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Parlamentares veem aceno de Lula ao governo em entrevista

Deputados e senadores não descartam aliança com MDB após Lula dizer que Temer sofreu tentativa de golpe

Daniel Carvalho Angela Boldrini
Brasília
Enquanto petistas avaliaram que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez bem em não considerar um plano B para a disputa pela Presidência da República, em outros partidos, o entendimento foi de que, em entrevista à Folha nesta quinta-feira (1º), o petista demonstrou o isolamento do partido e aceno ao MDB.
 
"O PT está ficando isolado. Até o comportamento de plenário inverteu: o PT está muito mais se submetendo ao PSOL do que o contrário, como acontecia antigamente", diz o líder o PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MT).
 
Ainda na defesa da tese do isolamento, ele cita as falas de Lula ao ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE), pré-candidato à Presidência. Na entrevista, Lula reagiu a críticas que Ciro vem fazendo ao ex-presidente e ao PT.
 
"O Ciro Gomes acaba vislumbrando possibilidade de candidatura sem o Lula. Tenta ocupar o espaço. Essa discordância demonstra claramente que o Lula não está preocupado com uma eleição de um ajuntamento da esquerda. Está preocupado com sua própria eleição", afirma Leitão.
 
O deputado critica pontos da entrevista como quando Lula se refere a ele mesmo em terceira pessoa.
 
"É o Luiz Inácio falando do personagem, como se fosse uma vítima da Justiça brasileira. Ele aposta nas urnas como uma carta de alforria, mas fala de forma seletiva, para a militância. Falta ao Lula humildade", afirma.
 
Quanto ao trecho em que Lula diz que o presidente Michel Temer foi alvo de uma tentativa de golpe, na época em que houve a divulgação dos áudios do emedebista com o empresário Joesley Batista, o tucano vê a possibilidade de um aceno do petista para eventuais alianças regionais nestas eleições.
 
"É um aceno de bandeira branca, talvez. Alguém que chamou o Temer o tempo todo de golpista está colocando ele como vítima", diz Nilson Leitão.
 
O líder da Rede Sustentabilidade no Senado, Randolfe Rodrigues (AP), afirma ter tido impressão semelhante.
 
"Reapareceu o velho Lula pragmático, que estava um pouco escondido. Pensa em eleições, em quaisquer alianças para atingir o objetivo [de vencer a disputa]. Não duvido que em uma eventual vitória terá aliança com o velho da política, com o MDB. O próprio Lula sepultou o discurso do golpe", diz Randolfe.
 
Para o líder do DEM, Rodrigo Garcia (SP), Lula tentou colocar Temer e ele num mesmo patamar.
 
"Ele quer botar todo mundo no mesmo balaio e medir todo mundo com a régua dele", diz o deputado.
 
O líder do PSOL, Ivan Valente (SP), criticou a "complacência" de Lula com relação a Temer. "Essa complacência dele [sobre Temer] faz mal para a sua própria defesa", afirma.
 
"Esse tipo de declaração confunde as pessoas que combateram o impeachment como golpe", diz ele, que se disse surpreso com a declaração do petista sobre o ex-vice de Dilma Rousseff. 

RELATO HISTÓRICO

No PT, a leitura é diferente.
 
"Ele fez um relato histórico", afirma o deputado José Guimarães (PT-CE), líder da minoria na Câmara.
 
"Os relatos históricos precisam ser ditos, independente de concordar ou não", diz o petista.
 
Para Guimarães, em relação à intenção de levar a própria candidatura adiante, Lula está "totalmente afinado com o que pensa o PT".
 
O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), concorda que Lula fez bem ao não cogitar uma candidatura alternativa.
 
"Aceitar o plano B é aceitar a criminalização do Lula e legitimar uma eleição que, sem ele, será uma fraude. As pessoas que patrocinaram e financiaram o golpe queriam que o PT apresentasse um nome alternativo para fazer uma eleição de faz de conta. Nós não vamos fazer isso. Não vamos facilitar nem legitimar a escalada autoritária no país", afirma Pimenta.
 
O líder do partido minimizou o enfrentamento entre Lula e Ciro Gomes.
 
"O presidente Lula não faz críticas ao Ciro Gomes. Ele tem sido sistematicamente atacado. Ele respondeu, quando questionado, sem fazer qualquer tipo de ataque", diz Pimenta, defendendo a unidade entre os partidos de esquerda.
 
"Os nomes que se colocam no campo democrático e popular neste momento deveriam ter a sensibilidade, o respeito de perceber que estamos na hora de preservar o legado, a trajetória, a história do presidente Lula. Não é atacando o Lula que alguém vai se construir como uma alternativa à esquerda", afirma o líder petista.
 
O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, afirmou no Twitter que a entrevista do ex-presidente "dá a impressão que até mesmo ele já começa a não acreditar nas próprias mentiras". 
 
"Lula já não consegue mais encantar nem interlocutores ainda apaixonados, com o seu festival de mentiras e sua autoindulgência", escreveu.

POLARIZAÇÃO

O líder do PSB, Julio Delgado (MG), diz discordar da afirmação de Lula à Folha de que as eleições serão novamente polarizadas entre PT e PSDB. "Lula, assim como o pessoal da direita, está colocando esta eleição como se ela fosse uma eleição típica, normal, e ela será totalmente diferente", afirma. 
 
Para Delgado, a fala de Lula reflete a posição "de alguém que sabe a realidade que está lhe aguardando". "Mais inteligente que todos nós o Lula é. Ele sabe que está inelegível, apesar da insistência e da luta do partido", afirmou. 
 
Segundo ele, o ex-presidente faz um gesto de resistência ao dizer que lutará até o fim por sua candidatura, para preservar o partido e sua posição. 
 
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