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PSDB confirma calendário que favorece candidatura de Doria a governador

Prefeito discursou no evento, sem deixar claro se deseja concorrer ao Bandeirantes

Joelmir Tavares
São Paulo

Em reunião com a presença do prefeito João Doria, o diretório estadual do PSDB de São Paulo confirmou na noite desta segunda-feira (5) calendário que favorece a candidatura dele a governador e enterrou proposta de seus adversários internos.

Os tucanos mantiveram o plano de fazer neste mês as prévias do partido para escolha de seu candidato ao Palácio dos Bandeirantes. A votação dos membros da sigla está prevista para o dia 18, com eventual segundo turno no dia 25.

Doria fez discurso enfático no fim da votação —chegou a subir na mesa colocada no palco do diretório estadual do PSDB, em Moema (zona sul)— e foi aclamado por militantes, com coros que incluíam expressões como "Doria governador" e "João trabalhador" (seu mote na campanha para prefeito). Um grupo tocava tambores e pandeiros.

"É com essa energia que nós, juntos, vamos ganhar a eleição em São Paulo", afirmou o prefeito. Oficialmente, o tucano nega que seja candidato. Ele saiu do local do evento sem falar com os jornalistas.

Ressonando a mensagem de "unidade interna" das falas da noite, Doria disse que "o adversário do PSDB não está no PSDB", mas fora dele e defendeu o instrumento das prévias, afirmando ver com legitimidade a apresentação de outras pré-candidaturas.

O ex-senador José Aníbal, o secretário estadual Floriano Pesaro, o cientista político Luiz Felipe d'Avila e o prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão, também manifestam interesse em representar o PSDB na corrida pelo cargo hoje ocupado pelo também tucano Geraldo Alckmin.

'Tema da Vitória'

Doria foi o último a discursar. Saiu abraçado por integrantes do partido, que chegaram a carregá-lo nas costas. A trilha sonora da cena foi o "Tema da Vitória", música que embalava as conquistas do piloto Ayrton Senna.

"Vamos à vitória", gritou o prefeito ao encerrar a fala. "Acelera!", afirmou repetidas vezes, martelando seu slogan —mas sem expressar claramente se entrará na disputa pelo governo.

"Ele é candidato", disse à Folha o presidente do PSDB em São Paulo, o deputado estadual Pedro Tobias. "Só vai esperar mais um pouco [para anunciar], mas é candidato."

Numa tentativa de ganhar tempo e adiar a escolha interna, Aníbal entregou à direção do partido, no início da reunião, um documento assinado por ele, por Pesaro e por d'Avila em que propunham fazer o primeiro turno das prévias em 25 de março e o segundo em 2 de abril.

A ideia foi rejeitada em votação. Dos 105 integrantes com direito a voto, 70 apoiaram o calendário previamente decidido pela executiva. Outros 34 quiseram a mudança levada pela trinca e uma pessoa se absteve.

A data das prévias virou o centro da disputa interna porque houve a tentativa de realizá-las depois da segunda quinzena de abril, o que obrigaria João Doria a, caso queira de fato concorrer ao Bandeirantes, renunciar ao cargo mesmo sem ter a certeza de ser o candidato do partido.

prazo de desincompatibilização para ocupantes de cargos executivos (presidente, governadores e prefeitos) que quiserem concorrer a outros postos é 7 de abril.

A tese de postergar a decisão da legenda, defendida por adversários do prefeito, já tinha sido vencida. A articulação que estabeleceu o calendário pró-Doria foi liderada pelo vice-prefeito Bruno Covas, que tem controle de boa parte do diretório paulista. Ele assumirá a prefeitura se Doria se desincompatibilizar.

'Coisa patética'

O argumento de Aníbal, que é presidente do Instituto Teotônio Vilela (centro de formação política do partido), para fazer prevalecer o calendário sugerido por ele foi o de que seria preciso discutir com mais calma a escolha do candidato do PSDB.

Pela proposta, quem quisesse se candidatar deveria apresentar o nome à legenda até esta quinta-feira (8). Depois seriam feitos cinco debates com a militância, para aí então serem realizadas as prévias.

"Eu não tenho urgência. Por mim a escolha [do candidato] poderia ser em abril, em maio", disse Aníbal, que disparou críticas a Doria.

"Temos um prefeito de São Paulo que diz que não é pré-candidato, mas não cuida de outra coisa a não ser isso. Uma coisa patética", afirmou.

Enquanto apresentava o calendário, Aníbal discutiu com um militante que gritou em sua direção: "Quem sabe faz a hora". O pré-candidato se exaltou e mandou o rapaz se calar.

A reunião teve outros momentos tensos, com a plateia se dividindo em "torcidas", que disputavam o volume com gritos e coros. Num momento de maior tumulto, chegou-se a propor que a militância fosse dispensada e a decisão fosse tomada a portas fechadas.

Aníbal, segundo integrantes do partido, deixou o palco antes de Doria discursar. O prefeito, sem citar nomes, disse lamentar que pessoas que minutos antes haviam defendido a democracia tivessem optado por abandonar o local do encontro.

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