'As pessoas acreditam que quem defende o Lula tem que morrer', diz advogada salva por banheiro químico

Exame médico concluiu que Márcia Koakoski também foi atingida por bala em acampamento em Curitiba

Manifestante segura blusa com sangue; duas pessoas teriam sido feridas por tiros disparados contra o acampamento Marisa Letícia, onde estão os apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba (PR)
Manifestante segura blusa com sangue após duas pessoas serem feridas por tiros disparados contra o acampamento de apoiadores de Lula em Curitiba - Reprodução/Facebook/Frente Brasil Popular
Samuel Nunes
Curitiba

A advogada gaúcha Márcia Koakoski, 42, estava em um dos banheiros químicos do acampamento de apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Curitiba, quando foi atingida no ataque a tiros contra os militantes na madrugada de sábado (28). 

Em entrevista à Folha, neste domingo (29), afirmou que uma bala só não a perfurou porque, antes de acertá-la, atravessou as estruturas de fibra de vidro dos banheiros. As barreiras reduziram a velocidade do projétil, que acabou deixando apenas uma marca no seu ombro, como se fosse uma bala de borracha.

Antes do exame de corpo de delito, no Instituto Médico Legal de Curitiba, Koakoski acreditava ter sido atingida apenas por estilhaços. “Fui encaminhada ao legista ao fim do dia, o médico me examinou e disse que foi a bala que causou a lesão”, conta. 

Além dela, o sindicalista Jefferson Lima de Menezes, 38, que atuava como vigia, foi atingido de raspão no pescoço. Ele segue internado no Hospital do Trabalhador e não corre risco de morte. Até a última atualização da Secretaria de Saúde do Paraná, Menezes estava consciente e conversando, mas sem previsão de alta.

Jefferson Lima de Menezes, 38, que foi atingido de raspão em ataque contra acampamento pró-Lula em Curitiba
Jefferson Lima de Menezes, 38, que foi atingido de raspão em ataque contra acampamento pró-Lula em Curitiba - Reprodução Facebook

Para Koakoski, o tiroteio era uma tragédia anunciada, não só pelas constantes ameaças sofridas pelos acampados, como também pelo discurso de ódio e acirramento político que ela vê propagado. “As pessoas consideram que o Lula é ladrão e quem defende o Lula é ladrão; o Lula tem que morrer, então quem defende o Lula também tem que morrer”, diz.

Ainda no sábado, Koakoski voltou para Porto Alegre, onde tem um escritório de advocacia civil. Ela havia chegado ao acampamento na quinta (26). Viajou com uma amiga em um ônibus fretado pelo PT. Ela afirma que não é filiada atualmente a nenhum partido político, mas que decidiu sair do Rio Grande do Sul para ir ao acampamento para entender e apoiar uma causa que acredita: de que a prisão de Lula foi injusta.

“Nós vivemos em um país em que ninguém está livre. Eu não sou uma ameaça para ninguém, não estou criticando ninguém, tenho uma vida comum. Quando eu resolvo apoiar uma situação que me é de direito, eu viro alvo de um atirador."

AMEAÇAS 

Koakoski conta que, antes que um homem realizasse os disparos por volta de 3h45 de sábado, um grupo de pessoas passou pelo acampamento e ameaçou as pessoas que estavam lá.

Os acampados, então, usaram rojões e foguetes, para fazer barulho e tentar dispersar o grupo. “As pessoas ficaram ali dentro, numa discussão sobre o que fosse feito. Entraram em consenso que essa seria mais uma dessas agressões constantes”, lembra a advogada.

Segundo ela, várias pessoas que passam pelo local fazem atos de repúdio ao grupo. Além de xingamentos, há quem jogue ovos e pedras, afirma. Por essa razão, os acampados decidiram não chamar a polícia. 

De acordo com a investigação da polícia, o suspeito chegou em um carro sedan preto, estacionou, caminhou até o acampamento e atirou. Depois fugiu. Foram encontradas seis cápsulas de pistola 9 mm

“A pessoa não atirou em direção aos vigilantes, ela atirou em quem estivesse na frente”, afirma. Somente a advogada e as pessoas designadas para fazer a vigilância do local estavam do lado de fora do acampamento no momento do ataque.

Neste domingo, a presença da polícia próximo ao local onde os militantes se concentram era constante. Após o ataque, lideranças do acampamento e a Secretaria de Segurança Pública concordaram em reforçar o policiamento.​

SENADORES

O senador Roberto Requião (MDB-PR) esteve na vigília a favor do ex-presidente Lula e fez críticas a quem apoia os atos de hostilidade contra os manifestantes que apoiam o petista.

Ele fez um paralelo com o movimento Talibã, que surgiu no Afeganistão e foi o responsável pelo ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. Para o político, as pessoas que hoje promovem o ódio aos petistas podem ser vítimas no futuro dos movimentos extremistas.

"Lembre sempre que foram os Estados Unidos que criaram o Talibã. A partir do momento que ficou fora de controle, virou um problema também. Eles criaram para combater a União Soviética, mas acabaram sendo vítimas", afirmou.

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) dormiu no acampamento e gravou um vídeo na manhã deste domingo dizendo que os acampados só sairão de Curitiba com Lula.

"Isso não é qualquer coisa. É por isso que eu vim pra cá, para estar com o pessoal, mostrar força, dizer que a gente vai resistir. Que fascista nenhum vai nos intimidar. Que a gente só vai sair daqui quando o presidente Lula estiver solto", completou. 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.