'Levanta os braços. E os seios', diz agente da revista para visita a Maluf

Todas as visitas têm de estar de branco na Papuda, calçando sandálias modelo havaianas

Mônica Bergamo
Brasília

As visitas fazem fila em um corredor para passar pela revista íntima antes de entrar no presídio da Papuda.

Todas de branco, calçando sandálias modelo havaianas, como exige o complexo penitenciário, as mulheres esperavam pacientemente na fila pela sua vez na sexta-feira (2).

Na parede estavam fixadas as orientações, numa folha de papel: são proibidas roupas insinuantes e transparentes, calças skinny e sutiãs que não sejam os tradicionais.

A porta se abre. Agentes jovens, de camisetas pretas e luvas (algumas usam máscaras que cobrem boca e nariz) indicam o lugar da revista.

A sala é pequena, com vários boxes, como se fossem provadores de lojas femininas —mas sem cortinas.

Cada uma em seu lugar, todas tiram as roupas.

Uma agente se posiciona na frente da visita e orienta: “Levanta os braços. Agora os seios. Vira de costas. Dobra o chinelo. Abre bem a boca”.

Tudo certo, ela se despede. “Bom dia. Boa visita.”

E a entrada é permitida.

Não é simples chegar ao Complexo Penitenciário da Papuda, nos arredores de Brasília, para quem não tem como ir de carro.

Dependendo da localidade, a viagem em transporte público pode demorar até mais de duas horas e sair por R$ 30 a ida e a volta.

Resultado: a maioria dos visitantes que se aglomeravam no galpão de entrada no dia em que visitei Maluf era de classe média.

“Muito preso mais pobre nem sempre recebe visita”, me explicou já dentro da cadeia o ex-senador Luiz Estevão, que lá cumpre pena.

Cada visitante recebe uma senha antecipada e precisa passar no guichê para mostrar os documentos. A pessoa então recebe outro papel com nova senha e código de barras. O processo pode demorar quase duas horas.

As mulheres são maioria, numa proporção de quatro delas para cada homem.

Quase todos carregam sacos transparentes —regra do presídio— com as coisas que vão levar ao preso.

COMIDA

Eles podem receber no máximo seis frutas, de apenas quatro tipos: banana, goiaba, maçã e pera.

Jesse Ribeiro levava para Maluf duas unidades de cada fruta, menos goiaba.

Os cartazes avisam: é possível levar ainda 500 gramas de biscoitos sem recheio, dois sabonetes “de cor branca”, dois rolos de papel higiênico “de cor branca”, um creme dental “de cor branca”, um desodorante bastão roll-on, um sabão em barra “de cor branca” e 500 gramas de sabão em pó “em saco plástico transparente”.

Roupas e calçados “apenas de cor branca” também podem ser entregues aos detentos, além de selos, envelopes e “três fotografias 10x15 cm (sem conteúdo pornográfico”).

Familiares e amigos conversam e às vezes, de tanto se encontrar na entrada da Papuda, até ficam íntimos.

Mulheres de camisetas rosa com a inscrição “Grupo Presídio”, da Igreja Universal do Reino de Deus, abordam as visitas. Com caderno e caneta, anotam seus nomes e endereços e se oferecem para uma tarde de orações.

Tentam ainda dar conselhos. “Mãe, você tem autoridade. Não importa o que o seu filho fez. Nem a dor que você sente. Você tem que dizer a ele ‘é a última vez que te visito neste lugar’”.

Advogados espalham seus cartões nos bancos para fazer propaganda. “N Advocacia Resolve”, dizia um deles, com telefone e endereço.

Uma senhora já conhecida de todos montou uma espécie de chapelaria no lugar.

Ela guarda os aparelhos de celular e carregadores das pessoas em saquinhos numerados. Na volta, devolve em troca de algum trocado.

Aproveita ainda para vender café e roupas brancas para aqueles que fazem a visita pela primeira vez e não sabem direito as regras do lugar.

E um outro cartaz informa os preços da cantina: as canetas esferográficas custam R$ 0,50, os biscoitos, R$ 1,50, um repelente sai por R$ 7 e um sabonete por R$ 1.

Ainda na espera, muitos recebem mensagens e torpedos no celular com recados de outros familiares aos presos.

Pouco antes de entrar para ver o ex-prefeito, Jesse lê uma mensagem de WhatsApp de Otavio, o filho mais velho de Paulo Maluf: “Manda um beijo pro papai”.

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