Educação é saída, mas não resolve propagação de fake news, dizem especialistas

Para professora da PUC, que lança livro sobre como sair das bolhas, avançamos tecnologicamente, mas não eticamente

A professora da PUC Pollyana Ferrari, que pesquisa comportamento online
A professora da PUC Pollyana Ferrari, que pesquisa comportamento online - Bruno Santos - 22.mai.2015/Folhapress
Thaiza Pauluze
São Paulo

Quantas agências de checagem seriam necessárias para driblar as fake news que vão chegar aos 140 milhões de brasileiros antes das eleições em outubro? A jornalista e professora da PUC-SP Pollyana Ferrari perguntou e respondeu: “Hoje existem só três no país, mas nem 3.000 dariam conta”.

Ferrari lançou, nesta quarta-feira (18), o livro “Como Sair das Bolhas” (176 páginas, R$ 36,00, editora Educ e Armazém da Cultura), na Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, na avenida Paulista.

Para ela, diminuir o impacto da propagação de notícias falsas depende de um sistema educacional melhor, que forme pessoas capazes de discernir fontes confiáveis de notícias deliberadamente mentirosas.

Mas não só isso. “Já ouvi gente falando ‘eu não quero sair da minha bolha, eu gosto dela’. O Facebook escancarou que não é todo mundo que tem a ética bem nutrida”, disse a pesquisadora. “Avançamos tecnologicamente, mas não eticamente.”

"É que a gente não gosta do que não é espelho", parafraseou a também professora da PUC Lucia Santaella, na conversa pré-lançamento. “Inclusive quem tem capacidade crítica acaba por aderir às bolhas. Elas agradam nosso intelecto. E até essa semioticista de meia-pataca já compartilhou fake news.” Ela fez um mea-culpa: “Não tomei o devido cuidado de checar”.

Ensinar a checar tem sido o objetivo de Bárbara Libório, repórter da agência de “fact-checking” Aos Fatos, e de Leandro Beguoci, diretor da revista Nova Escola. “Quando começou em 2015, a Aos Fatos fazia checagem apenas de discursos de agentes públicos. Mas hoje checamos frequentemente as fakes news”, disse Libório, que admite não dar conta de conferir tudo que ronda o debate online.

Segundo ela, a tecnologia impulsiona a propagação de notícias falsas, mas pode ajudar também a combatê-las. “Estamos orientando os leitores a ligar o sinal vermelho ao ver esse tipo de conteúdo.”

As dicas são simples: conferir a data da publicação, se o texto está carregado de opinião e adjetivos e não tem assinatura do jornalista, por exemplo. “Não é estimular o cinismo, mas sim que as pessoas sejam céticas e não compartilhem sem checar”, afirmou.

Beguoci atua nas escolas tentando diminuir a desinformação. “Algumas fakes news têm impacto real no ambiente escolar, como as insanidades divulgadas sobre a Escola Sem Partido [movimento dos que criticam uma suposta 'doutrinação ideológica' de parte dos professores].”

Para ele, nem todo mundo quer saber a verdade e prefere ficar com a mentira, mais confortável. "O Flavio Dino [governador do Maranhão, pelo PC do B] dizia que o estado era o que pagava melhor os professores. Nós checamos e eles pagam melhor sim, mas só 7% dos docentes", disse. "Nos acusaram de bater na esquerda.”

O desafio é diário para Libório. “Se falamos do Lula, somos de direita. Se checamos o Aécio, somos um bando de esquerdista”, contou a repórter do Aos Fatos.

Quando o assunto é distribuir fake news sobre o adversário eleitoral não tem espectro político que saia ileso, para o professor Eugênio Bucci, da Universidade de São Paulo. “Tanto partidários do Lula quanto do Bolsonaro propagam propositadamente notícias para enganar o público”, afirmou.

Mas, segundo Bucci, um estudo feito nos Estados Unidos mostrou que a direita é mais vulnerável a acreditar nas fakes news. “Surtia mais efeito nos possíveis eleitores do Donald Trump, do que nos da Hillary Clinton.”

O professor não sabe se pode aplicar a mesma teoria no Brasil em  2018, mas, para ele, não há dúvida de que as notícias falsas vão influenciar decisivamente o debate eleitoral.

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