Em terra natal de Lula, manifestação reúne menos de 200 pessoas

Nas ruas de Garanhuns, porém, defesa do petista e críticas à sua condenação são quase unânimes 

Vinicius Torres Freire
Garanhuns (PE)

Foi pequena a manifestação de repúdio à ordem de prisão de Luiz Inácio Lula da Silva em Garanhuns (PE), terra onde ele nasceu. 

Não juntou mais de 200 pessoas no Largo da Colunata, centro comercial da cidade, muitos deles militantes de esquerda e do PT. Nos discursos, ataques à mídia, à criminalização da política, à politização da Justiça, ao “golpe” e elogios ao progresso material dos anos Lula.

Manifestante pró-Lula bloqueia com pneus incendiados estrada que liga Recife a Garanhuns, no município de Escada, em Pernambuco
Manifestante pró-Lula bloqueia com pneus incendiados estrada que liga Recife a Garanhuns, no município de Escada, em Pernambuco - Avener Prado/Folhapress

Mas, nas ruas, a defesa do ex-presidente e as críticas a sua condenação e iminente prisão eram grandes, quase unânimes. Advogados e comerciantes, trabalhadores rurais e do comércio, de usinas de açúcar e de hotéis, em geral falavam como naqueles depoimentos de campanha eleitoral na TV. 

Era comum a suspeita de que o processo do tríplex não passa de uma conspiração para que evitar que Lula fosse eleito uma terceira vez.

Lula tem culpa, corrompeu-se? Se “roubou”, nada que se compare aos milhões que levaram acusados na Lava Jato ainda soltos. O possível crime, menor, é de vez atenuado quando se recordam os feitos atribuídos ao governo do ex-presidente.

“Lula pode ter roubado um pouquinho, mas todo mundo rouba muito e ele foi o melhor presidente da história do povo. Votaria nele de novo, até presidiário. Esse Temer tira o aumento do salário mínimo para beneficiar rico banqueiro”. 

É o argumento de Agnaldo Mariano da Silva, 47, trabalhador de usinas de açúcar, ora e outra desempregado, que na tarde desta sexta bloqueava com pneus incendiados a principal rodovia entre Recife e Garanhuns, junto de outros moradores de Escada. Com um salário mínimo, sustentava mulher e quatro filhos.

O que Lula fez? “O povo nunca tinha tido um fogão de gás, luz, cisterna e agora tem até faculdade na cidade. Faculdade na capital era impossível”, diz o representante comercial Claudio Val Ferreira, 36, que trabalha nas cidades do agreste pernambucano. Ferreira afirma que “só os ricos da cidade e do país” querem a prisão de Lula, para evitar nova vitória do petista.

Pequeno grupo de manifestantes se reúne em praça de Garanhuns para protestar contra ordem de prisão expedida pelo juiz Sergio Moro
Pequeno grupo de manifestantes se reúne em praça de Garanhuns para protestar contra ordem de prisão expedida pelo juiz Sergio Moro - Avener Prado/Folhapress

Na manifestação, Jucineide Nogueira, 43, pede o microfone, chora e diz que sua história explica seu apoio a Lula. À Folha, conta que trabalhou “em casa de família” por 12 anos em São Paulo, voltou para Garanhuns no começo da década e se graduou em gestão ambiental na Unopar em 2015, profissão que exerce em Jucati. “Paguei eu mesma a faculdade, porque tinha emprego. Antes, a gente não tinha comida”.

A advogada Gisele Correa de Araújo Branco, 40, faz uma crítica jurídica ao processo de Lula e elogia o progresso das cidades onde trabalha, Garanhuns e Caetés (distrito de Garanhuns até 1963, onde Lula nasceu). Gisele já votou no petista, mas também em Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).  

“Desde o início, o processo era politizado, o que ficou ainda mais claro na primeira sentença e escandaloso na rapidez com que a segunda instância confirmou a condenação. Não acharam dezenas, centenas de milhões, como nos outros casos da Lava Jato e inventaram esse caso do tríplex como pretexto, uma jogada para ele não se eleger”, diz a advogada.

Comerciantes donos de lojas da redondeza são mais reticentes ao falar com a reportagem. “Sabe, aqui todo mundo tem conhecido empregado na prefeitura, em escola, é parente, a cidade é pequena. Isso pode pegar mal, de dar entrevista”, diz o dono de uma loja popular de artigos de casa.

“Lula roubou sim, ganhou um sítio dos empreiteiros, ganhou milhão de palestra. Mas roubar é coisa de todo mundo agora. Melhorar a vida do povo, que teve mais dinheiro para gastar, não vi ninguém melhorar como ele.”

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