Membros criticam movimento de renovação por apoio a 'ficha-suja'

Para integrantes da Raps, deputado Alex Canziani desrespeita valores da organização

Joelmir Tavares
São Paulo

Membros da Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade) decidiram questionar a escolha do deputado federal Alex Canziani (PTB-PR) como um dos apadrinhados pela entidade que prega renovação na política.

Para o grupo, o parlamentar não honra a sustentabilidade que está no nome e no DNA da organização. E o pior, afirmam os participantes do levante, é que Canziani está envolvido em escândalos com dinheiro público (nos quais ele nega participação).

Criada em 2012 pelo empresário Guilherme Leal —que, pelo PV, foi candidato a vice de Marina Silva na campanha presidencial de 2010—, a entidade apoia mais de 560 lideranças políticas em todo o país, de diferentes partidos. Canziani está na mais recente leva de selecionados, ao lado de outras 101 pessoas.

Até esta quarta-feira (28), 31 integrantes haviam aderido ao abaixo-assinado virtual.

O deputado federal Alex Canziani durante sessão na Câmara dos Deputados
O deputado federal Alex Canziani (PTB-PR), alvo de críticas de integrantes da Raps - Lucio Bernardo Jr. - 28.jun.2017/Câmara dos Deputados

Lembrando que a Raps defende valores como ética, transparência e responsabilidade social, o documento menciona que Canziani responde no STF (Supremo Tribunal Federal) a um inquérito em segredo de Justiça, sob suspeita de estelionato, crime de quadrilha ou bando e falsidade ideológica.

O deputado diz desconhecer qualquer investigação envolvendo seu nome na Polícia Federal, no Ministério Público Federal ou no STF.

A carta de repúdio cita ainda que ele é réu em duas ações civis públicas no Paraná por improbidade administrativa —uma delas com dano ao erário, envolvendo uma licitação. A Justiça chegou a decretar a indisponibilidade de seus bens e a quebra de sigilo bancário. Ele diz ser inocente.

O grupo contrário ao petebista questiona ainda a posição dele em votações de projetos relacionados a ambiente, comunidades tradicionais e trabalhadores rurais.

Para os críticos da entrada do petebista no grupo de "líderes Raps", o político acumula ações "que têm contribuído negativamente para a proteção da biodiversidade e os direitos humanos".

São citados como exemplos a votação em que o parlamentar se colocou a favor do aumento da área desprotegida de uma floresta no Pará e o sim em plenário dado por ele à ampliação da terceirização, que, segundo os reclamantes, "dificulta o combate ao trabalho escravo no campo".

Entre os que endossaram o manifesto estão o economista Humberto Laudares (cofundador do movimento Agora!), a administradora Natalie Unterstell (também do Agora!) e o arquiteto Pedro Henrique de Cristo (fundador do Instituto Brasil 21). Parte dos que assinaram disputará algum cargo na eleição de outubro.

REPUTAÇÃO

Os organizadores do protesto dizem querer preservar a imagem da Raps e a reputação dos demais integrantes. Eles pedem no documento que a comissão de ética da rede abra um processo para apurar os pontos citados.

Em nota, a organização diz que não recebeu a representação formalmente e que, quando for acionada, decidirá sobre o encaminhamento.

A Raps afirma que seu trabalho inclui a "atração, seleção, apoio e monitoramento de lideranças políticas", prezando pela sustentabilidade. 

O grupo não dá ajuda em dinheiro, mas auxilia com capacitação e divulgação. Planeja lançar 200 candidatos em outubro e quer eleger metade.

Canziani, por meio da assessoria, diz que "estará à disposição da Raps e de seus membros para, se for o caso, responder a quaisquer dúvidas que se fizerem necessárias".

"Lembramos que, de acordo com a Raps, mais de mil pessoas participaram da seleção, e ocorreram mais de 200 entrevistas ao longo de todo o processo, de onde saíram 102 selecionados", afirma o deputado.

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