Engenheiro de obra em sítio diz que encontrou jogo de tabuleiro com nome de Lula

Ex-presidente  é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro no processo referente ao imóvel

Ana Luiza Albuquerque
CURITIBA

O ex-engenheiro da Odebrecht Paulo Henrique Kantovitz  afirmou na tarde desta segunda-feira (26) ao juiz Sergio Moro que, em certa ocasião, encontrou um estojo de um jogo de tabuleiro com o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no salão principal do sítio em Atibaia (SP). 

Ele prestou depoimento como testemunha de acusação na ação penal que investiga se Lula se beneficiou de R$ 1,02 milhão em benfeitorias no sítio, que teriam sido pagas pelas construtoras Odebrecht e OAS. Kantovitz disse não se lembrar do nome exato inscrito no tabuleiro, mas que fazia referência ao ex-presidente.

Vista aérea do sítio frequentado pelo ex-presidente Lula na cidade de Atibaia, no interior de São Paulo
Vista aérea do sítio frequentado pelo ex-presidente Lula na cidade de Atibaia, no interior de São Paulo

Ele foi um dos engenheiros que participaram das reformas no sítio.  Kantovitz afirmou, ainda, que Rogério Aurélio Pimentel, ex-assessor de Lula, foi apresentado a ele como representante do dono do sítio, mas que este dono nunca foi explicitado. 

Ele também confirmou depoimento de Frederico Barbosa, ex-engenheiro da empreiteira, que disse que a Odebrecht não queria ser identificada pela obra .

OUTRO LADO

Em nota, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, afirmou que não há nada que vincule as supostas reformas realizadas no sítio aos contratos firmados pela Petrobras ou a qualquer conduta ilícita do ex-presidente. "Mais uma vez fica claro que o processo foi indevidamente direcionado à Justiça Federal de Curitiba e que um julgamento justo, imparcial e independente deverá absolver Lula também nesse processo."

No processo que envolve o sítio, o ex-presidente é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo a acusação, ele se beneficiou de R$ 1,02 milhão em benfeitorias no imóvel, que frequentava com seus familiares. As reformas teriam sido pagas pelas empreiteiras Odebrecht e OAS.

De acordo com a Procuradoria, os valores usados nas reformas teriam vindo de contratos das empreiteiras na Petrobras, e repassados como vantagem ilícita ao ex-presidente.

Lula também teria pedido R$ 150.500 ao pecuarista José Carlos Bumlai, seu amigo, para que fossem realizadas reformas no sítio. Em setembro de 2016, Moro condenou Bumlai por ter adquirido em 2004 um empréstimo de R$ 12 milhões com o grupo Schahin em nome do PT. A dívida, segundo a acusação, foi quitada posteriormente por meio do contrato de operação do navio-sonda Vitória 10.000.

Uma reportagem da Folha, em janeiro de 2016, revelou que a Odebrecht realizou a maior parte das obras no sítio, gastando R$ 500 mil apenas em materiais.

Para a Procuradoria, o sítio, que está em nome dos empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna, pertencia, na realidade, a Lula, "proprietário de fato" do local, e foi comprado em seu benefício.

Entre as provas mencionadas pelos procuradores, estão emails enviados a endereços do Instituto Lula, que citam cardápios de almoço no sítio e viagens do petista a Atibaia.

O Ministério Público Federal chegou a apresentar ao juiz Sergio Moro uma planilha fornecida por Emyr Costa Junior, engenheiro da Odebrecht e colaborador. O documento, segundo o delator, demonstraria o empenho de R$ 700 mil na compra de materiais e serviços relativos à reforma do sítio em Atibaia (SP).

A defesa do ex-presidente, por sua vez, disse que não há qualquer conexão entre a planilha, o ex-presidente Lula e o sítio de Atibaia. O advogado Cristiano Zanin afirmou que o documento, além de não ter valor probatório, não apresenta relação com os sete contratos da Petrobras que fundamentam a acusação. A defesa de Lula vem afirmando que o sítio não é do ex-presidente.

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