Ato na Paulista pede prisão de Lula e critica ministros do Supremo

A ministra Rosa Weber era o principal alvo da pressão

Joelmir Tavares
São Paulo

Manifestantes se espalharam por ao menos oito quarteirões da avenida Paulista, entre a avenida Brigadeiro Luís Antônio e a rua Augusta, pedindo a prisão do ex-presidente Lula, na noite desta terça-feira (3).

 

Carros de som de cinco movimentos —Vem pra Rua, MBL (Movimento Brasil Livre), Endireita Brasil, Direita Brasil e Nas Ruas— estavam estacionados no trajeto. Não houve estimativa do número de participantes.

A garoa que caía em alguns momentos foi ignorada pelos manifestantes, muitos deles vestindo verde e amarelo, com bandeiras do Brasil e cartazes. A maioria tinha acima de 40 anos de idade.

Discursos nos alto-falantes e cartazes citavam os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que nesta quarta-feira (4) julgam o habeas corpus que pode manter o ex-presidente solto.

A ministra Rosa Weber era o principal alvo da pressão. Os pedidos, resumidamente, eram para que ela ouça recado das ruas e faça justiça.

O voto de Rosa é considerado decisivo no julgamento: ela é contra a prisão após segunda instância, mas tem decidido os casos seguindo a jurisprudência do tribunal. 

Conforme mostrou a Folha, a ministra negou liberdade a 57 condenados em segundo grau —e, no único caso em que decidiu a favor, foi por causa da insignificância do crime (uma mulher condenada por roubar R$ 187 em mercadorias).

O cartaz segurado por um homem pedia: "Rosa, prenda o ladrão. Rosa, salve a nação". Outro participante, fantasiado de pizzaiolo, carregava uma caixa de pizza onde se lia: "Suprema Pizzaria Federal. Para que serve uma Justiça que só protege os poderosos?".

“Ei, Lula, vai para a cadeia” e “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão” eram alguns dos coros cantados na Paulista, puxados por animadores nos carros de som.

Duas faixas gigantes, que podem ser lidas do alto dos prédios e helicópteros, exibiam as expressões  “Lula na cadeia” e “STF corrupto”.

Também se espalham pela avenida mensagens de apoio à Operação Lava Jato e ao juiz Sergio Moro, além de pixulecos (infláveis que representam Lula como presidiário) e bonecos que mostram o magistrado de Curitiba como um super-herói.

“O Brasil não pode mais ser comandado pelo mecanismo do crime organizado”, gritava um manifestante em um dos caminhões de som, fazendo uma associação com a série “O Mecanismo”, da Netflix.

No meio da multidão, a empresária Cleusa Garfinkel, da família dona da seguradora Porto Seguro, disse à Folha defender a prisão de Lula "para moralizar um pouco".

"A gente tem que fazer alguma coisa. Prisão tem que ser já na segunda instância", afirmou a acionista da empresa, acrescentando que o Brasil está sem rumo e os governantes têm mordomias demais.

Perto da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que durante a manifestação estampou a bandeira do Brasil no painel de luzes de sua fachada, Regininha de Moraes, filha do empresário Antônio Ermírio de Moraes (grupo Votorantim), disse estar participando por querer um mundo melhor para seus filhos.

A opinião da herdeira sobre a prisão de Lula? "É a mesma de todo mundo que está aqui", respondeu ela à reportagem, girando o dedo indicador para apontar a aglomeração ao redor.

NA ONDA

De bandeira do Brasil nas costas, a diarista Lívia Maria Carvalho Santos afirmou que a impunidade a levou ao protesto. "Eu acho que basta, ? Eu quero que ele [Lula] vá para a cadeia. É muito pouco ele ser condenado e ficar solto."

Para Lívia, Lula teve sorte em seu governo porque o mundo todo vivia um bom momento econômico. "Já estávamos na 'vibe' de melhora, ele só surfou na onda. Extinguiu a classe pobre, mas pelos critérios dele eu sou classe média. E eu vivo em comunidade", disse a moradora da Vila Esperança, em São Bernardo do Campo.

Morador da Saúde (zona sul da capital), o comerciante Fagner Almeida Melo segurava a filha nos ombros e pedia que o Supremo não dê o habeas corpus ao petista.

"Teve pontos positivos no governo dele, como programas sociais, mas a corrupção foi um ponto negativo", afirmou, lado a lado com sua mulher, que usava uma faixa "In Moro we trust", mensagem em inglês sinalizando confiança no juiz Sergio Moro.

Policiais disseram à reportagem que não foi registrada nenhuma ocorrência. A corporação não divulgou número de pessoas presentes.

Perto de alguns carros de som, a aglomeração foi maior em alguns momentos. Era difícil atravessar a pé. Em outros pontos havia mais espaços livres, com circulação fácil.

A advogada Janaína Paschoal, autora do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT), discursou no trio elétrico do movimento Nas Ruas.

No do Vem pra Rua, o fundador do movimento, Rogério Chequer, também falou. Afastado do cargo de porta-voz do grupo, por ser pré-candidato a governador de São Paulo pelo partido Novo, ele disse que políticos envolvidos em corrupção não devem ser eleitos.

Também estiveram no local o apresentador Otávio Mesquita, do SBT, e dom Bertrand de Orleans e Bragança, trineto de dom Pedro 2º e defensor da volta do Brasil à monarquia.

'CHUTANDO ESSE BANDIDO'

Um dos locutores do carro do movimento Direita Brasil fez discurso endossando protestos contra a caravana de Lula pelo Sul do país. No ataque mais grave, ônibus do comboio foram atingidos por tiros. "O pessoal do Sul representou a gente, chutando esse bandido para fora do nosso país", afirmou o participante do ato na Paulista.

A garoa que caiu em alguns momentos voltou forte às 21h, na forma de temporal, que espalhou a multidão pela avenida. Parte das pessoas correu, outra se escondeu sob marquises e outra permaneceu na chuva.

No trio elétrico do Nas Ruas, o cantor Paulo Ricardo tocou alguns de seus sucessos para uma plateia que, em parte, se protegia sob capas e guarda-chuvas.

"Amanhã a vitória vai ser nossa", gritou o artista ao término do show. "Que essa chuva possa levar essa corrupção de uma vez por todas!"

ATOS PELO BRASIL

O movimento Vem Pra Rua diz que foram convocados atos em mais de cem cidades, distribuídas por 20 estados. Estão previstos ainda protestos nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Itália e no Chile, segundo a organização.

O MBL marcou atos em mais de 70 cidades, espalhadas por 21 estados. 

Apoiadores de Lula também realizam atos pelo país a partir desta terça-feira, pedindo ao STF que conceda o habeas corpus a ele.

Estão agendadas mobilizações nas redondezas do prédio onde o petista mora, em São Bernardo do Campo, e em outras capitais. Defensores do petista vão ainda se concentrar em frente ao STF, em Brasília, durante o julgamento.

Nesta quarta, o Supremo julgará habeas corpus do petista. O tribunal havia decidido que o ex-presidente não poderá ser preso até esta data.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.