Temer nomeia investigado para agência reguladora e diz que não sabia

Mário Rodrigues Júnior será diretor-geral até 2020; ele é apadrinhado político do PR

Fábio Fabrini
Brasília

O presidente Michel Temer nomeou o engenheiro Mário Rodrigues Júnior para o cargo de diretor-geral da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). O executivo foi citado em depoimentos de empreiteiros alvo da Lava Jato por suposta participação em esquema de corrupção nas obras do Rodoanel de São Paulo.

Trecho Sul do Rodoanel Mario Covas, em funcionamento desde 2010. - Avener Prado/Folhapress

Questionado pela Folha, o Palácio do Planalto informou que o presidente não tinha conhecimento das denúncias contra o executivo, mas não adiantou se ele recuará da nomeação, publicada nesta terça (20) no Diário Oficial da União.

Júnior substituirá Jorge Luiz Macedo Bastos e terá mandato até 18 de fevereiro de 2020. Ele é apadrinhado político do PR, partido controlado pelo ex-deputado condenado no mensalão Valdemar Costa Neto.

Desde agosto de 2016, já ocupava um cargo de diretoria na ANTT. Antes, exerceu funções de comando na Valec, a estatal federal de ferrovias, e na própria agência reguladora.

O novo diretor-geral da ANTT, órgão que fiscaliza os serviços de exploração da infraestrutura de transportes, é investigado por sua atuação como diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) em gestões tucanas. Coube a ele conduzir a licitação para um dos trechos da obra, em 2006.

Após as delações da Odebrecht, um inquérito sobre o caso foi aberto pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar o senador José Serra (PSDB-SP), ex-governador de São Paulo, por supostos pagamentos indevidos relacionados ao empreendimento. O senador nega participação em quaisquer irregularidades.

Conforme os depoimentos à Polícia Federal e ao MPF (Ministério Público Federal), Júnior foi o responsável por recolher comissões das empresas interessadas em executar os serviços. Os valores teriam sido destinados a campanhas do PSDB.

'ACORDO'

O executivo Roberto Cumplido, ex-diretor de Contratos da Odebrecht em São Paulo que fez delação premiada, contou à PF que as empresas fizeram "acordo de mercado" para vencer a licitação para o Rodoanel Sul com desconto mínimo em relação ao preço estabelecido no edital.

Ele afirmou que, em contrapartida, Júnior solicitou recursos para, supostamente, repassar para o partido.

"Júnior mencionava que deveria arrecadar recursos para o PSDB. De fato, após a licitação, efetuou o pagamento de R$ 1,2 milhão para Júnior. Concordou com o pedido feito por Júnior, tendo em vista que, de fato, foram incluídos serviços no edital do Rodoanel Sul, conforme demanda das empresas", declarou Cumplido num dos depoimentos.

Segundo ele, o dinheiro foi entregue em espécie ao então diretor da Dersa num endereço indicado por ele próprio. O delator relatou que todas as empreiteiras participantes da concorrência foram procuradas para fazer pagamentos a Júnior na proporção de sua participação nas obras.

O executivo da OAS Carlos Henrique Barbosa Lemos, líder operacional da empreiteira em São Paulo, também acusou Júnior de integrar o suposto esquema de corrupção. Em depoimento à PF, ele contou que, em troca de facilidades para conseguir participar das obras, as empreiteiras concordaram em pagar R$ 30 milhões para reforçar o caixa de campanhas tucanas.

"Caberia a cada empresa realizar o pagamento solicitado diretamente a Júnior", contou.

Os recursos, segundo ele, tinham de ser entregues ao agora diretor-geral da ANTT. O executivo relatou que, no caso da OAS, o repasse foi de R$ 2,3 milhões, parte em espécie e parte em doações oficiais ao partido.

Em nota, a ANTT informou que o novo diretor-geral não comenta "conteúdos que serão objeto de exame pelo Poder Judiciário".

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