Dodge questiona garantias dadas pela Odebrecht para parcelar multas na Lava Jato

PGR diz que R$ 168 mi apresentados como ativos por delatores não têm valor comprovado

Rubens Valente
Brasília

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) que 78 executivos e ex-executivos da Odebrecht sejam intimados a apresentar “garantias reais” no valor de R$ 168 milhões a fim de cumprir cláusula prevista no acordo de delação.

Segundo Dodge, uma análise técnica da PGR (Procuradoria-Geral da República) levantou dúvidas sobre o real valor de garantias oferecidas pelos delatores para conseguir o parcelamento das multas previstas no acordo.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em sessão plenária do STF
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em sessão plenária do STF - Pedro Ladeira - 14.mar.2018/Folhapress

O questionamento recai principalmente sobre ações ordinárias de um braço do grupo, a Odebrecht Agroindustrial Investimentos.

Quando do fechamento do acerto com a PGR, homologado pelo STF em janeiro de 2017, ficou estabelecido que os delatores pagariam cerca de R$ 500 milhões em multas pelos crimes e irregularidades que confessaram.

Esse valor não se confunde com os outros R$ 6,8 bilhões que a empreiteira aceitou pagar aos governos do Brasil, EUA e Suíça a título de indenização no acordo de leniência com os três países.

A Folha apurou que, do total das multas dos delatores, já foram pagos R$ 131,9 milhões. Restaria o pagamento de R$ 368 milhões.

O valor das multas foi calculado a partir dos salários e dos bônus que os executivos receberam nos dez anos anteriores ao acordo de delação.

Segundo o acordo, os delatores apresentaram garantias que permitiram à PGR autorizar, com ordem do STF, duas medidas de interesse dos investigados: a liberação de valores bloqueados em contas bancárias e o parcelamento do pagamento das multas, com taxa de juros praticada pelo mercado.

Sem as garantias, o acordo de delação não teria sido fechado, já que os delatores diziam não ter o dinheiro disponível para pagar à vista.

REVISÃO

Após tomar posse na PGR, em setembro passado, Dodge pediu que sua equipe fizesse um levantamento sobre a situação de cada acordo de colaboração fechado por Rodrigo Janot. O objetivo era apurar os pontos cumpridos e pendentes nos documentos.

A SPEA (Secretaria de Pesquisa e Análise), setor de apoio técnico, fez uma avaliação das ações ordinárias da Odebrecht Agroindustrial Investimentos e apontou que elas não podem servir como garantias, pois não foram acompanhadas de parecer que atestasse o seu real valor. A empresa contesta no STF a afirmação, dizendo ter apresentado laudo sobre o valor das ações. A SPEA rebate que, como a empresa é de capital fechado, seu valor não poderia ser atestado com precisão.

Fachada da sede da Odebrecht na zona oeste de São Paulo
Fachada da sede da Odebrecht na zona oeste de São Paulo - Eduardo Anizelli - 18.dez.2016/Folhapress

Dodge disse que “não é admissível” o uso de garantias sem que se saiba o valor real. Ela pediu ao ministro relator da delação da Odebrecht no STF, Edson Fachin, que os delatores sejam instados a apresentar garantias reais ou fianças bancárias. Fachin avalia o pedido.

O trabalho do órgão técnico também levou Dodge a cobrar de Marcelo Odebrecht um depósito de R$ 63 milhões. O valor, segundo a PGR, é a diferença “entre o valor devido e o efetivamente recolhido em decorrência da pena de” perda de bens prevista no acordo. Em 2017, Marcelo pagou R$ 2,1 milhões, mas a PGR diz que o total era de R$ 65 milhões.

OUTRO LADO

A Odebrecht diz que não se manifesta sobre os acordos de pessoas físicas”.

Sobre Marcelo Odebrecht, sua defesa afirma que a a cobrança dos valores “aparentemente veicula uma interpretação divergente de cláusulas do acordo”, o que será dirimido pelo Supremo.

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