Hackers discutem como ajudar no combate às fake news

Maioria dos usuários das redes parecem normais, mas são robôs, diz pesquisador de segurança

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Cancún
O pesquisador de segurança da Universidade do Texas Matt Tait durante palestra em Cancún - Manuel Velasquez/AFP

O combate às “fake News” se tornou projeto de lei no Congresso, tema de debates na academia e na mídia, e assunto nas mesas de bar de jornalistas. E rende também discussão entre hackers.

Durante o evento de cibersegurança Security Analyst Summit, realizado nos dias 8 e 9 de março em Cancún (México), as notícias falsas foram assunto de palestras entre especialistas.

Em uma das principais sessões do evento —eleita a melhor palestra pelos participantes— Matt Tait, pesquisador de segurança na Universidade do Texas, contou um pouco da história da desinformação.

Segundo Tait, a influência acontece porque não cria “rachaduras” de opiniões na sociedade, mas se aproveita da existência delas para ampliar o ruído.

Ele ligou o início da história das informações falsas a Ramsés II, que governou o Egito no século 13 a.C. “Após um empate na guerra em Kadesh, ele criou uma câmara para dizer aos deuses que ele foi fundamental na vitória”, afirmou.

Tait cita exemplos em redes sociais para ligar o assunto a profissionais da tecnologia.

“Temos que ter cuidado ao construir redes sociais. Pensamos que a maioria dos usuários seriam usuários normais, no fim, a maioria é de robôs”, disse.

SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO

À Folha, Dmitry Bestuzhev, diretor global do laboratório de pesquisa e análise a ameaças da Kaspersky, citou que pessoas mal-intencionadas podem não recorrer especificamente às “fake news” dentro da esfera digital. "É difícil prever o que vai acontecer", afirma.

“As notícias falsas têm um objetivo bem específico, que é espalhar dúvida”, afirmou Bestuzhev. Esse objetivo, explica, poderia ser atingido de outras formas, como em um ataque que derrubasse o sistema de transferência dos votos por alguns minutos.

Mesmo que os atacantes não manipulassem nada, explica Bestuzhev, seria o suficiente para espalhar dúvida sobre o sistema de votação. "As pessoas se perguntariam o que aconteceu nesses minutos em que o sistema ficou offline", explica. Daí a importância de garantir a segurança nesse processo.

Em sua palestra, o presidente da Bambenek Consulting, John Bambenek, falou sobre as conversas que teve com Guccifer 2.0 –persona que afirmou ter sido responsável por vazar documentos do Partido Democrata durante as eleições nos EUA.

Bambenek usou sua expertise em segurança para conseguir informações ao conversar com essa pessoa. Ele se apresentou como membro do partido Republicano –ele realmente faz parte do partido—e conseguiu acesso a dois documentos supostamente vazados.

A partir daí, pôde determinar que tratavam-se de alegações falsas, ou seja, diferente do que alardeava, o Guccifer 2.0 não tinha relação com o vazamento.

Para Bambenek, profissionais de segurança podem ajudar a identificar “a pessoa atrás do teclado” em eventuais ataques.

Outra área em que a participação de hackers poderia ser útil é na cibersegurança de campanhas políticas. “Eles são um alvo”, disse Bambenek à Folha.

O jornalista viajou a convite da Kaspersky Lab.

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