Investigamos o PSDB e demais partidos, diz chefe do Ministério Público de SP

Em busca de reeleição, Smanio diz que órgão tem independência e defende auxílio-moradia

Rogério Gentile
São Paulo

Gianpaolo Smanio, 53 anos, tentará se reeleger no próximo dia 7 de abril para o comando do Ministério Público de São Paulo.

Com mais de uma dezena de livros publicados, o atual procurador-geral de Justiça entrou no Ministério Público em janeiro de 1988 e costuma definir o órgão como um investimento que a sociedade faz para a sua própria defesa.

Sobre as críticas de que a instituição não trata o PSDB com rigor, responde com números. "Apenas no caso do metrô há cerca de 20 ações e investigações propostas, feitas e realizadas", afirma. "Temos investigações em relação a todos partidos."

Cerca de 2.000 promotores e procuradores participam da votação, que elegerá uma lista tríplice a ser submetida ao governador Geraldo Alckmin. Em 2016, o primeiro colocado foi o escolhido.

O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Poggio Smanio
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Poggio Smanio - Marlene Bergamo/Folhapress
 


Folha - O que o Ministério Público melhorou na sua gestão?
Gianpaolo Smanio - Fizemos um enorme investimento na infraestrutura de trabalho. Ampliamos o quadro de funcionários, investimos em tecnologia e na construção de prédios. Hoje, os promotores encontram condições de trabalho muito melhores do que as que tinham no início da nossa gestão. São investimentos bastante vultosos, na casa dos R$ 100 milhões.

Qual a sua principal proposta para o próximo período?
Temos um conjunto de propostas para fortalecer a instituição por meio de inovação e cooperação. Vamos buscar novas fontes de recursos e de financiamentos de projetos em fundos nacionais e internacionais. Desonerar custos operacionais com novas práticas de gestão. Fortalecer o regime jurídico do Ministério Público para resguardar sua independência e compromisso com a sociedade. Os investimentos em TI vão continuar. Vamos ampliar as sedes e promover a reformulação dos espaços físicos, bem como implantar as promotorias regionais. O Ministério Público é um legado de gerações e temos que continuar avançando.

Como o sr. responde às críticas que costumam ser feitas de que o Ministério Público pega leve com o governador Geraldo Alckmin e o PSDB?
Respondo com os resultados do nosso trabalho. No caso do metrô, por exemplo, há cerca de 20 ações e investigações propostas, feitas e realizadas. Temos investigações em relação a todos os partidos. E ações criminais propostas contra pessoas ligadas a partidos, inclusive ao partido do governo. O trabalho é profissional, sério e independente.

O sr. considera justo o pagamento de auxílio-moradia para promotores e magistrados?
Essa questão precisa ser analisada globalmente. O Ministério Público tem de ter condições para captar os melhores dentro do mercado. Todos sabemos quanto recebem os advogados e os bons profissionais em todos os ramos. A nossa defasagem salarial é de 42%. São quatro anos sem a reposição da inflação.

O auxílio-moradia é, então, um jeitinho para compensar a falta de reajuste salarial?
Não vou falar em jeitinho. A remuneração é feita de várias partes. Os promotores e as promotoras sofrem pressão o tempo todo no trabalho, não têm hora para entrar ou sair. Lidam com questões complicadas. Perseguir o crime organizado, a corrupção e todos esses crimes econômicos exige profissionais capacitados. E precisamos de uma remuneração que faça frente à realidade do mercado de trabalho.

Qual é o tamanho e a influência da facção criminosa PCC?
O PCC vive muito do mito de que é enorme e incontrolável. Na verdade, os dados de inteligência mostram que efetivamente existe a organização, que a questão é grave, mas que é perfeitamente controlável dentro da atuação do Estado.

É comum ouvir que o PCC está se "institucionalizando", elegendo prefeitos e vereadores. Isso ocorre na política e em outras instituições do Estado?
Temos de combater exatamente essa infiltração no aparelhamento do Estado. É nossa preocupação acompanhar o mundo eleitoral da política. Tivemos até ação com relação a um prefeito que tinha notícia de envolvimento com o PCC.

Qual é a sua posição a respeito da liberação das drogas?
Acho que a descriminalização não é o melhor caminho, sobretudo nesse momento.

E o argumento de que a legalização fragilizaria as facções?
Não acho que isso seja verdade. As facções atuam onde existir uma oportunidade. No contrabando, no tráfico de drogas, no tráfico de pessoas.

RAIO-X

Nome e idade
Gianpaolo Smanio, 53 anos

Formação
Bacharel em direito pela USP, mestre e doutor em direito das relações sociais pela PUC-SP

Histórico
Ingressou no Ministério Público em 1988 e assumiu o cargo atual em abril de 2016

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