A cúpula do PT acusou a TV Globo de pressionar o STF (Supremo Tribunal Federal) a se posicionar contra o habeas corpus apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de incitar um golpe militar.
Em nota divulgada na manhã desta quarta-feira (4), a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), e os líderes da legenda no Senado, Lindbergh Farias (RJ), e na Câmara, Paulo Pimenta (RS), referiram-se à atuação da emissora como escandalosa e criticou também o Judiciário e o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas.
“É escandalosa a pressão da Rede Globo para que o Supremo Tribunal Federal negue ao ex-presidente Lula o direito constitucional de se defender em liberdade da condenação ilegal e injusta, sem crime nem provas, imposta por Sérgio Moro e agravada em decisão previamente combinada da 8ª Turma do TRF-4”, diz trecho da nota.
Os petistas criticam especificamente a edição de terça-feira (3) do Jornal Nacional, que encerrou com a leitura de publicação de Villas Bôas no Twitter.
Sem citar o julgamento do habeas corpus de Lula, Villas Bôas disse que repudia “a impunidade” e escreveu que o Exército está ainda “atento às suas missões institucionais”, sem detalhar o que pretendeu dizer com a expressão.
A mensagem foi lida na íntegra no telejornal.
Procurada, a área de comunicação da Globo afirmou que a emissora continuará a dar informações mesmo que elas contrariem partidos.
"A nota do PT cita a Globo, mas na verdade reflete a contrariedade do partido com toda a imprensa, inclusive a Folha de S.Paulo, que publicou matérias sobre o HC de Lula com conteúdo similar ao do JN e em tamanho proporcional às do telejornal", afirma a nota da emissora.
"Com uma diferença: enquanto o JN publicou a nota do general Villas Bôas como última nota (porque a informação chegou ao final da edição), a Folha, em sua edição impressa e online, optou por dedicar-lhe a principal manchete."
O comunicado diz, por fim: "De toda forma, a despeito de contrariar os interesses desse ou daquele partido, o jornalismo da Globo vai continuar a informar os brasileiros de forma correta, independente e isenta".
O PT, em sua manifestação, escreveu que "a Globo quer repetir o que fez em 1964, quando incitou chefes militares contra o governo constitucional de Jango Goulart. E o faz agora para pressionar o Supremo. A Globo tem sido historicamente um veneno a democracia”.
Os representantes do partido seguem, então, criticando a manifestação do comandante do Exército.
“Não é natural da democracia que chefes militares se pronunciem sobre questões políticas ou jurídicas, como vem ocorrendo nos últimos dias. Mais estranho ainda é que uma manifestação do comandante do Exército, general Villas Bôas, em rede social, seja divulgada e manipulada no decorrer de uma edição do Jornal Nacional especialmente dedicada (23 minutos) a pressionar os ministros do STF”, critica a nota.
Na noite de terça, em entrevista à Folha, Paulo Pimenta, um dos signatários da nota desta quarta, havia classificado a manifestação como “muito serena” e que “reforça a defesa da Constituição”.
Na nota, os petistas dizem que, assim como defendido pelo general, “nós do PT sempre combatemos a impunidade e respeitamos a Constituição, inclusive no que tange ao papel das Forças Armadas definido na Constituição democrática de 1988”.
Os petistas dizem que a defesa da Constituição implica no reconhecimento da presunção de inocência e que esperam que este trecho da Carta Magna seja ratificado nesta tarde, durante sessão do STF.
O partido faz mais críticas na nota: “Colunistas amestrados da imprensa, porta-vozes do fascismo e até oficiais da reserva vêm brandindo a ameaça de um novo golpe militar contra o reconhecimento dos direitos de Lula. São as vozes do fascismo e da intolerância”.
Por fim, os petistas rechaçam o que chamam de “vetos autoritários a Lula”.
“A saída para a crise política, econômica e social está na realização de eleições livres e democráticas, com a participação de todas as forças políticas e sem vetos autoritários a Lula. E no respeito ao pacto político consagrado na Constituição de 1988. É este pacto, democrático, que o STF tem o dever de proteger”, encerra o PT na nota.
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