Coronel aconselhou Michel Temer até sobre aparência

'Melhore o seu semblante', disse João Baptista Lima, ao então vice-presidente

Fábio Fabrini Reynaldo Turollo Jr.
Brasília

"Michel, melhore o seu semblante". O conselho não partiu de nenhum marqueteiro ou personal stylist. Era 7 de setembro de 2015 e um aborrecido vice-presidente subira o palanque da tradicional parada militar de Brasília, pela manhã, ao lado da ainda mandatária Dilma Rousseff. O coronel João Baptista Lima Filho, atualmente suspeito de prestar serviços ilícitos ao emedebista, enviou a dica por mensagem de telefone ao amigo.

O clima já era de tensão entre a chefe da nação, que viria a sofrer um processo de impeachment a partir de dezembro, apoiado pelo MDB. 

Coronel Lima é preso pela PF e levado de ambulância para hospital em São Paulo - Reprodução

Semanas antes, Temer havia deixado a articulação política do governo com o Congresso e, mesmo após insistência da petista, negara-se a retomar o posto. Em eventos com empresários, o então número dois da República afirmara que, caso a popularidade da presidente continuasse baixa, seria difícil que ela chegasse ao fim do mandato.

Às 10h49, menos de dez minutos depois do torpedo, o vice reconheceu: "Eu deveria usar óculos escuros". Veio em seguida um "OK" do coronel.

Trechos dessas e outras mensagens foram recuperados pela Polícia Federal e constam do inquérito sobre o suposto esquema de corrupção envolvendo Temer, seu circuito de amigos e empresas portuárias --o presidente e os demais investigados negam irregularidades.

Revelam o grau de intimidade entre o agora presidente e o policial militar aposentado, que foi preso temporariamente em 29 de março, na operação Skala, e solto dois dias depois. Ele deixou a carceragem da Polícia Federal sem prestar depoimento sobre as relações suspeitas com o presidente e representantes do setor privado.

Amigo de Temer há mais de 30 anos, Lima atua como seu auxiliar informal, tendo o ajudado em campanhas eleitorais e na interlocução com empresários. A relação começou quando o presidente foi secretário de Segurança Pública de São Paulo, entre 1984 e 1993, e o coronel o assessorava. A mulher de Lima, Maria Rita Fratezi, foi apontada por um fornecedor de material de construção como a responsável por pagar, em dinheiro vivo, despesas de uma obra na casa de uma filha de Temer, como a Folha mostrou.

Na mesma época, a Argeplan Arquitetura e Engenharia, que atualmente tem Lima como sócio, fechou contratos de consultoria com a pasta. A partir de 2011, quando Temer assumiu a Vice-Presidência, o coronel virou cotista da empresa, que passou a receber recursos de obras federais. A empresa nega favorecimento nas gestões do emedebista.

Apesar da proximidade, os relatórios da PF registram esparsas comunicações entre os dois, como a daquele Sete de Setembro.

Entre setembro de 2015 e 18 de maio de 2017 —dia da operação Patmos, na qual foi apreendido o celular do coronel—, eles trocaram 12 telefonemas, alguns em momentos relevantes da biografia de Temer.

O presidente ligou duas vezes para o amigo, por exemplo, em 14 de maio de 2016, dois dias após Dilma ser provisoriamente afastada pelo Senado —decisão confirmada em agosto daquele ano.

Alguns contatos indicam não só alguma intimidade, mas o papel de Lima como intermediário de interesses de empresários no Executivo.

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