Empresários apoiam ação militar no Rio

Em evento na semana passada, eles viram com otimismo o uso das Forças Armadas contra violência no Estado

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São Paulo

O avanço de militares sobre postos de comando tradicionalmente civis e suas pretensões eleitorais são recebidos com otimismo por membros da elite econômica nacional.

O empresário Flavio Rocha, proprietário da Riachuelo, no jardim de sua casa em São Paulo
O empresário Flavio Rocha, proprietário da Riachuelo, no jardim de sua casa em São Paulo - Eduardo Knapp - 8.nov.2017/Folhapress

“Estamos em uma situação de guerra, a atitude que tem de ter é torcer a favor”, afirmou Flavio Rocha, da Riachuelo, que tenta viabilizar uma candidatura presidencial. 

“Qualquer forma de discriminação é nefasta, um militar é um ser humano como qualquer outro”, justificou.

Liderado por Rocha, o movimento Brasil 200, composto por empresários como Alberto Saraiva (Habib’s), João Apolinário (Polishop), Ronaldo Pereira Junior (Óticas Carol) e Pedro Thompson (Estácio), lançará nesta semana um plano de segurança com medidas de endurecimento do combate à violência.

Prevê ações como o acionamento de forças especiais do Exército e da Marinha “para ocupar áreas mais críticas” e operações de “apoio social” pelas Forças Armadas.

Na plateia de palestra que Flavio Rocha deu em São Paulo, na quinta-feira (1º), a empresária Rosy Verdi (Rodobens) apontou a necessidade de “uma coisa mais dura”.

“Tem hora que a gente precisa receber um não, igual criança. Precisamos de alguém que ponha o bonde nos trilhos outra vez e, para isso, militar é bom e a gente vai ter que obedecer”, opinou.

A empresária disse que “democracia tem tudo a ver”, mas elogiou o governo autoritário da Tailândia. “É um país que tem tudo o que nós temos aqui, praias maravilhosas, mas muito mais pobreza, e você não vê esse lado, vê só as coisas bonitas.”

Uma pesquisa Datafolha de junho de 2017 mostrou que as Forças Armadas são a instituição mais confiável no país hoje e sua imagem melhora nos segmentos mais ricos.

Entre os que ganham até dois salários mínimos, 38% dizem confiar muito nela e 16% não confiam. Nas famílias com renda mensal acima de dez salários mínimos, 47% confiam muito e 10% não confiam. Entre apoiadores de Jair Bolsonaro (PSC), o índice vai a 58%.

IMAGEM

Segundo o Datafolha, a comparação de pesquisas sobre o prestígio das instituições permite dizer que a imagem das Forças Armadas já foi mais equilibrada entre as classes econômicas. 

“Entre os mais pobres, o apoio é menor, pois vivenciam, além do medo dos bandidos, a insegurança em relação às ações policiais”, disse o diretor-geral do instituto, Mauro Paulino. 

“Não por acaso, são os jovens de classe média que formam a maior parte do eleitorado de Bolsonaro. Os jovens pobres desconfiam do discurso repressivo”, constatou.

O historiador Rodrigo Patto Sá Motta criticou a atuação de militares no governo. “Eles deveriam ficar apenas nas casernas”, afirmou.

“Muitas pessoas das classes média e alta se sentem mais seguras com a visão do aparato militar nas ruas, o que gera a sensação de que serão mais bem defendidos dos assaltos e crimes comuns. No entanto, parece que a população das áreas carentes tem opinião diferente, já que as forças de segurança costumam tratar os pobres como se fossem criminosos em potencial.”

Para o historiador Carlos Fico, apenas setores mais intelectualizados veem as Forças Armadas com resistência por conta da ditadura militar (1964-1985). A sociedade brasileira, em geral, é receptiva.

A elite econômica, em especial, “é pragmática em favor de seus próprios interesses, como é natural. Não se trata mais da imagem das Forças Armadas, mas de defesa de interesses econômicos”, disse Fico.

O pesquisador, porém, discordou da visão de que o avanço dos militares reflete a sua “proeminência efetiva”. Para ele, trata-se de sua instrumentalização pelo presidente Michel Temer (MDB) para fins políticos. 

“Não creio que os próprios militares estejam satisfeitos, porque obviamente a intervenção no Rio de Janeiro vai dar errado, é claro que o problema de segurança pública não vai se resolver até dezembro, e a culpa vai cair no colo do Exército”, afirmou.

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