mundo discutir intervenção e segurança pública”, disse.
Lula também criticou o uso do Exército para controlar a violência. “Nós queremos segurança, mas o Exército não foi feito pra isso. É para defender a soberania de um país contra possíveis inimigos externos. E não para enfrentar jovens pobres ou marginais na periferia da cidade.”
Para o petista, as Forças Armadas devem se concentrar em vigiar as fronteiras. O ex-presidente afirmou ainda que a violência está ligada à educação e emprego e que é preciso uma “discussão e proposta” sérias sobre o tema.
“Não pra gente fazer campanha como o Temer está fazendo. […] Ele está falando ‘ninguém gosta de mim, o povo, os partidos, eu estou sozinho, eu vou tentar entrar no jogo’. Pá! Inventou essa de colocar o Exército pra tomar conta do Rio.”
DENÚNCIAS
Lula voltou a dizer que as acusações de corrupção que pesam contra ele são uma forma de tirá-lo da disputa presidencial, já que os concorrentes têm menos votos. Segundo o petista, depois do “golpe parlamentar” de 2016, seus adversários não poderiam “entregar o governo” a ele dali a dois anos.
"Para evitar que eu possa ser candidato, se o PT me escolher, inventaram essa quantidade enorme de denúncia. [...] Tem hoje uma única unanimidade nacional: o Lula não pode ser candidato", disse.
Ele afirmou novamente que o tríplex em Guarujá (SP) não é dele. A acusação de que o apartamento seria uma forma de pagamento de propina lhe rendeu uma pena de 12 anos e um mês aplicada pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), o que o impede de concorrer segundo a Lei da Ficha Limpa.
Lula ainda disse que o país passa por um "período excepcional de falta de democracia" e que os mais pobres tiveram ascensão social em seu governo.
Em sua fala, Pimentel prometeu regularizar o acampamento, que classificou como "uma vitória", e também criticou a intervenção no Rio. "Aqui não vai ter intervenção. Quem cuida de Minas Gerais são os mineiros.”
O governador, que concorrerá à reeleição, defendeu a candidatura de Lula. "Assim como a esperança venceu o medo em 2002, agora em 2018 a esperança vai vencer a injustiça."
Cercado por militantes do MST e da CUT, o ex-presidente passou pelo armazém, horta e escola do local antes de discursar. Foi recebido por crianças e ganhou abraços e beijos de senhoras.
Inaugurado em março do ano passado, o acampamento do MST tem cerca de 700 famílias e ocupa uma área de 400 hectares pertencente à MMX, empresa de mineração de Eike Batista.
O MST mantém ainda outro acampamento em terras da MMX em São Joaquim de Bicas, região metropolitana de Belo Horizonte. As duas fazendas em breve serão alienadas para cobrir dívidas da empresa, que já teve seu plano de recuperação aprovado por credores.
AGENDA
Lula está em Belo Horizonte para participar de um ato em comemoração aos 38 anos do PT e pela defesa de sua candidatura. Ele chegou na terça (20) à capital mineira e jantou com Pimentel.
O ato, que inicialmente aconteceria no início do mês e lançaria a pré-candidatura de Lula, foi marcado após a divulgação da pesquisa Datafolha que coloca o petista como favorito na corrida ao Planalto mesmo após a confirmação da sua condenação pelo TRF-4.
Antes de chegar ao MST, pela manhã, o petista deu entrevista à rádio Itatiaia em que chamou a intervenção no Rio de “pirotecnia”. Também defendeu a aliança com o MDB nas eleições para governador em Minas e fez elogios ao empresário Josué Gomes da Silva (MDB), filho do vice-presidente da gestão Lula, José Alencar, e que é cotado para concorrer como seu vice.
Durante a tarde, Lula visitou moradores da Colônia Santa Isabel, em Betim, na região metropolitana. O local era um centro de tratamento de hanseníase e até hoje abriga idosos com sequelas da doença.
Acompanhado do prefeito de Betim, Vittorio Medioli (Podemos), Lula exaltou as conquistas sociais do seu governo. "Nunca mais vocês serão tratados como cidadãos de terceira classe", disse.
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