José Maria, do PSTU, desfalca grupo dos 'nanicos de sempre' na eleição

Após quatro campanhas a presidente, líder da sigla cede lugar à sindicalista Vera Lúcia

Joelmir Tavares
São Paulo

"Mulher, negra, operária, sapateira", como é descrita pelo partido, a sindicalista Vera Lúcia, 50, foi lançada pelo PSTU pré-candidata a presidente da República, substituindo José Maria de Almeida, nome que desde 1998 representava a sigla na corrida para o Planalto.

Pernambucana que mora em Aracaju (SE), ela foi escolhida num acordo interno e defenderá desta vez o slogan "Contra burguês, vote 16".

Presidente nacional do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, José Maria só não foi candidato na campanha de 2006, ano em que a sigla de orientação marxista apoiou Heloísa Helena, então no PSOL (o gesto hoje é avaliado como um erro).

A vontade de dar vez a outros "camaradas, companheiros e companheiras" e os afazeres na direção da sigla, diz ele, foram as razões que o levaram a abandonar a espécie de clube que acabou formando com candidatos nanicos que estão sempre na urna —casos de José Maria Eymael (PSDC), Levy Fidelix (PRTB) e Rui Costa Pimenta (PCO).

José Maria, presidente do PSTU, dá a mão à candidata da sigla a presidente da República, a sindicalista Vera Lúcia
José Maria, presidente do PSTU, com a candidata da sigla a presidente da República, a sindicalista Vera Lúcia - Marlene Bergamo/Folhapress

Ativista sindical, Vera (que na verdade não trabalha mais no ramo de calçados desde 1995, quando foi demitida) herda um histórico pouco animador. A legenda ficou em oitavo lugar na corrida presidencial de 2014, com 91 mil votos, ou 0,09% do total.

"O resultado é pequeno mesmo", diz José Maria diante da colega numa sala da sede nacional do partido, na região central de São Paulo. "Não medimos o desempenho pelo número de votos. Frustrante seria fazer uma campanha e não dizer para as pessoas o que pensamos."

Para o metalúrgico, a lei eleitoral "passa longe de qualquer resquício de democracia", por não dar condições iguais para os partidos. "Não é que, se todo mundo ouvisse as propostas do PSTU, votaria no partido, mas o processo é antidemocrático porque até para votar contra uma opinião eu preciso conhecê-la."

Vera resume sua candidatura como "um chamado à classe trabalhadora".

A legenda, afirma ela, "não tem nenhuma ilusão" para a eleição, nem mesmo a de vencer. "Nós só temos uma tarefa: apresentar um programa para a classe trabalhadora, para que ela se organize e lute", diz ela, reiterando com fala pausada a grande bandeira de seu partido: fazer uma revolução socialista no país.

Seria burrice, na opinião de Vera, o PSTU ficar fora do processo eleitoral e perder a chance de propagar suas ideias.

O programa de governo repetirá propostas já apresentadas por José Maria, como estatização de empresas e bancos, suspensão do pagamento da dívida pública e redução dos poderes do Congresso, até a sua dissolução.

"Dizem que é autoritário. E você acha que não é autoritário um patrão chegar para um trabalhador, que só tem na vida o direito de trabalhar para receber um salário para sobreviver, e demiti-lo?", compara a pré-candidata.

Os rumos do país seriam decididos por conselhos, num "exercício direto do poder pela população", diz Vera. "Nós não estamos prometendo o impossível, 'vida após a morte'. São coisas simples."

O PSTU se considera ilhado no sistema partidário. É avesso ao capitalismo (sistema que, para os filiados, "conduz a humanidade à destruição") e, por não se equiparar a outras siglas, descarta fazer alianças. "Você acha que PT, PSOL e PCdoB são de esquerda?", questiona ela.

O destino de Lula (PT) "não é problema" do PSTU, segundo a pré-candidata. "A tarefa de julgá-lo é da Justiça. Somos a favor de que todo corrupto e todo corruptor vão para a cadeia, tenham seus bens confiscados, e que as empresas envolvidas em corrupção sejam estatizadas e colocadas sob controle dos trabalhadores."

Na chapa com Vera estará o colega de PSTU Hertz Dias, 47, professor no Maranhão e também negro. "Somos o que há de mais comum na nossa classe [trabalhadora]", diz ela.

Surgido de uma dissidência do PT, o partido foi registrado em 1995 e tem 17 mil filiados em todo o Brasil, a maioria no estado de São Paulo. Sua principal fonte de recursos é o fundo partidário. Em fevereiro, a sigla recebeu R$ 212 mil —o PT, campeão em repasses, levou R$ 8 milhões.

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