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Julgamento de Azeredo não foi momento certo para questionar prisões, diz procurador

Antonio Pádova Marchi Júnior diz que se arrepende da situação, mas não do conteúdo de sua fala

José Marques
São Paulo

Dois dias depois de ter dito que o Ministério Público fica constrangido ao pedir prisão em julgamentos apertados, o procurador de Justiça de Minas Gerais Antonio Pádova Marchi Júnior se diz arrependido sobre o momento em que levantou o tema, mas não sobre o teor da sua fala.

Ele representava o órgão no julgamento dos embargos infringentes do ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB), condenado no caso do mensalão tucano por peculato (desvio de dinheiro público) e lavagem de dinheiro.

Pádova afirma que o pedido de prisão de Azeredo feito pelo Ministério Público está mantido e que, pelo entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal), o tucano deve ser preso após o esgotamento dos seus recursos no Tribunal de Justiça.

Por isso, contesta as críticas de seletividade e comparações entre os processos de Azeredo e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mas acrescenta que o pedido não muda o que falou após a decisão do tribunal. Para ele, há “um perigo para a democracia” no aumento da “força punitiva do Estado”. “Não podemos brincar com a liberdade, temos que ter essa percepção”, diz.

“Eu queria, diante do afã que teve a prisão, conscientemente puxar um assunto que vale a pena o debate pela imprensa”, afirmou à Folha nesta quinta (26), após sofrer críticas de outros promotores e procuradores e também de políticos. 

Os recursos de Azeredo foram negados, na terça (24), por três votos a dois pelos desembargadores da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Pádova diz que esperava um 4 a 1 e, quando saiu o resultado como 3 a 2, “adiantou um problema do Supremo”.

Pádova afirma não é "matéria pacificada" no STF a discussão sobre uma prisão automática ou não após o julgamento do mérito em segunda instância.

"O que eu gostaria de ter esclarecido foi que o início da execução traria dificuldade para esse caso concreto porque o Supremo ainda não se posicionou a respeito da automaticidade [da execução]”, disse.

A polêmica sobre Pádova começou após o julgamento dos recursos de Azeredo, quando ele disse à imprensa que "esse caso que fica em 3 a 2, sinceramente, o Ministério Público fica até constrangido. Como que eu vou começar o início da execução em segundo grau com um julgamento tão apertado desde o início do recebimento da denúncia?".

A denúncia contra Azeredo foi recebida por 5 votos a 3. Já sua condenação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais se deu por 2 votos a 1. 

Procurador de Justiça no Ministério Público de Minas, Pádova teve breve passagem pelo Executivo no início do governo Fernando Pimentel (PT). Foi subsecretário de Administração Penitenciária.

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