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Demora do caso Azeredo é música para as pretensões de Joaquim Barbosa

Tucano que foi graúdo deve ser preso, mas demora de uma década reforça impressão de impunidade

Igor Gielow
São Paulo

A confirmação da condenação do ex-governador Eduardo Azeredo representa para o PSDB aquilo que a teoria dos jogos chama de jogo de soma negativa: há perda para todos os envolvidos na equação. Já quando o infortúnio do tucano é visto pela ótica do quadro eleitoral de 2018, o pré-candidato Joaquim Barbosa (PSB) emerge com lucro líquido.

O ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo (PSDB), condenado à prisão no mensalão tucano
O ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo (PSDB), condenado à prisão no mensalão tucano - Alan Marques - 11.fev.14/Folhapress

Azeredo é um ex-graúdo, personagem de uma era passada, mas a leniência com a qual seu caso sempre foi tratado pelo PSDB tem o mesmo DNA com que o partido lidou com as acusações contra o senador Aécio Neves (MG) no ano passado.

Obviamente são casos diferentes em escopo e gravidade, mas falo aqui de política. O malabarismo liderado pelo PSDB com o auxílio do Senado e do Supremo Tribunal Federal para manter o mandato de Aécio, independentemente aqui de julgamento do mérito, é parente da proteção da qual Azeredo sempre usufruiu entre as altas esferas de sua sigla.

Além disso, o prolongado tempo entre os fatos e a punição apenas reforça a ideia de que a Justiça tem apetites variáveis quando fala de político. Não importa aqui a realidade de que uma Lava Jato, para ficar na operação que simboliza a luta anticorrupção no país, atinge igualmente PT, PMDB, PSDB e uma penca de outros partidos. É de impressão captada em pesquisas qualitativas que se fala aqui.

Pior para Geraldo Alckmin, o presidenciável que de saída está colecionando um rol respeitável de encrencas na área da imagem ética que sempre cultivou. Sejam suspeitas contra si ou coisas mais danosas que ocorrem a seus correligionários, o fato é que ele preside o PSDB e o partido está com dois pés dentro da cova na qual o PT caiu há tempos.

Esse fato tira do partido do presidiário Luiz Inácio Lula da Silva, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, qualquer primazia de apontar o dedo contra os tucanos ou pela demora da Justiça —até por ser ela a instituição mais criticada pelos petistas no caso.

Já os postulantes ao Planalto sem o selo explícito da Lava Jato sobre o lombo, Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), podem auferir lucros, mas ninguém ganha tanto quanto Barbosa.

Não é casual que o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, relator do mensalão petista derivado daquele pelo qual Azeredo está sendo punido, esteja em dez de cada dez conversas sobre cenários de 2018.

Caso venha a ser candidato, é o único que poderá dizer que combateu de próprio punho o flagelo da corrupção, e isso é um ativo e tanto de imagem.

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