Descrição de chapéu Eleições 2018

Boulos faz aceno a petistas e diz que Lula sofre injustiça

Pré-candidato do PSOL à Presidência diz que o PT poderia estar em sua base parlamentar se houvesse uma aliança programática

Fábio Zanini Fernando Canzian
São Paulo

Guilherme Boulos, 35, pré-candidato à Presidência pelo PSOL, afirma que, se eleito, o PT poderá ter participação em seu governo e que os movimentos sociais de sem-teto e sem-terra terão "um grande aliado" no Planalto.

Em entrevista à TV Folha, Boulos diz que o ex-presidente Lula é vítima de "uma profunda injustiça, uma condenação sem provas" e que gostaria de ter uma aliança "programática" com o PT.

Líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), ele diz que o Congresso está desmoralizado e que, na Presidência, pretende governar com plebiscitos e referendos para que "o povo decida sobre grandes temas".

TV Folha ao vivo apresentado por Fernando Canzian e Fabio Zanini, com o entrevistado Guilherme Boulos
TV Folha ao vivo apresentado por Fernando Canzian e Fabio Zanini, com o entrevistado Guilherme Boulos. - Vitor Serrano/Folhapress

Sobre o governo do ditador Nicolás Maduro na Venezuela, Boulos afirma que ele foi "eleito pelo povo". "Vejo muito pouco ser falado sobre o fato de a oposição na Venezuela ser violenta. E que a direita tem milícias."

CONGRESSO E PLEBISCITOS

Espero que o povo brasileiro saiba renovar esse Congresso, que está desmoralizado amplamente. Que aprovou a reforma trabalhista e o congelamento de investimentos sociais. Não podemos fugir do fato de que esse modelo de governabilidade faliu.

A lógica da política como balcão de negócios é que está gerando a mais profunda desesperança. Precisamos fazer uma profunda reforma política no Brasil que enfrente a lógica de que um partido como o MDB, que nunca elegeu um presidente da República, chantageie e dê as cartas há 30 anos.

O Congresso Nacional é fundamental, mas não pode decidir tudo sozinho. Uma reforma política deve colocar o povo no tabuleiro da política, propondo plebiscitos e referendos para temas fundamentais. As pessoas têm de ser ouvidas.

ESQUERDA E DESIGUALDADE

Estamos em uma guinada tão triste para a intolerância, ódio e conservadorismo que basta você ficar parado que você está na esquerda. Eu sou o candidato que defende a igualdade social, o resgate da democracia. Estamos em um ponto em que quem defende a igualdade social e se coloca contra o abismo que leva, hoje no Brasil, a termos seis bilionários tendo o que têm 100 milhões de pessoas, é tachado de extrema esquerda. Isso é sinal dos tempos.

PT E LULA

Se o PT defender o mesmo programa que estamos defendendo, seguramente [estará na base do governo]. A aliança que queremos é programática. A nossa candidatura é resultado de uma aliança do PSOL e PCB com uma série de movimentos sociais, o que é algo inédito. O PSOL vai aumentar sua bancada e vai entrar com condições de disputa em vários Estados.

De todas as coisas que nos diferenciam da direita, as mais importantes são a solidariedade e a generosidade. O fato de eu ter diferenças com o Lula, que são públicas, não quer dizer que eu vá ser conivente com injustiça. O que está acontecendo com o Lula neste momento é uma profunda injustiça, uma condenação sem provas, com setores do Judiciário agindo como chefes de partido em um movimento evidente para tirá-lo do processo eleitoral.

 

CORRUPÇÃO

Acredito que combater a corrupção e não ser leniente com ela é chave. Mas o combate à corrupção não pode ser motivo para perseguição política. Em alguns momentos a Lava Jato atuou de forma política, e o caso do julgamento do Lula é um deles.

VENEZUELA

A Venezuela errou ao não ter diversificado sua matriz econômica e hoje é totalmente dependente do petróleo. Quando ele estava a US$ 100 o barril, estava bem. Quando cai para U$ 40, a economia foi para o saco. Paga-se hoje o preço da não diversificação da matriz econômica. A Venezuela tem problemas na política. Mas vejo muito pouco ser falado sobre o fato de a oposição ser violenta, que comprovadamente queima alimentos. A direita tem milícias na Venezuela.

O governo Maduro foi eleito e o povo na Venezuela é quem tem de definir os destinos do país. O que é inadmissível é ter ameaças de invasão estrangeira. Se as prisões na Venezuela são políticas, isso é um problema. Se for eleito presidente chamarei o [Nicolás] Maduro para a posse, assim como chamaria o [Donald] Trump.

OCUPAÇÕES

Temos uma situação dramática no Brasil, com mais de 7 milhões de moradias vazias e mais de 6 milhões de famílias sem casa. Tem mais casa sem gente do que gente sem casa. Os movimentos sociais que lutam por moradia digna, por terra, por reforma agrária e reforma urbana seguramente teriam num governo nosso um grande aliado. Uma ocupação em um terreno ocioso não acontece porque as pessoas querem, ninguém vai lá e ocupa porque achou bonito. Elas ocupam porque não têm alternativa.

A melhor forma de lidar com problema de moradia no Brasil é ter políticas que construam milhões de moradias, não é reprimindo com polícia.

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