Cozinheira favorita de Lula em Brasília se diz desnorteada com prisão de petista

'Não quero ver ele assim', diz Maria de Jesus Oliveira da Costa, 64

Maria de Jesus Oliveira da Costa, a Tia Zélia, conhecida em Brasília por ser a cozinheira preferida de Lula durante sua época presidencial
Maria de Jesus Oliveira da Costa, a Tia Zélia, conhecida em Brasília por ser a cozinheira preferida de Lula durante sua época presidencial - Pedro Ladeira/Folhapress
 
Brasília

"Fiquei desnorteada, nem sabia para onde ir." É assim que Maria de Jesus Oliveira da Costa, a tia Zélia, descreve o momento em que recebeu a notícia de que o juiz Sergio Moro havia expedido mandado de prisão contra o ex-presidente Lula.

A cozinheira, de 64 anos, se emociona ao falar do petista, que conheceu em 2008, quando ele ainda ocupava a Presidência e que se tornou um de seus clientes fiéis.

"Ontem [segunda-feira (9)] eu não quis ler jornal, fiquei com medo que mostrasse ele lá na prisão. E eu não quero ver ele assim", diz tia Zélia, enxugando as lágrimas com o dorso da mão. "Eu nunca achei que fosse ver isso no meu tempo de vida."

Ela recebeu a reportagem em uma das mesas externas do restaurante homônimo que mantém desde 1998 na Vila Planalto, no Distrito Federal, a 2,5 km do Palácio do Planalto.

Foi lá, no gabinete presidencial, que se encontrou com Lula pela primeira vez, depois que um assessor elogiou para o então presidente sua buchada de bode.

"Ele mandou um carro para me buscar. Você acredita que quando eu encontrei com ele minhas vistas ficaram brancas? Ele abriu a porta do gabinete pra mim e dizia assim 'respira fundo, companheira, respira'", conta, rindo. "E eu chorava e eu disse: 'companheiro, você é a coisa mais linda que eu vi na vida'."

Desde então, faz dez anos que a baiana de Buritirama que chegou de pau de arara à capital federal em 1976, trazendo dois dos três filhos no colo, passou a receber pedidos de marmitas com iguarias nordestinas para o petista.

A preferida, conta, é a rabada, carro-chefe da casa, servida às quintas-feiras. "Mas ele gosta de tudo que eu faço, come a carne de sol, bolinho de aipim", diz. 

Mesmo fora do Planalto, Lula não deixou de frequentar o restaurante, que visitou pela última vez em outubro de 2017. "Foi maravilhoso. Eu gosto muito dele como pessoa, como Lula, como presidente. Não gosto que ninguém fale mal dele," diz. 

Na parede ao fundo do estabelecimento, a cozinheira mantém um "altar" com fotos e reportagens de jornal sobre o ex-presidente. 

Em uma delas, Lula sobe a rampa do Planalto em 1º de janeiro de 2003 para assumir a Presidência. Outra, um retrato oficial do presidente, vem com dedicatória: "para a querida Zélia, com carinho, do Lula". 

E ai de quem falar algo sobre as imagens. "Veio um dizer: 'se você tirar as fotos, melhora o movimento'. E eu disse: 'e se você fizer regime, diminui essa barriga'". 

Outro cliente, diz, debochou antes da prisão do ex-presidente perguntando se ela já estava preparando as marmitas para levar para ele no cárcere. "Eu não, estou preparando as suas primeiro", ela diz que rebateu.

A cozinheira arrisca até ingressar nos meandros do processo penal e da ordem de prisão. "E se ele não mandou buscar o Lula, não levou ele de qualquer jeito, não algemou ele foi sabe por quê? Porque a consciência dele doeu." 

"O Lula nunca me deu dinheiro, mas ele me deu dignidade para trabalhar", diz ela, que antes de ter o restaurante que fisgou o ex-presidente pelo estômago foi empregada doméstica, vendedora de peixe, engraxate e cozinheira de cantina.

"E o que ele fez para a minha família, lá na Bahia, ele levou luz, levou água. Antes, eu levava cesta básica porque meu povo passava fome. Hoje em dia eu vou lá e eu que trago coisa, trago galinha caipira, ovo", afirma ela.

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