Prisão de Lula trará forte reação social, diz José Eduardo Cardozo

Ex-ministro diz que, se houvesse provas, se 'curvaria ao decidido'

Wálter Nunes
São Paulo

Desde que saiu do governo Dilma Rousseff, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo tem viajado pelo pelo exterior para falar sobre o impeachment da presidente, em 2016. Esteve em países como os EUA, Itália e Portugal.

"Desde o impeachment de Dilma, o Brasil não se recuperou", diz. 

Quando está no Brasil, Cardozo atua como criminalista. Tem dois escritórios, em Brasília e São Paulo. Defende, segundo eles, alguns parlamentares. Diz não se lembrar se algum está envolvido em processos da Lava Jato.

 

 
Jose Eduardo Cardozo, advogado e ministro da Justiça durante o governo Dilma Rousseff, fala ao microfone
Jose Eduardo Cardozo, advogado e ministro da Justiça durante o governo Dilma Rousseff - Bruno Santos/Folhapress

Folha - O presidente Lula está condenado no caso do tríplex e pode ser preso. Como o sr. viu esse fato?
José Eduardo Cardozo -
As sentenças são fragilíssimas do ponto de vista jurídico sob vários aspectos. Você não tem uma demonstração probatória capaz de levar a uma condenação num caso como esse. Além de você ter um questionamento muito evidente de irregularidades que acontecem no processo, inclusive quanto à competência do juiz de primeira instância, Sergio Moro, para julgar a causa, uma vez que a competência dele seria dada por desvios comprovados da Petrobras. 

E no caso a evidência mostra que não tem nada a ver uma coisa com outra. Além da questão probatória, do enquadramento jurídico equivocado, não existe o ato de ofício [contrapartida em troca de vantagem ilegal] do presidente Lula, há toda uma suposição, um conjunto de ilações que não seriam base condenatória em nenhuma condição normal de apreciação judicial. Por conta disso acho uma profunda injustiça que pode não só trazer danos à pessoa do presidente Lula condenado como também ao processo político eleitoral. 

O STF ainda vai julgar um habeas corpus preventivo de Lula e a legalidade da execução da pena a partir de uma condenação em segunda instância. O que o sr. espera?
A Constituição é muito clara quando fala que qualquer execução de sentença no âmbito penal exige o trânsito em julgado. Não há outra interpretação possível. No entanto, formou-se a maioria no Supremo, da qual eu respeitosamente discordo, no sentido de permitir a execução da sentença a partir da condenação em segunda instância. Eu acho essa posição juridicamente difícil de ser sustentada em face a Constituição. Espero, sinceramente não só pelo caso de Lula, mas de todas as situações, que efetivamente você tenha uma mudança da maioria do Supremo e a afirmação daquilo que claramente o legislador constitucional diz.

Como o sr. a possibilidade de prisão do ex-presidente?
Eu acho que ninguém está acima da lei e nem deve ser tratado diferentemente em seus termos, mas deve ser tratado dentro dos parâmetros legais aplicáveis a todos. Se houvesse provas contra ele eu evidentemente lamentaria e silenciaria. E me curvaria reverenciosamente ao decidido. Mas não é o caso. O que está se cometendo é um verdadeiro arbítrio. É uma situação clamorosamente indevida. 

O sr. teme reação forte da militância caso o ex-presidente seja preso?
Eu não acho que a reação é forte da militância, ela é forte do ponto de vista social. É um desastre. Num momento em que se precisa de pactuação você tem um processo viciado, acelerado equivocadamente. 

O sr. considera que o Judiciário não funciona bem?
Tem cometido excessos e vejo isso não só no Judiciário. Eu vejo o Brasil muito atingido na sua institucionalidade. Desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff o Brasil não se recuperou. 

Como o sr. analisa o momento da PF?
No período em que eu estava como ministro da Justiça procurei ao máximo cumprir a lei e respeitar o Estado de Direito, que é o papel do ministro da Justiça. Eu nunca interferi em nenhuma investigação, nunca. Eu respeito os nomes e os delegados da Polícia Federal, nós temos hoje um homem, que é o [Rogério] Galloro [atual diretor-geral], que é uma pessoa que eu respeito muito, foi o segundo homem do doutor Leandro Daiello [ex-diretor-geral]. Convivi muito com ele, sei que é uma pessoa séria, e eu espero que o governo deixe a Polícia Federal trabalhar em paz, mas coíba os abusos. 

O ex-diretor Fernando Segovia caiu porque disse em entrevista que uma investigação envolvendo o presidente Temer tendia a ser arquivada. O sr. acha que o governo Temer tentou interferir na PF?
As declarações foram infelizes, o diretor não tem que opinar sobre isso. Tem que garantir a lisura das operações.  

 

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.