Ex-presidente da Fecomércio-RJ encomendou dossiês a policiais

Preso na Lava Jato, Orlando Diniz recebeu dados restritos de ao menos três pessoas 

Italo Nogueira
Rio de Janeiro

O ex-presidente da Fecomércio-RJ Orlando Diniz, preso em desdobramento da Operação Lava Jato no Rio, fabricou dossiês com dados sigilosos com apoio de policiais civis, aponta investigação do Ministério Público Federal.

Diniz, que também presidia o Sesc-RJ e o Senac-RJ, recebeu por email e telefone informações de ao menos três pessoas com dados restritos aos servidores da área de Segurança do estado. Para a Procuradoria, os dossiês mostram "alto poder de infiltração, próprio de pessoas inseridas nas mais altas hierarquias de organizações criminosas".

O ex-presidente da Fecomércio-RJ Orlando Diniz, no dia da operação, em fevereiro
O ex-presidente da Fecomércio-RJ Orlando Diniz, no dia da operação, em fevereiro - Reginaldo Pimenta - 23.fev.2018/Raw Image/Folhapress

Diniz foi denunciado na terça-feira (27) sob acusação de lavagem de dinheiro, corrupção e participação em organização criminosa com o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), alvo da 22ª denúncia.

Não é a primeira vez que a produção de dossiês entra no radar da Lava Jato do Rio. Cabral já foi investigado por suspeita de encomendar a policiais o levantamento de informações sobre o juiz Marcelo Bretas e procuradores da força-tarefa da operação. A apuração ainda não foi concluída e o emedebista nega o fato.

Diniz recebeu informações sobre o filho de um empresário do setor imobiliário do Rio, de um advogado e de uma mulher sobre a qual há poucas informações. O MPF apura a razão das pesquisas.

A reportagem contatou duas pessoas pesquisadas, que disseram não ter qualquer relação com o ex-presidente da Fecomércio-RJ e não ter ideia da razão dos dossiês. Ambas pediram anonimato.

Em 2015, Diniz recebeu por email foto e dados do filho do empresário, como telefone, endereços, participação em empresas e pontos na carteira de habilitação. O documento foi enviado pelo delegado Marcus Drucker com o comentário: "Ou ele só estuda, trabalha com o pai ou vive às custas do pai". O delegado é atualmente corregedor do Detran, cargo que já ocupava na época.

Em janeiro deste ano, o empresário enviou fotos da placa de um carro para uma pessoa e recebeu como resposta dados completos do Detran e da Junta Comercial. A pesquisa acabou tendo como alvo um advogado, ex-presidente de autarquia federal. A Procuradoria não identificou a origem desta informação.
Também em janeiro, o celular de Diniz recebeu fotos da tela do Portal da Segurança (página acessível apenas por policiais do estado) sobre uma mulher. A Folha a localizou.

A imagem mostra que o acesso foi feito pelo perfil do policial civil Marcus Vinicius Cardoso de Carvalho.
Segundo a Procuradoria, Diniz usou o esquema de lavagem de dinheiro de Cabral para "esquentar" dinheiro desviado da administração do Sesc e Senac, que têm verba federal. Ao mesmo tempo, empregou nas entidades funcionários de Cabral ou parentes de seus operadores —muitos nem compareciam ao trabalho.

OUTRO LADO

André Nascimento, advogado de Diniz, afirmou que as investigações não apresentaram nenhum ato ilícito cometido pelo ex-presidente da Fecomércio-RJ. "Todas essas questões serão esclarecidas nos autos." A Folha procurou Drucker e Cardoso pelas assessorias de imprensa do Detran-RJ e da Polícia Civil, mas não obteve resposta.

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