Pré-candidatos, Doria e França usam asfalto como vitrine

Prefeito da capital e vice-governador, que devem disputar Governo de SP, investem em ações de pavimentação

Joelmir Tavares
São Paulo

Em pistas diferentes na disputa eleitoral, João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB) pegaram o mesmo caminho com uma bandeira que pode dar retorno na urna: o asfalto.

Prováveis adversários na disputa pelo Governo de São Paulo, o prefeito da capital (que caminha para ser o nome tucano na corrida) e o vice-governador (que assumirá o Palácio dos Bandeirantes em abril e tentará a reeleição) têm programas relacionados à pavimentação de ruas.

Obras do tipo costumam ser usadas por políticos perto de eleições pela crença de que trazem visibilidade imediata. A lógica é a de que é mais fácil e rápido fisgar um potencial eleitor oferecendo uma avenida sem buracos do que fazendo investimentos em educação ou saneamento.

Doria previu R$ 550 milhões do orçamento da prefeitura em 2018 para o programa Asfalto Novo, como mostrou a Folha no mês passado.

O projeto para recapear vias se tornou vitrine do tucano neste ano, que deve ser seu último no cargo —ele terá que sair até 7 de abril.

O prefeito João Dória durante evento de inauguração no bairro da Bela Vista, em São Paulo
O prefeito João Dória durante evento de inauguração no bairro da Bela Vista, em São Paulo - Eduardo Anizelli/Folhapress

No caso de França, o plano será colocado em movimento tão logo ele assuma o lugar de Geraldo Alckmin (PSDB), que também renuncia em abril, para concorrer à Presidência.

Em busca de apoio para sua campanha, o socialista está dizendo a prefeitos do interior que liberará recursos, por meio de convênios do estado com municípios, para a recuperação de vias urbanas.

Além do Asfalta São Paulo (nome do programa estadual), o vice indica disposição de dividir recursos com os prefeitos em outras áreas.

O tema preocupa "95% dos municípios", segundo França. "É uma unanimidade a grande dificuldade para fazer pavimentação", diz o prefeito de Atibaia, Saulo Pedroso, do mesmo partido do vice. "O prefeito tem que atender aos serviços básicos", segue, ecoando a queixa de que os municípios estão na pindaíba.

Em encontros nos últimos meses, França orientou os gestores a fazer atas de registro de preços, instrumento mais ágil para a licitação.

A intenção é que as prefeituras tenham já pronta uma classificação de fornecedores com o menor preço do produto. Com a verba, bastaria contratar o primeiro colocado.

Pela legislação eleitoral, repasses de convênios como o do asfalto não podem ser feitos pelo governo nos três meses que antecedem a eleição.

PERDAS E GANHOS

O recapeamento usado como moeda de troca em campanhas políticas "é presente, infelizmente não é algo do século passado", diz Liedi Bernucci, professora especializada em pavimentação e diretora da Poli-USP. Segundo ela, historicamente picos de consumo de asfalto no país coincidem com anos de eleição.

Há vantagens para a população, como ganhos em conforto e segurança, concorda a professora. Mas, para a especialista, o gasto atrelado à eleição é negativo. "O investimento teria que ser contínuo."

Para propagandas de seu programa de asfaltamento, a gestão Doria destinou R$ 5 milhões, inclusive com posts impulsionados em redes sociais.

A prefeitura, via nota da assessoria de imprensa, diz que a campanha publicitária do Asfalto Novo é para informar o cidadão "a respeito do maior investimento feito em recapeamento dos últimos anos".

A administração não respondeu sobre a eventual relação entre a ação e as pretensões do tucano em outubro.

O vice-governador Márcio França (PSB), durante entrevista em seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes
O vice-governador Márcio França (PSB), durante entrevista em seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes - Avener Prado - 19.mar.2018/Folhapress

França nega intenção eleitoral. "Sinceramente, imaginar que num estado como São Paulo você vai fazer voto porque vai colocar asfalto... É uma filigrana no todo."

Ele não diz qual é o volume de recursos previsto para o programa, mas fala com empolgação do superávit de R$ 2,5 bilhões acumulado pelo estado em 2018. "Vai ter possibilidade de ajudar os municípios, fazer investimentos."

Outra fonte de dinheiro para o asfalto, diz, serão emendas de deputados estaduais que totalizam R$ 300 milhões. O socialista pretende articular a destinação da verba.

"Para França, há um ganho de dois lados, com prefeitos e com eleitores", diz Marco Antonio Teixeira, cientista político e professor de gestão pública da FGV. "É a política real, usar a máquina para atingir seus objetivos."

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