Polícia prende padre no Pará, um dos sucessores da missionária Dorothy Stang

Religioso criticava a grilagem de terra e o desmatamento

Augusto Pinheiro
Belém

A Polícia Civil do Pará prendeu, na manhã de terça (27), o padre José Amaro. Ele foi detido em Anapu, interior paraense, após mandado judicial expedido para investigação de crimes de extorsão, ameaça, assédio sexual e ocupação violenta de terras.

O padre José Amaro é considerado um dos sucessores da missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005.

A missionária católica americana Dorothy Stang, morta em fevereiro de 2005, no Pará
A missionária católica americana Dorothy Stang, morta em fevereiro de 2005, no Pará - Carlos Silva - 12.fev.2004/Reuters

O religioso, uma das mais influentes lideranças da Comissão Pastoral da Terra na região, criticava a grilagem de terra e o desmatamento. Ele era o braço direito da norte-americana Dorothy Stang, assassinada em 2005 por defender os mesmos temas. Amaro já havia declarado várias vezes que vinha recebendo ameaças de morte.

A direção nacional da Comissão Pastoral da Terra publicou um comunicado em que afirma que “a prisão do padre Amaro é uma medida que vem satisfazer a sanha dos latifundiários da região que pretendem de toda forma destruir o trabalho realizado pela CPT e desmoralizar os que lutam ao lado dos pequenos para ver garantidos os seus direitos. E se enquadra no contexto do cenário nacional em que os ruralistas ditam os rumos da política brasileira”

A CPT diz ainda que não teve acesso ao inquérito policial que deu origem ao mandado de prisão, “mas há suspeita de que houve uma ação bem orquestrada para juntar elementos, não se sabe de que qualidade, que pudessem sustentar uma decretação de sua prisão. A ordem de prisão se baseia não em fatos concretos, mas em depoimentos de fazendeiros e de outras pessoas que se dispuseram a atestar contra o padre”.

O deputado estadual Carlos Bordalo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará, afirmou que considera a prisão estranha. “Não é possível que uma pessoa cometesse tantos crimes e até hoje merecesse o respeito que ele tem em toda aquela região, em toda a prelazia do Xingu. O bispo Dom Erwin Kräutler é reconhecido internacionalmente como uma pessoa da mais alta respeitabilidade. Custa acreditar que ele manteria na sua prelazia um padre criminoso desse jeito.”

Bordalo diz que a região do Xingu é a última fronteira de exploração do estado do Pará. “Há uma disputa intensa pelos recursos florestais e pela biodiversidade da área. É onde ainda há mata virgem.” Segundo ele, muitas madeireiras e mineradoras que usavam os recursos do nordeste do Pará e das regiões do Tapajós, do Marajó e do Tocantins se deslocaram à área.

Também criticaram a prisão dois bispos do Xingu e religiosas da comunidade em Marajó.

Em nota, as irmãs de Notre Dame de Namur, Breves - Prelazia do Marajó, pediram oração ao padre Amaro.

"Conhecemos padre Amaro há anos, e sabemos que está sendo acusado injustamente. Há muito tempo que ele vem sendo ameaçado de morte pelos latifundiários, por aqueles que querem se apropriar criminosamente de terras públicas para explorá-las, às custas da expulsão do povo que precisa das terras para sobreviver. Padre Amaro é um incansável defensor dos direitos humanos e, por isso, é odiado pelos exploradores da região e por aqueles que acobertam seus crimes", dizem, em trecho da nota.

O bispo dom João Muniz Alves e o bispo emérito Erwin Kräutler,  ambos atuantes no Xingu, em nota, manifestaram solidariedade com a prisão ocorrida às vésperas da Semana Santa, data importante para o calendário cristão. "Repudiamos as acusações de ele promover invasões de terras que são reconhecidas pela Justiça como terras públicas, destinadas à reforma agrária, mas que se concentram ainda nas mãos de pessoas economicamente poderosas". Encerram a nota citando que a Páscoa é "a vitória da vida sobre a morte, mas também da verdade sobre todas as mentiras".

(com UOL)

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